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Metrô em Dubai, durante a COP28 (Leandro Fonseca/Exame)
Diretora de ESG na EXAME
Publicado em 6 de dezembro de 2023 às 10h58.
Última atualização em 7 de dezembro de 2023 às 11h36.
De Dubai*
A COP28, Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas, entrou, nesta quarta-feira, 6, em seu sétimo dia, e foca nos temas de cidades e transportes. No evento, representantes da C40, a organização que engloba as 40 maiores cidades do mundo, mostraram que as cidades têm papel fundamental para que as diretrizes dos governos estaduais e federais sejam implementadas.
Além disto, a maioria das cidades que compõem a C40 já têm planos para atingir as metas do Acordo de Paris, e várias têm tido mais êxito do que os governos federais quando o assunto é o controle de emissões de gases causadores do efeito estufa.
Em um ano no qual os efeitos das mudanças climáticas foram tão sentidos, o tema da adaptação ganhou muito espaço na COP28, e os prefeitos reforçam que a infraestrutura precisa ser mais resiliente para a adaptação das cidades sobre os efeitos das mudanças climáticas.
Já no setor de transportes, um painel organizado pelo The Climate Pledge e a C40 mostrou que a demanda por frete deve triplicar até 2050 e, se nada for feito, o setor de logística pode ficar responsável por 16% das emissões globais de gases de efeito estufa -- isto é, o dobro em pontos percentuais quando comparados aos 8% de hoje em dia.
No painel citado acima, foi possível entender que a demanda nas cidades pela “última milha”, ou seja, a logística até a casa dos consumidores, deve crescer 78% até 2030. Isso resultará em um aumento de 36% no número de veículos comerciais leves nas 100 maiores cidades do mundo. Neste cenário, a eletrificação da frota urbana parece ser a única alternativa para conter as emissões de gases de feito estufa.
Outra interligação entre os temas cidades e transportes é em relação à eletrificação de ônibus, tema presente também em outros painéis ao longo da COP28. Além da redução das emissões, a eletrificação tem o potencial de reduzir drasticamente os custos e despesas operacionais dos operadores de ônibus, uma vez que o custo de combustível seria substituído por energia elétrica, e a manutenção é muito menor em veículos elétricos quando comparado aos veículos a combustão. O desafio da escalabilidade fica por conta do preço e da autonomia dos ônibus elétricos.
Em um painel na última segunda-feira, 4, Suzana Kahn, diretora geral da COPPE/UFRJ, comentou sobre os desafios e as oportunidades para que o Brasil tenha um sistema de transportes que emita menos carbono. Do lado da oportunidade, os biocombustíveis têm um papel importante na descarbonização, mas sozinhos eles não resolvem o problema.
Em um país com dimensões continentais como o Brasil e com uma matriz logística tão dependente da malha rodoviária, Suzana alertou que a solução não é apenas “trocar o combustível”. Para ter êxito, qualquer plano tem que envolver veículos, infraestrutura e uma rede capilar que garanta a disponibilidade de energia.
Já para veículos leves, Suzana alertou para o risco de o Brasil resistir à eletrificação. À medida que o mundo caminha para veículos elétricos, e as montadores têm focado seus investimentos de pesquisa e desenvolvimento nessa tecnologia, o país precisa estar aberto a essa ideia, sob o risco de ficar com fábricas e frotas sucateadas. De acordo com Suzana, os biocombustíveis deveriam ser direcionados aos veículos comerciais, pois existe uma grande demanda para isso e, no caso de leves, é preciso encarar a eletrificação.