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Reeconstrução do RS foi tema de encontro do Clube ESG e reuniu especialistas e empresas na EXAME
Repórter de ESG
Publicado em 15 de outubro de 2024 às 18h29.
Última atualização em 17 de outubro de 2024 às 20h59.
Nenhum gaúcho esquecerá 27 de abril de 2024, quando no calendário de fatos marcantes na história do estado, entrou a data em que o Rio Grande do Sul foi acometido pela maior tragédia climática do Brasil. Desde o primeiro dia de chuvas intensas, um cenário de guerra se instaurou: as 497 cidades gaúchas foram impactadas, em maior ou média escala, pela pior enchente já registrada.
Municípios inteiros foram devastados, centenas de vítimas fatais registradas, um saldo de milhares de desabrigados pelas ondas que levaram também histórias e memórias - tudo em pouquíssimos dias, resultando porém em uma conta que levará anos para fechar. Passados seis meses da catástrofe, EXAME reuniu no 2º Encontro do Clube ESG lideranças que conduzem grandes marcas por caminhos responsáveis e cujo papel será crucial na reconstrução do Rio Grande do Sul.
Para contar mais sobre o panorama e estimular ideias e negócios, recebemos Lisiane Lemos, secretária extraordinária de Inclusão Digital e Apoio às Políticas de Equidade do governo do Rio Grande do Sul; e Léo Farah, cofundador da ONG Hummus e um dos maiores especialistas em desastres do país. O papo teve mediação de Lia Rizzo, editora de ESG da EXAME.
“Poucas vezes na vida você tem a chance de impactar 10% das pessoas em 497 municípios, e eu estava preparada para ajudar quando caiu a primeira gota de chuva. Naquele momento, todos começamos a nos preocupar seriamente”, contou Lisiane Lemos, natural de Pelotas e a segunda mulher negra a ocupar o cargo de secretária de Estado, que sentiu na pele a tragédia que assolou o lugar onde nasceu e cresceu. E como muitos gaúchos, entendeu e abraço sua missão para além de seu cargo.
A jornada da reconstrução
Ao ser indagada sobre o status atual, a secretaria lembrou alguns desafios anteriores à grande tragédia, mas que se intensificaram no cenário pós destruição, que foram fundamentais para entender como o poder público começaria a agir. "Não é possível pensar em reconstrução se ainda há pessoas passando fome. Também é preciso falar, antes de tudo, sobre letramento digital, pois a maioria dos recursos oferecidos está em formato digital e precisamos ensinar o básico de tecnologia”.
Com uma população longeva, mas cuja média de escolaridade é de apenas 5,5 anos , o Rio Grande do Sul se viu diante de situações como, por exemplo, apoiar moradores que não sabiam preencher um Google Forms ou usar de forma eficaz o WhatsApp, ilustrou Lisiane. Somou-se a ainda o fato de muitos terem perdido o celular ou computador nas enchentes.
A prioridade agora, ela explicou, é pensar em futuro e estímulo ao mercado de trabalho. "Estamos avaliando questionamentos como o que é preciso para manter as pessoas no Estado e evitar o movimento de migração? Como capacitar novos programadores e restabelecer economicamente a região?”, pontuou. "E embora exista um fundo de reconstrução, temos lançado mão de soluções criativas. Pois ainda há realidades onde a infraestrutura para acessar os recursos federais segue comprometida", completou a secretaria.
Antes e depois, educação e prevenção
Encarar os efeitos de eventos climáticos extremos será algo cada vez mais rotineiro, no Brasil e no mundo. "Nos resta saber como vamos nos adaptar a esse novo ambiente e clima", refletiu Leo Farah, que é também Capitão da Reserva do Corpo de Bombeiros e atuou nos resgates de Mariana (MG) e Brumadinho (MG). "Não podemos montar equipes de gestão de crise apenas após o desastre. Elas precisam estar preparadas previamente, com capital intelectual e emocional que só se acumula experienciando situações parecidas”, completou.
Leo estava fora do Brasil quando recebeu uma ligação sobre o que acontecia no RS e entendeu que precisava se deslocar para lá. O especialista explica que tecnicamente um desastre ocorre quando a demanda de emergência é muito maior que a capacidade de resposta. "Costumam dizer que o bombeiro é um herói. E, portanto, temos um inimigo, o tempo. O tempo é invencível, mas precisamos aprender a trabalhar com ele, sendo os mais rápidos possíveis”, destacou.
Tendo estudado e atuado também em operações complexas internacionais, Léo sustenta que também a reconstrução passa por planos de prevenção. Em países como Japão e Eestados Unidos, após grandes desastres, a população tem sido treinada como forma de minimizar vítimas. “Infelizmente no Brasil, ainda não há educação para desastres. Mas precisamos aprender com essas lições dolorosas e fazer disso uma política de Estado, não apenas de governos locais”, acrescentou.
Reconstrução da infraestrutura e da confiança
Em resposta às perguntas levantadas pelas executivas e executivos que compareceram o 2º encontro do Clube ESG, Lisiane contou que a muitas mãos, o Rio Grande do Sul segue trilhando sua reconstrução. A pelotense acredita que o Estado aprendeu muito com a situação. E concordou com Leo Farah, que a estruturação do plano de reconstrução se divide entre uma resposta emergencial para ajudar a população e um planejamento de um futuro com cidades mais resilientes.
“Não se trata só de reconstrução de infraestrutura física, mas precisamos também de autoestima. Temos trabalhado para lembrar ao povo gaúcho que existe vida antes e depois da chuva. Queremos resgatar o espírito empreendedor e aguerrido do povo, que é muito bairrista e lutador”, destacou.
A secretaria enfatizou ainda a importância do fomento ao empreendedorismo — sobretudo por 40% das pequenas e médias empresas serem lideradas por mulheres, público estatísticamente mais impactado nas grandes tragédias. “Precisamos diminuir o ‘vale da morte’. Hoje, desenvolvemos iniciativas focadas em ajudar pequenos empreendedores atingidos por desastres climáticos ou mulheres vítimas de violência”, acrescenta.
Por fim, Leo ponderou que um plano de prevenção é caro, mas que estudos apontam que cada dólar investido em prevenção significa de 7 a 10 dólares economizados na recuperação. E salientou mais uma vez, que apostar na educação pode ser crucial, visto que 50% a 70% dos resgates são feitos por pessoas da própria comunidade, não por bombeiros ou policiais.
Clube ESG EXAME
O clube ESG Exame é uma iniciativa que reune periodicamente, as lideranças que conduzem grandes marcas por caminhos socialmente responsáveis e em negócios de impacto. Esta edição teve apoio de Diageo, marca membro fundadora do clube, ao lado de O Boticário, PepsiCo, CBA e Caramuru Alimentos.