ESG

Como o Pacto Global da ONU no Brasil impulsionará equidade racial no setor privado

A ação, que também tem parceria a 99jobs, pretende aumentar vagas afirmativas e o número de lideranças negras nas empresas

Evento Raça é Prioridade do Pacto Global da ONU no Brasil
 (Fernanda Bastos/Exame)

Evento Raça é Prioridade do Pacto Global da ONU no Brasil (Fernanda Bastos/Exame)

No mês que é comemorado o Dia da Consciência Negra, o Pacto Global da ONU no Brasil assina, na figura de Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, o compromisso com o movimento Raça é Prioridade. A iniciativa é uma continuidade da Ambição 2030, lançada em abril deste ano, quando foram selecionados sete movimentos para acelerar as propostas da Agenda 2030 da ONU. O lançamento oficial da proposta aconteceu nesta quarta-feira, 23, em um evento no Museu de Imagem e Som (MIS) em São Paulo. 

Com o apoio do CEERT e da ONU Mulheres, o movimento se propõe a fazer um chamado às empresas brasileiras para entenderem a urgência e a necessidade de ações concretas com compromissos assumidos publicamente. Vivo, iFood, Unilever e Uber são algumas das empresas que já se comprometeram com a ação. Mas os objetivos são ambiciosos como, por exemplo, atingir mais de 1.500 empresas, capacitar mais de 200 mil pessoas negras em soft e hard skills e ter 15 mil pessoas negras em cargos de liderança até 2030. 

Assine a EXAME e fique por dentro das principais notícias que afetam o seu bolso. Tudo por menos de R$ 0,37/dia

Como dito pela autora e ativista política, Angela Davis, “não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. E o Pacto Global, com a 99jobs como embaixadora do projeto, propõe um novo movimento no status quo corporativo brasileiro, introjetando representatividade negra a fim de alcançar a salários, oportunidades e lideranças mais igualitárias entre negros e brancos.  

“Segundo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, nós precisávamos de indicadores de impacto. E o Pacto Global precisa fazer com que os ponteiros se mexam, continuando a mudança globalmente. Então, nós começamos a estabelecer, então, o que chamamos de iniciativas globais”, rememorou Carlo Pereira. 

Vagas afirmativas e guia para equidade

Além das ambições e metas gerais, o Pacto Global da ONU no Brasil aproveitou o evento para divulgar duas outras ferramentas que serão lançadas. O primeiro deles é a parceria com a 99jobs para criação de uma plataforma de vagas afirmativas para pessoas negras. A plataforma já está no ar, mas, será possível fazer parcerias com o Pacto Global a partir do dia 27 de novembro. Já o segundo deles, o Guia de Iniciativas para a Promoção da Equidade Racial e de Gênero, pretende dar suporte para as empresas que querem corrigir as disparidades sociais no ambiente de trabalho e estará disponível no dia 16 de dezembro.

 Sobre a postura da 99jobs, Priscila Salgado, Business Unit Coordinator Manager da companhia, compartilha: “O processo [de vagas afirmativas] é um convite para o cliente olhar junto para esses números, é mais uma proposta. Já para a pessoa candidata, tentamos incentivar que ela se enxergue da maneira que ela é. Que somos muito maiores do que esses espelhos que foram configurados para nos enxergar, além desses projetos coloniais e de violência que a gente vivencia todos os dias”.  

Leia também Balanço da COP27: 7 acordos firmados na ‘COP da implementação’

Plano de fundo de desigualdade

Segundo o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), 55,8% das pessoas negras ocupam apenas 4,7% dos cargos de liderança das maiores empresas do país. Esse dado só demonstra a disparidade racial que ainda é uma realidade estrutural no Brasil. Já de acordo com o IBGE, pessoas negras e pardas representam 75,2% da população com menores salários, enquanto os ganhos de mulheres negras é 159% menor que o de homens brancos com a mesma formação, afirma dados do Insper. 

“Essa iniciativa do Pacto Global tem esse potencial muito presente, de poder rever quando questões de recodificação, já que o DNA que está na base, é o racismo. Precisamos pensar a partir uma ideia de desenvolvimento e justiça econômica e socioambiental antirracista. Não é à toa que a própria Constituição Federal, no artigo 170, inciso 7, diz que a ordem econômica é fundada na livre iniciativa e tem como princípio a redução das desigualdades sociais e regionais. Não tem outra alternativa no Brasil, é preciso juntar as nossas instituições a partir dessa iniciativa, nessa ideia de um desenvolvimento de sociedade fundada a partir de uma justiça econômica. Para isso, raça é prioridade, precisa ser prioridade”, observa Daniel Teixeira, advogado e diretor executivo do CEERT. 

Belinda Brito, que participou do evento como palestrante, comentou sobre a necessidade de reafirmação e reapropriação dos espaços, tanto corporativos como culturais, por pessoas negras. “Toda a estrutura de negação da nossa identidade racial vem fortalecer um lugar que não nos pertence, por isso, romper os epistemicídio é fundamental".

Segundo ela, é preciso conhecer outras linguagens, outras identidades, por isso, raça é prioridade. "É preciso conhecer outras raças e outras culturas e outras manifestações culturais. Parem de matar a gente, porque a morte dessa necropolítica não é só a morte física, que nós somos também submetidos, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado neste país. Mas também falo da morte da negação da nossa cultura e da negação da nossa capacidade”, concluiu. 

Assine a newsletter EXAME ESG, com os conteúdos mais relevantes sobre diversidade e sustentabilidade nos negócios

Acompanhe tudo sobre:LiderançaONU

Mais de ESG

COP29: impasses no financiamento climático e agendas paralisadas marcam primeira semana

Mudanças climáticas agravam situação de refugiados e deslocados, aponta ONU

Após abandonar a COP29, Argentina reavalia Acordo de Paris

Proclamação da República: veja o funcionamento dos bancos nesta sexta-feira