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Indústria química no Brasil: programa de estímulo do governo pode destravar 57 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos, diz Basf (Germano Lüders/Exame)
Opinião
Publicado em 10 de setembro de 2024 às 07h00.
Última atualização em 4 de novembro de 2024 às 15h01.
A necessidade de uma economia de baixo carbono é urgente, uma vez que as temperaturas e emissões globais atingem níveis alarmantes. O relatório das Nações Unidas sobre a Lacuna de Emissões ressalta a necessidade de uma redução substancial nas emissões globais, sendo necessário esforço conjunto entre governos, empresas e sociedade civil para alcançar a neutralidade climática até 2050. De acordo com o documento, é imprescindível uma redução de 28% para limitar o aquecimento global a 2°C e de 42% para limitá-lo a 1,5°C. Dessa forma, é fundamental a implementação de ações efetivas para transformar a economia global.
O governo brasileiro assumiu o compromisso no Acordo de Paris de reduzir emissões de gases de efeito estufa em 53% até 2030, em relação aos níveis de 2005, como parte de sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês). O cumprimento dessa meta pode posicionar o país como líder no tema, estabelecendo-o como referência no desenvolvimento e oferta de produtos e soluções com baixa pegada de carbono.
A crescente preocupação com as consequências das mudanças climáticas tem levado a pegada de carbono a ser critério cada vez mais relevante na tomada de decisão de compra no mercado internacional. A produção de soluções verdes e tecnologias limpas será mais valorizada à medida que possam promover o desenvolvimento socioeconômico sustentável.
Isso abre uma janela de oportunidade única para o Brasil e para a indústria química nacional ser protagonista desse movimento. O país reúne as condições necessárias para produzir bens com pegadas de carbono menores do que os fabricados por seus pares globais.
O Brasil conta com uma condição ambiental privilegiada para a geração de energia elétrica majoritariamente limpa, com 84% de sua matriz proveniente de fontes renováveis, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. Isso representa mais que o dobro da média mundial, de quase 30%, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE). Dados do Banco Mundial estimam que a Floresta Amazônica poderia render R$ 1,5 trilhão por ano com a bioeconomia.
A AIE já projeta que o Brasil será responsável por 40% da oferta de biocombustíveis no mundo até 2028, graças à ampla disponibilidade de matérias-primas renováveis em nossos biomas, como a cana-de-açúcar usada para produzir etanol. A crescente disponibilidade de fontes renováveis, como o biometano, a energia eólica e solar, abre uma perspectiva positiva de evolução da química baseada no hidrogênio verde.
Essas vantagens, raramente encontradas em outros lugares do planeta, tornam os impactos ambientais de nossos produtos menores. Isto significa que o Brasil já está inserido na economia de baixo carbono.
No entanto, para que essas oportunidades sejam convertidas em novos negócios que beneficiem o meio ambiente, é fundamental que a indústria química assuma um papel central nessa agenda. O fortalecimento desse setor é essencial para impulsionar o mercado como um todo, uma vez que a indústria química é a base para diversas outras indústrias.
Alcançar um alto grau de desenvolvimento exige esforços em conjunto com o poder público. A criação do PROVER (Programa de Estímulo à Indústria Química Verde) pelo governo federal será um ponto de partida para a evolução do setor, com potencial de destravar mais de R$ 57 bilhões em novos investimentos nos próximos cinco anos.
Em razão de sua importância estratégica, a indústria química está alinhada com as aspirações de um mercado comprometido com o desenvolvimento sustentável. O Brasil, com seus atributos, pode se consolidar como uma potência verde global, e o setor químico brasileiro, considerado o mais sustentável do mundo, pode apoiar o país nesse caminho.
*Manfredo Rübens é presidente da BASF para a América do Sul