Todas Group e Pacto Global da ONU selecionam as seis vencedoras do prêmio ImPacto por TODAS (Ponomariova_Maria/Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 8 de março de 2022 às 07h30.
Última atualização em 11 de março de 2022 às 11h15.
A equidade de gênero, especialmente na liderança, tem sido um tema mais frequente nas empresas com atuação no Brasil, e gerado alguns resultados: segundo a pesquisa exclusiva da consultoria de recrutamento holandesa Randstad, as contratações de mulheres especialistas e líderes cresceu 168% em 2021 quando comparadas ao ano anterior.
Ainda assim o desafio é grande. Globalmente, de acordo com a consultoria Mckinsey, 48% dos cargos de entrada nas empresas são ocupados por mulheres, enquanto nos cargos de gerência e diretoria elas são 35%. Para cargos C-Suíte, o índice é ainda menor: 24%.
Para mudar o cenário e deixar de lado o fenômeno conhecido como "degrau quebrado", quando há equidade de gênero na base, mas não no topo, as companhias começam a entender que apenas boa vontade não basta. Para avançar, é preciso planos robustos que incluem desde treinamentos de vieses inconscientes para líderes até vagas específicas para mulheres e metas claras.
Na fabricante de alimentos PepsiCo, por exemplo, há a meta de ter 50% das posições de liderança ocupadas por mulheres até 2025, atualmente o número está em 47,6% -- o Comitê Executivo (C-Level) da PepsiCo no Brasil é composto por cerca de 60% de mulheres. Entre as ferramentas para o resultado, a companhia tem flexibilidade de jornada de trabalho, a fim de proporcionar o equilíbrio entre família e carreira, e o programa Doce Começo, que oferece licença maternidade/parental de seis meses, e mais.
Já na companhia química Basf a meta global para mulheres na liderança é de 30% até 2030. “Hoje, ainda há desafios, especialmente nas posições de gerência para cima, mas temos um acompanhamento próximo dos indicadores e ações contínuas para a diversidade e inclusão, especialmente desde 2018”, diz Karina Chaves, gerente de diversidade e inclusão na Basf.
Segundo a executiva, outro ponto a ser considerado é a interseccionalidade, levando em conta aspectos étnico-raciais, de orientação sexual e mais. Assim, o desafio é ainda maior quando se trata de mulheres negras, visto que poucas são as empresas com metas específicas para este contexto.
Para se ter ideia, uma pesquisa realizada pela consultoria Indique Uma Preta, em parceria com a Box1824, apontou que apenas 8% das mulheres negras brasileiras que trabalham no mercado formal ocupam cargos de gerente, diretora ou sócia proprietária de empresas e menos da metade das mulheres negras exerce trabalho remunerado.
Outro ponto de discussão que deve ser considerado nas companhias é o fim dos vieses em relação à maternidade. Ainda hoje, isto é muitas vezes um impeditivo para que se considerem mulheres em cargos de liderança.
“Propomos uma troca do OU para o E. Não é filhos OU carreira, é filhos E carreira. Trabalhamos para que a decisão de maternar seja única e exclusivamente da mulher, e não por medo da falta de acolhimento no seu ambiente de trabalho. Cabe às organizações colaborarem na desconstrução desses vieses repetidos na sociedade, entre eles o de que a mulher precisa justificar escolhas”, explica Michelle Terni, CEO da Filhos no Currículo.
Apesar dos desafios, o Grupo Natura &Co (Avon, Natura, The Body Shop e Aesop), se comprometeu globalmente a ter 35% de mulheres na alta liderança (vice-presidente e acima) e 50% no Conselho de Administração até 2023, bem como garantir paridade de gênero e remuneração igualitária entre toda a sua força de trabalho até 2023.
A boa notícia é que na América Latina já foi alcançada a marca de 51% de mulheres na liderança, referente aos cargos de diretoria e acima. Agora há o desafio de replicar este modelo nas demais regiões do mundo.
“Nos dá orgulho ter atingido a meta antes do tempo proposto. Seguiremos gerenciando os progressos e conquistando avanços de acordo com as particularidades de cada região", diz Andrea Alvares, vice-presidente de marca, inovação, internacionalização e sustentabilidade da Natura.
Para algumas companhias, a disparidade considera também questões salariais, visto que as mulheres seguem ganhando cerca de 30% menos que os colegas homens nas mesmas profissões, de acordo com pesquisa da economista Laísa Rachter, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Um bom exemplo neste sentido é do fabricante de bens de consumo Grupo Reckitt, onde no Brasil, foi constatado que a diferença salarial é de –22,7%, um número a favor das mulheres, uma vez que elas assumem funções mais sêniores do que o ponto médio masculino em relação à remuneração.
"O Brasil participou pela primeira vez do Gender Pay Report 2020 (Relatório de Remuneração por Gênero), que analisa a diferença no pagamento mediano e no bônus mediano entre todos os colaboradores do Grupo Reckitt em um país. Além disto, monitoramos os ratings de avaliação por gênero para entender se as mulheres estão tendo as mesmas oportunidades de promoção que os homens e corrigimos caso algo esteja fora do alinhamento. Aqui elas são 48% em posições de diretoria e acima", diz Raquel Carneiro, Diretora de RH LATAM da Reckitt Hygiene Comercial.
A pedido da EXAME, Amanda Aragão, head de atração e seleção da consultoria Mais Diversidade, indica alguns passos para traçar e alcançar a equidade de gênero nas companhias: