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A vitória de Trump pode impactar nas metas de financiamento, NDCs e redução das emissões globais (Jim WATSON/AFP)
Repórter de ESG
Publicado em 6 de novembro de 2024 às 18h30.
Última atualização em 11 de novembro de 2024 às 07h17.
Deixando um legado de negacionismo climático e restrições ambientais em seu primeiro mandato, a eleição de Donald Trump nos EUA nesta quarta-feira (6) reacendeu um alerta ao planeta no que diz respeito ao combate à crise climática.
Às vésperas da Conferência do Clima da ONU (COP29) que acontece de 11 a 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão, a vitória do republicano poderia representar um sinal de enfraquecimento dos compromissos climáticos no país, que é o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.
Em seus quatro anos na presidência, Trump tirou os Estados Unidos do histórico Acordo de Paris, assinado em 2015 pelos 195 países membros da ONU que se comprometiam com a redução das emissões, e já sinalizou fazer o mesmo caso ganhasse a eleição. De 2017 a 2021, ele revogou mais de cem regras ambientais e enfraqueceu políticas cruciais para o futuro do planeta e da humanidade, além de se mostrar favorável ao setor altamente poluente de combustíveis fósseis.
Para os próximos anos, o novo presidente americano também reafirmou apoio à energia nuclear e parece ir na contramão da transição energética, propondo diminuir investimentos em fundos de proteção ambiental internacionais.
E claro, em uma COP marcada pelo tema do financiamento climático e com expectativa de um acordo que atenda a uma necessidade na casa de trilhões de dólares para ajudar países em desenvolvimento, a luta global contra a mudança climática e o avanço nas negociações são colocados em xeque, dizem especialistas ouvidos pela EXAME.Natalie Unstell, presidente do Talanoa, destacou que há sinais muito claros dos desafios desta COP no Azerbaijão, que acontece em meio a tensões geopolíticas e à própria eleição americana.
Segundo ela, embora os EUA sejam um ator muito importante na cúpula, governos e empresas devem deixar claro que estão lutando por um futuro melhor e não se alinhando com a agenda destrutiva de Trump. "Os líderes globais devem se unir. Não podemos permitir que a cooperação climática entre em um congelamento profundo. As principais economias e os maiores poluidores precisam redobrar seus esforços para mitigar os danos climáticos", disse.
Natalie diz que a grande expectativa para uma COP bem-sucedida é justamente por um acordo transformador para o financiamento do clima, com uma quantia definida "à altura do desafio" e incluindo metas para adaptação. Ao mesmo tempo, existe um temor de que não seja possível chegar a um consenso nas próximas semanas, e os próprios americanos já sinalizaram que querem dar o mínimo de recursos possíveis e não ter essa obrigação, reiterou.
"A crise climática permanece à nossa porta e a COP29 precisa entregar resultados. A necessidade de trilhões em financiamento não desapareceu, assim como a urgência de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e o imperativo da cooperação multilateral", destacou.
Para a especialista em política internacional, a responsabilidade está muito menos na mão dos negociadores e mais dos chefes de Estado e dos ministros, que terão que concordar dentro e fora da COP. "Como é que vamos confiar que um acordo seja cumprido pelos EUA? Ou mesmo quais americanos vão estar à mesa?", reflete.
Flávia Bellaguarda, diretora executiva da LACLIMA, também disse que a comunidade climática está atenta à vitória de Trump e que os principais movimentos serão percebidos já na COP29. "Na COP da biodiversidade na Colômbia, nós tivemos um posicionamento muito forte de barreiras de financiamentos vindos dos EUA e acredito que este novo governo deve mostrar a que veio na COP do clima, especialmente neste tema central", disse.
Segundo ela, o reflexo imediato da eleição na pauta é a necessidade de uma união maior do Sul Global e uma articulação mais estratégica com o Norte, para que o financiamento "não se esvazie"."Esperamos uma postura mais concreta de países desenvolvidos, mas com Trump, as expectativas estão bem baixas. O histórico desta gestão foi a saída do Acordo de Paris -- e espero que não se repita. É um sinal muito ruim para o mundo e talvez até abra um movimento para outras potências econômicas fazerem o mesmo", frisou.
E a falta de encaminhamentos e resoluções nesta COP devem também refletir na COP30 em Belém, em 2025, complementou Flávia, o que poderia acabar caindo na conta do Brasil. "Não somos o salvador da pátria da agenda climática e, na verdade, estamos vivendo uma crise de identidade grande como país, na dúvida se queremos investir em transição energética ou petróleo", afirmou.
De fato, um mau sinal vindo das negociações em Baku pode afetar o regime global como um todo, complementou Natalie. "Não existe vácuo na política internacional. Não existe isso de não acontecer nada e no ano que vem tudo se resolve. Isso pode deixar o Brasil com uma 'batata na mão'", acrescentou.
Por outro lado, Roberto Wack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú, disse que ainda é muito cedo para opinar sobre impactos já na COP29, com início no dia 11 de novembro. "Pode ser qualquer coisa, só especulação. O ideal seria esperar um pouco", acredita.