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COP16: Apenas 35 de 196 países mostram planos para ecossistemas

O balanço da primeira semana foi apresentado por Susana Muhamad, presidente da Conferência, e indica que negociações ainda estão em andamento

Susana Muhamad, presidente da COP16: "É o capital que vai permitir que países desenvolvidos avancem e que nações em desenvolvimento consigam financiamento para fazer mais". (Luis Acosta/AFP)

Susana Muhamad, presidente da COP16: "É o capital que vai permitir que países desenvolvidos avancem e que nações em desenvolvimento consigam financiamento para fazer mais". (Luis Acosta/AFP)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 28 de outubro de 2024 às 20h27.

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Ao fim da primeira semana da COP16, somente 35 países, entre 196 participantes, apresentaram seus planos de ações e estratégias para manutenção e recuperação dos ecossistemas. A informação foi divulgada por Susana Muhamad, ministra do meio ambiente da Colômbia e presidente da Conferência das Nações Unidas pela biodiversidade. Assustador em um primeiro momento, o dado na verdade é visto como indicativo de que negociações e estratégias estão apenas no começo e devem avançar até o fim da Conferência, no dia 1° de novembro.

De acordo com Susana, as nações tem avançado substancialmente, sobretudo ao trazer para a conversa, populações diretamente envolvidas na manutenção da biodiversidade, como povos originários. "Estamos materializando essa como a COP das pessoas. São mais de 23 mil credenciados para a Zona Azul e esta pode ser a maior participação da história, além de outras 40 mil pessoas na Zona Verde", explicou.

A Zona Azul fica em Yumbo, cidade ao norte de Cali. É o local onde acontecem as discussões oficiais entre países e seus representantes junto a especialistas e parceiros de desenvolvimento das estratégias. Ali, as reuniões acontecem a partir de 8h da manhã e não raro só finalizam tarde da noite. A Zona Verde, no centro de Cali, é o espaço de manifestações, eventos paralelos, discussões entre a população e apresentações culturais, com uma programação de dia inteiro.

Inger Andersen, diretora do Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente, foi otimista sobre primeira semana, considerando a evolução de uma agenda recém estabelecida, em 2022, durante a COP15 no Canadá. "Foram só dois anos desde Kunming-Montreal. E já estaríamos felizes com um menor comprometimento, por entendermos que metas difíceis nem sempre são atingidas. Mas o resultado foi surpreendente", celebrou, para ponderar em sequência que a velocidade com que a perda da biodiversidade vem acontecendo deve ser um motor para mais decisões favoráveis ao meio ambiente.

Líder do secretariado da Convenção da Biodiversidade, Astrid Schomaker contou que nas discussões oficiais se percebe muito interesse dos países na mobilização e contribuição referente aos fundos voltados à proteção dos ecossistemas. "Muitas negociações visam a criação de novos fundos de financiamento. E o importante é que o dinheiro chegue até as comunidades e agentes que precisam dele", salientou.

Macroeconomia na mesa

A ministra Susana Muhamad destacou também que dificuldades na economia global como dívida pública e déficit econômico foram um desafio a mais nas negociações, questões citadas em diversas discussões na COP16. "Importante lembramos que estes pontos não envolvem apenas os ministros do meio ambiente, mas também os líderes de macroeconomia. Pois é o capital que vai permitir que países desenvolvidos avancem e que nações em desenvolvimento consigam financiamento para fazer mais", conta.

Para a brasileira Andrea Alvares, especialista em sistemas regenerativos e conselheira do Instituto Ethos, olhar para financiamentos é de fato crucial e a principal forma de destravar muitos acordos. "Esse, para mim, é o principal ponto que ainda não está resolvido. Não só a alocação ou identificação desses recursos, mas como fazer com que eles cheguem na ponta com a velocidade e a governança adequadas", explica.

A executiva destaca, porém, que já é possível afirmar que o principal avanço nas discussões foi o reconhecimento de que as temáticas de biodiversidade, terras e clima são interconectadas - e que merecem mais atenção do que nunca. "Esses temas, que até então eram muito separados, provam em Cali que são interdependentes e, portanto, devem ser tratados assim", afirma.

Outro aspecto positivo para a Andrea é o reconhecimento, nesta edição da conferência, dos povos originários e sua relação com a manutenção da biodiversidade. "Essa consciência e a inclusão desses atores nos levam a um novo patamar do ponto de vista da agenda de conservação da natureza e soluções", reflete, numa visão similar a de David Canassa, CEO da Reservas Votorantim.

"Se pensarmos que há poucos anos ainda se discutia sob quais parâmetros íamos medir a perda e o avanço da biodiversidade, termos hoje 35 países com planos de ação estabelecidos é um passo enorme", lembra o executivo. Para ele, a segunda semana deve impulsionar algumas discussões, uma vez que é durante esse período que os líderes globais chegam à Conferência.

Nesta segunda-feira, 28, a COP16 já começou a receber lideranças globais e representantes do alto escalão de cada nação. O Brasil será representado por Marina Silva, ministra do meio ambiente e mudança do clima, uma vez que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não comparecerá por questões de saúde.

Acompanhe tudo sobre:COP16BiodiversidadeClimaPreservação ambiental

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