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Como a transformação da matriz elétrica brasileira está afetando a indústria eólica no Brasil?

Fonte foi protagonista na inserção de renováveis no país, mas agora enfrenta novos desafios

Energia renovável: expansão solar e eólica redefinem o setor elétrico no Brasil. (rparobe/Getty Images)

Energia renovável: expansão solar e eólica redefinem o setor elétrico no Brasil. (rparobe/Getty Images)

Publicado em 28 de novembro de 2024 às 14h00.

A expansão de energia renovável no mundo em 2024 foi essencialmente dominada pelas fontes solar (centralizada e distribuída) e eólica (onshore e offshore). Em linha com a tendência global, as fontes eólica e solar se tornaram cada vez mais competitivas no Brasil na última década, com um aumento significativo de sua participação na matriz elétrica do país.

Fonte: IEA – Renewable Energy Market Update - Outlook for 2023 and 2024

Ter à disposição fontes renováveis baratas parece ser um ótimo “problema” para viabilizar uma expansão do sistema ao menor custo possível e em linha com metas de descarbonização, sobretudo em um país que convive com o dilema de tarifas elevadas e energia barata. No entanto, isso trouxe também desafios como, por exemplo, o fenômeno conhecido como curva do pato, devido à entrada massiva de solares. Já a eólica, protagonista no início deste processo, passou a ter na solar um competidor à altura, impactando a sua indústria.

Se pelo lado da oferta houve uma mudança de paradigma com queda de preços das renováveis favorecendo a sua entrada, pelo lado da demanda, também ocorreu uma reversão de expectativa em função das crises econômicas que o Brasil vivenciou na última década. A demanda por energia elétrica foi diretamente afetada, pressionando os preços dos contratos e alterando a dinâmica dos leilões de energia.

Adicionalmente, com a frustração da demanda projetada, parte da energia contratada antecipadamente nos leilões não foi necessária no horizonte de entrega, gerando uma sobreoferta estrutural para o sistema, que trouxe uma série de efeitos colaterais.

Desafios atuais para expansão das renováveis no sistema elétrico brasileiro

Aspectos físicos

Além da "Curva do Pato", há outros dois aspectos físicos que constituem desafios: a falta de margem de escoamento e os cortes de geração renovável (curtailment). O primeiro refere-se à competição por conexão em regiões de maior potencial renovável. Já o segundo está ligado a falhas em equipamentos, congestão nas linhas de transmissão ou excesso de geração em relação à demanda.

Aspectos comerciais

Em termos de competitividade, o principal desafio é viabilizar novos projetos renováveis. A métrica mais utilizada, o Custo Nivelado de Energia (LCOE), considera os custos de construção e operação ao longo da vida útil da usina, porém não guarda relação com preços de mercado. Além disso, o LCOE tipicamente não incorpora hedges para as externalidades mencionadas acima, que podem representar um sobrecusto de mais de 20% para solar e até 5% para a eólica, ao longo do horizonte do contrato.

Indústria eólica

Parte dos desafios para as renováveis no Brasil é conjuntural, refletindo fatores comuns a todas as fontes, como a baixa demanda, sobreoferta do sistema e frustração com o crescimento econômico. No entanto, fatores estruturais da eólica, como a saturação dos melhores locais e menor expectativa de inovações futuras que reduzam custos, dificultam mais a sua situação. Por outro lado, a energia solar, com maior potencial inexplorado e custos cada vez mais baixos devido à oferta da China, tem se mostrado uma forte concorrente.

Perspectivas futuras

O cenário atual indica uma alteração profunda em algumas características do sistema, para o qual adaptações regulatórias estão em curso, porém grande parte do desafio de destravar investimentos guarda relação com a recuperação da demanda: sem ela, a probabilidade de alteração da situação atual é baixa.

Já para a indústria eólica, uma vez equacionada a falta de demanda, é possível vislumbrar alguma vantagem competitiva por ter uma cadeia de suprimento local estabelecida, e porque os riscos de modulação seriam menores em comparação com a solar, pelo menos no curto e médio prazos.

Com o desafio de equilibrar crescimento e descarbonização, as fontes renováveis deverão seguir como protagonistas na expansão, influenciando os preços de energia e gerando novos modelos de negócio. Como perspectivas futuras, novas tecnologias como baterias estão maturando no Brasil, sobretudo do ponto de vista regulatório, e, certamente estarão disponíveis em breve nos leilões de reserva de capacidade, sendo fundamentais para navegar este processo de transição energética.

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