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O Rio de Janeiro chegou a bater 44ºC em 17 de fevereiro, temperatura recorde registrada desde 2014 (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Repórter de ESG
Publicado em 28 de fevereiro de 2025 às 12h07.
Última atualização em 28 de fevereiro de 2025 às 12h20.
Reflexo das mudanças climáticas, o calor extremo tem assolado o Brasil com temperaturas recordes e acende o alerta frente aos riscos à saúde.
Agora, um novo estudo pioneiro publicado na revista Science Advances revelou que o envelhecimento biológico é acelerado em cerca de 2,48 anos a depender da exposição a sensações térmicas acima de 32ºC -- além de aumentar os riscos de doenças e mortalidade.
A pesquisa analisou dados de 3.686 adultos com mais de 56 anos nos Estados Unidos e mostrou que as temperaturas elevadas podem alterar processos epigenéticos no organismo, acelerando o declínio do corpo.
Entre os principais resultados, os cientistas observaram que o "envelhecimento epigenético", medido por diferentes biomarcadores, foi significativamente maior em indivíduos expostos a mais dias de calor ao longo de um e seis anos . Em períodos mais curtos, como dias ou semanas, o efeito foi menos pronunciado.
A análise considerou os índices de calor, que combina temperatura e umidade para refletir como o calor é sentido pelo corpo humano.
Os dias quentes foram classificados em diferentes níveis, seguindo as diretrizes do National Weather Service (NWS) dos EUA: cautela (80-90°F ou 26,7-32,2°C), extrema cautela (90-103°F ou 32,2-39,4°C) e perigo (103-124°F ou 39,4-51,1°C).
Nenhum dos participantes viveu em áreas onde foram registrados dias no nível de perigo extremo (acima de 124°F ou 51,1°C).
Os dados de temperatura foram combinados com informações genéticas e de saúde dos participantes para medir o impacto do calor no chamado "relógio epigenético", um marcador molecular que indica a idade biológica das células.
"Nossos achados sugerem que o calor não afeta apenas o bem-estar imediato das pessoas, mas pode ter consequências a longo prazo na saúde e expectativa de vida", afirmam os autores do estudo.
Ao analisar fatores como idade, gênero, raça e nível socioeconômico, não foram encontradas evidências significativas de que determinados grupos sejam mais vulneráveis ao envelhecimento epigenético.
No entanto, a pesquisa destaca que adultos mais velhos já possuem menor capacidade de regulação térmica, o que pode amplificar os impactos da exposição prolongada .
Os cientistas também ressaltam que a crise climática deve agravar o cenário. Projeções indicam que, até 2050, mais de 100 milhões de americanos enfrentarão episódios frequentes de calor extremo, aumentando a pressão sobre os sistemas de saúde pública.
Segundo os pesquisadores, as descobertas devem orientar estratégias de mitigação dos efeitos do calor sobre a população, como melhorias no acesso ao ar-condicionado, investimentos em infraestrutura urbana para reduzir ilhas de calor e campanhas de conscientização sobre os riscos das altas temperaturas para a saúde.
"O envelhecimento acelerado induzido pelo calor reforça a necessidade de políticas públicas que protejam populações vulneráveis e minimizem os impactos das mudanças climáticas", conclui o estudo.