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Cooperativa de catadores: executivos da Tetra Pak foram conhecer de perto o trabalho dos profissionais da reciclagem (Ambev/Divulgação)
Opinião
Publicado em 19 de agosto de 2024 às 08h33.
Minha experiência em temas ESG remonta a mais de 20 anos, todos eles dentro do setor privado e em multinacionais, com acesso a uma infinidade de relatórios, pesquisas e tendências tecnológicas de ponta, fundamentais para que projetos de sustentabilidade sejam construídos. Resumo: tenho o privilégio de receber, em primeira mão, boa parte de tudo o que há de mais novo e moderno nesta seara.
Mas, com a certeza que essas mesmas duas décadas me dão, nada traz mais resultado prático do que levar altos executivos e executivas, aqueles que detêm o poder de decisão, para conhecer de perto as realidades sociais e ambientais presentes na cadeia de valor do negócio. E, entenda-se por resultado prático planos, ações e financiamentos de projetos que saem do papel e ganham mais força após uma verdadeira experiência de “empatia corporativa”.
Não são poucas as pesquisas com C-level que mostram o interesse e a necessidade de incorporar estratégias ESG, em especial sociais e ambientais, nos negócios que conduzem. Seja por demanda crescente por parte de investidores, seja de consumidores finais, cada vez mais preocupados em gastar com produtos e serviços mais sustentáveis. Assim, tornam-se multiplicadores dessa preocupação, uma espécie de “patrocinadores” de uma maior responsabilidade corporativa e social.
Mas esses mesmos levantamentos também deixam claro a lacuna que ainda existe entre a vontade e a prática. Vamos a um deles: recentemente, os Princípios para a Educação em Gestão Responsável (PRME, na sigla em inglês) — iniciativa apoiada pelas Nações Unidas e que tem como objetivo elevar o perfil da sustentabilidade na educação empresarial — mostraram que apenas 15% das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estavam no caminho certo para serem cumpridas até 2030. E, especificamente no setor privado, apenas 51% dos CEOs acreditavam que as empresas poderiam desempenhar um papel fundamental nesses objetivos, mas somente com maior comprometimento e ação. Mas como conseguir esse comprometimento?
Claro que o conhecimento acadêmico e tecnológico é fundamental nestes casos, longe de dizer o contrário. Mas quero defender aqui que a experiência empírica pode ser a chave que completa essa trama. E posso dizer isso por experiência própria.
Recentemente, convenci toda a diretoria da Tetra Pak, inclusive seu presidente, a conhecer o trabalho de uma cooperativa de reciclagem em São Paulo. E, mais do que conhecer as instalações do local, como sempre fazíamos, todos colocaram a mão na massa, ou seja, ficaram por algumas horas na mesa de triagem de materiais recicláveis, separando embalagens cartonadas, latas de alumínio, plásticos, papel, papelão e toda a sorte de produtos descartados pela população e empresas.
Só nesse pequeno período, sentiram na pele o imenso trabalho que catadores e catadoras precisam enfrentar diariamente para poder trabalhar. Muitas vezes, falta estrutura — como equipamentos — mas, principalmente, há baixa conscientização da população em relação ao descarte seletivo. Ou todo mundo tem a ilusão de que o material descartado chega separado dos orgânicos, hospitalares ou minimamente limpo para evitar mau cheiro e proporcionar uma melhor condição de trabalho para as cooperativas? Não mesmo!
O resultado foi quase imediato: dentro da empresa, percebemos que o engajamento no tema sustentabilidade aumentou ainda mais, mas principalmente a aprovação de novos projetos, inclusive com mais recursos. Esse movimento ajudou a elevar, por exemplo, em 17% o nosso volume de caixinhas longa vida recicladas no ano passado, ultrapassando 100 mil toneladas e chegando a uma taxa de reciclagem recorde de quase 40%.
Confesso que essa “ferramenta” na Tetra Pak apenas alavancou algo que já fazemos há mais de 20 anos, e ter um grupo de executivos com a mente aberta para novos modelos e inovações também facilitou esse processo, mas, em outras empresas, isso pode ser o divisor de águas para o estabelecimento de uma estratégia ESG. Mas, definitivamente, a “empatia corporativa” que essa experiência provocou foi o grande diferencial de sucesso!
Por isso, eu realmente acredito que levar executivos de primeiro escalão, C-Level, de dentro ou até fora do país, no caso de multinacionais, para conhecer realidades sociais e ambientais que demandam ações concretas é o melhor caminho para que empresas avancem em ESG.
Valeria Michel é diretora de Sustentabilidade no Brasil e Cone Sul da Tetra Pak.