BV: linha de R$ 260 milhões para o financiamento de veículos menos poluentes (Banco BV/Divulgação)
Bianca Alvarenga
Publicado em 26 de julho de 2022 às 09h33.
Última atualização em 26 de julho de 2022 às 10h02.
A transição para um mundo descarbonizado vai, obrigatoriamente, passar pela mudança na forma com que nos locomovemos. Segundo números do Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros, em capitais como São Paulo, cerca de 70% da emissão de gases do efeito estufa vem do escapamento dos carros.
A pandemia agravou um problema que já era motivo de preocupação no país: a idade média da frota. Com a falta de veículos novos e o crescimento na venda de seminovos, a frota envelheceu ainda mais. Desde a década de 90 o Brasil não tinha tantos veículos com mais de 20 anos em circulação, o que potencializa os efeitos negativos da poluição.
Os números são só a ponta do iceberg, e mostram que a transição para um transporte mais limpo ainda tem um longo caminho pela frente, no Brasil. No entanto, nosso mercado conta com um importante aliado para o futuro verde: o etanol.
Especialistas são unânimes na visão de que, para nosso mercado, faz mais sentido que a transição para um mundo de menos carbono comece pelo etanol, ao invés do investimento exclusivo em veículos elétricos.
Segundo cálculos da Raízen, o etanol de nova geração, por exemplo, é menos poluente do que os veículos da Tesla (considerando todo o processo de produção do carro e da energia que move o motor). A montadora americana evitou a emissão de 3,7 milhões de toneladas de CO2 em 11 anos, metade do que o etanol brasileiro poupa em apenas um ano.
Mirando esse cenário, a International Finance Corporation (IFC), entidade ligada ao Banco Mundial, liberou uma linha de 50 milhões de dólares (cerca de 260 milhões de reais) para o financiamento de "veículos verdes" no Brasil. O parceiro escolhido foi o BV, antigo Banco Votorantim, um dos líderes na concessão de crédito automotivo do mercado.
"O Brasil tem a maior frota de veículos da América Latina, e o segmento de carros movidos a etanol e gasolina (os chamados flex) é quase exclusividade do mercado brasileiro", apontou Rogerio Santos, resonsável pela área de instituições financeiras para o Brasil da IFC.
A parceria, anunciada com exclusividade para a Exame, é parte de um portfólio de mais de 1 bilhão de dólares de ativos sustentáveis financiados pela IFC no país. Além do crédito para veículos verdes, a organização financia projetos de geração renovável, eficiência energética industrial e agricultura sustentável.
Segundo o BV, os recursos serão direcionados ao financiamento de carros elétricos, híbridos e flex. Hoje, 80% da carteira de 41 bilhões de reais de crédito automotivo do banco já é direcionada para a aquisição de veículos das três categorias, principalmente os flex. O objetivo é aumentar ainda mais essa parcela.
"A participação de híbridos e elétricos ainda é pequena, mas tem dobrado ano a ano", disse Rogerio Monori, diretor de atacado e tesouraria do BV.
Ele contou que o banco já compensa 100% de carbono relacionado à sua carteira de crédito de veículos – já foram compensadas 955 mil toneladas de carbono, segundo o executivo.
O plano é dobrar o volume de concessões de financiamento, chegando a uma carteira de 80 bilhões de reais em crédito para veículos até 2030. Os recursos do Banco Mundial são uma parte pequena desse todo, mas indicam a direção que a estratégia do BV deve seguir, em busca de metas mais sustentáveis.
Segundo Flavio Suchek, diretor de varejo do BV, os recursos serão concedidos já a partir deste ano e terão o mesmo custo das linhas tradicionais de financiamento veicular do banco. As taxas partirão de 0,69% ao mês, podendo alcançar a casa dos 2%, dependendo do perfil do cliente que solicita o crédito.
Ele contou que, no último ano, o tíquete médio dos veículos financiados pelo BV aumentou 50%, em razão da disparada dos preços de carros no mercado brasileiro. O aumento da idade dos modelos financiados também foi sentida pelo banco.
No entanto, a parceria com a IFC é mais uma das iniciativas do BV para atuar na redução de emissões de gases veiculares no Brasil. Recentemente, o banco anunciou uma linha de financiamento para 500 caminhões da rede de logística do Magazine Luiza – a contrapartida para a concessão do crédito, com taxas menores, era que os transportadores compensassem as emissões de carbono dos veículos.
Além disso, o BV anunciou que pretende ajudar o iFood na tarefa de ter pelo menos 50% da frota de motos movidas a combustíveis limpos ou a eletricidade até 2025. O banco ofereceu um subsídio para financiar motos elétricas para os entregadores.
"Temos uma meta ambiciosa de produção de ativos sustentáveis. Além dos veículos, temos outras frentes de captação, como a emissão de mais de 500 milhões de reais em CDBs verdes para o financiamento de instalação de paineis solares em residências e empresas", citou Monori.
A publicidade na TV com a atriz Regina Casé, interpretando a personagem Lurdes, da novela global Amor de Mãe, revela o desejo do BV de se mostrar aos clientes como um banco de varejo. Desde o início do ano, o lançamento de novos produtos, como a conta digital, cartão de crédito e crédito consignado aproximaram o banco de um público que ainda era praticamente desconhecido.
"Um ano atrás, 90% do portfólio do BV estava concentrado em veículos. Agora, a participação de novos produtos dobrou", contou Suchek, do banco.
Ele diz que o foco é criar um ecossistema de produtos que ajude a firmar um relacionamento mais duradouro com os clientes.
"Éramos um banco muito transacional, a maior parte dos clientes passava pela plataforma apenas para fazer pagamentos. Quando oferecemos mais serviços, melhora a qualidade do relacionamento com o cliente, e contribui para a diversificação dos negócios", finalizou o executivo.