Apoio:
Parceiro institucional:
Giovanna Meneghel, CEO da Nude: "Acreditamos que sustentabilidade só funciona se toda cadeia produtiva estiver engajada"
Repórter de ESG
Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 12h36.
Última atualização em 6 de fevereiro de 2025 às 13h04.
Fundada em 2020, a empresa aposta na aveia como matéria-prima para criar bebidas e outros alimentos plant-based e nasceu com a missão de ser neutra em emissões. Seu nome, Nude, não surgiu à toa: vem de transparência, algo que a marca quis deixar claro ao consumidor desde o primeiro dia -- ao 'não esconder nada' sobre seu impacto ambiental e climático.
"Acreditamos que sustentabilidade só funciona se toda cadeia produtiva estiver engajada. Desde o início, calculamos a pegada do produto, do campo até a prateleira do supermercado. E hoje, ampliamos a análise para o ciclo completo, incluindo o pós-consumo", disse em entrevista exclusiva à EXAME, Giovanna Meneghel, CEO da Nude.
Natural do Paraná, a empreendedora contou que a ideia do negócio de impacto surgiu após morar um tempo com seu marido em Berlin, na Alemanha. N época, em 2017, ele havia ido para o país para trabalhar em uma fintech. Pensando em se ocupar, Giovanna fez um curso de culinária vegana e se aproximou deste universo que, até então, era bem distante da sua rotina no Brasil.
"Eu brinco que Berlim foi um grande detox em vários aspectos, na parte de sustentabilidade e alimentação. Eu mudei muito minha relação com a comida e a forma que consumia. Nós também percebemos um movimento de aveia muito forte acontecendo por lá", disse Giovanna.
Em 2019, a dupla começou a pensar em empreender e percebeu que havia uma grande oportunidade em apostar na aveia no Brasil, visto que o insumo não era ainda muito explorado. "O que nós sabíamos era precisávamos estar alinhados com aquilo que acreditamos para o futuro: ser uma empresa B certificada", destacou Giovanna.
Após muito estudo e análise de mercado, a Nude nasceu em 2020, um pouco antes da pandemia de Covid-19. Hoje com 42 funcinários e em expansão, 57% das lideranças são mulheres.
Um dos segredos de todo propósito da marca vem da segunda pessoa a entrar no negócio, Mariana Spignardi, diretora de sustentabilidade. Segundo Giovanna, foi uma estratégia desde o 'dia um', visto que o ESG da empresa não poderia ser um setor isolado -- e sim estar integrado ao modelo de negócios.
Atualmente, 45% das emissões e pegada de carbono da Nude vem do campo e das práticas agrícolas. Em 2023, a foodtech decidiu investir na mitigação climática em vez de comprar créditos de carbono para a compensação ambiental.
Um dos focos é na cadeia de fornecimento e pensando nisso, promove encontros com parceiros para discutir a redução de impacto. Além disso, toda produção da aveia vem de produtores do Paraná e Rio Grande do Sul, seguindo rigorosos critérios de boas práticas, destaca a CEO.
É no Sul do Brasil que também fica localizada a fábrica, vista a abundância do insumo nestes Estados. Depois da fabricação do produto de baixo carbono, ele é colocado em embalagens recicláveis de Tetra Park, em São Paulo.
Dentro do esforço de reduzir as emissões, a Nude fez mudanças na logística para diminuir a pegada do transporte e diminuiu a distância entre fornecedores e pontos de distribuição. Um dos projetos pilotos é voltado a agricultura de baixo carbono e aposta em um furgão elétrico para realizar as entregas.
Além disso, as embalagens são 100% compensadas e fomentam a cadeia de catadores e cooperativas. "Sabemos que a reciclagem ainda é um grande desafio no Brasil, então investimos em ações para facilitar o descarte correto dos nossos produtos e fizemos parcerias para ampliar a coleta de materiais pós-consumo", contou Giovanna.
Visando entender como a Nude pode melhorar ainda mais a destinação de resíduos, o time também foi visitar cooperativas e ver de perto todo processo de economia circular.
O "S" do ESG também é um pilar da Nude, que vem realizando outros projetos sociais pelo Brasil. Um deles é o "Fazedores do café", uma iniciativa de apoio a capacitação de jovens em situação de vulnerabilidade para se tornarem baristas.
"Nosso envolvimento foi além do apoio financeiro. Acompanhamos de perto a turma, conhecemos as histórias dos participantes e vimos como a qualificação mudou suas vidas. Todos saíram do curso empregados", contou Giovanna.
Unindo inovação e impacto positivo, a Nude desenvolveu um cereal upcycling, fruto da descoberta de como reaproveitar os resíduos do processo de produção do leite de aveia.
"Quando vimos a quantidade de biomassa rica em fibra e proteína que era descartada, decidimos criar um novo produto. Isso reduziu o desperdício e melhorou nossa eficiência ambiental", disse Giovanna.
Sustentável e nutritivo, o cereal está disponível nos sabores baunilha e chocolate e foi premiado pela ONU durante a Conferência das Mudanças Climáticas (COP29) em Baku, no Azerbaijão, em novembro de 2024.A aceitação do alimento foi muito positiva e ele deve entrar no mercado neste primeiro semestre de 2025, contou a CEO, em primeira mão à EXAME. "É um produto rico em alto teor de fibras e proteínas e se encaixa na tendência de alimentação saudável que vem crescendo no Brasil. Também reforça nossa identidade como uma marca que aposta em soluções sustentáveis em toda a cadeia de produção", frisou.
Mirando o futuro, a empresa se diz otimista com a expansão e novos lançamentos para este ano. Em 2024, a categoria de leite vegetal cresceu 22% e os de aveia já são o terceiro tipo mais consumido pelos brasileiros.
O plano é continuar apostando na inovação e novas oportunidades para reduzir desperdícios, impactos e melhorar processos; "Acreditamos que ainda há muito a ser feito dentro do setor de alimentação plant-based", ressaltou Giovanna.
Em expansão recente para a América Latina, a Nude passou a também operar no Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai.
"Nosso objetivo é continuar crescendo, mas sem perder nossa essência. Queremos mostrar que é possível construir um negócio sustentável, financeiramente viável e com impacto positivo para o ambiente e a sociedade", finalizou.