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No Brasil, apenas 26% dos entrevistados confiam nas promessas ambientais feitas pelas marcas (AFP)
Repórter de ESG
Publicado em 22 de abril de 2025 às 13h51.
Última atualização em 22 de abril de 2025 às 13h54.
O Dia da Terra, celebrado nesta terça-feira, 22 de abril, busca conscientizar e mobilizar a população sobre a proteção dos recursos naturais. No entanto, apesar de ser um marco importante na luta pela preservação do meio ambiente, o cenário global mostra que ainda há muito trabalho a ser feito para transformar a conscientização em ação. A pesquisa “People and Climate Change”, realizada pela consultoria de mercado Ipsos, revela dados que apontam uma diferença entre as intenções das empresas e a percepção dos consumidores.
No Brasil, apenas 26% dos entrevistados confiam nas promessas ambientais feitas pelas marcas. Esse número está ligeiramente acima da média global, que é de 22%, mas ainda assim reflete uma desconfiança significativa. Tania Cerqueira, líder de ESG da Ipsos, aponta que esse ceticismo se deve em parte à falta de benefícios tangíveis e imediatos das ações sustentáveis.
Segundo ela, os co-benefícios — aqueles que são coletivos e de longo prazo, como o impacto positivo na biodiversidade ou a mitigação das emissões de carbono — não são atrativos para o consumidor, que geralmente busca resultados imediatos e individuais, como o sabor de um produto ou sua eficiência. “É importante lembrar que antes de ser sustentável, uma bebida precisa ser gostosa, e um produto de limpeza precisa ser eficiente,” explica Cerqueira.
Além disso, a falta de clareza nas ações das empresas também contribui para o ceticismo, pois muitas marcas não comunicam o que estão fazendo ou não oferecem informações concretas sobre suas práticas sustentáveis.
A conscientização climática no Brasil é alta, mas a conversão dessa preocupação em ação ainda enfrenta barreiras significativas. A pesquisa revela que mais de 70% dos brasileiros acreditam que os últimos dez anos foram os mais quentes já registrados, índice superior à média global de 61%.
No entanto, a experiência com o clima mais quente não se traduz necessariamente em ação climática, como observa Cerqueira. “Embora as pessoas estejam cientes do problema, fatores urgentes como inflação, violência e desemprego acabam ofuscando a crise climática,” explica ela.
Embora a percepção sobre a crise hídrica também seja preocupante, com 13% dos brasileiros acreditando que 70% da população mundial enfrentou escassez de água no último ano, a falta de um plano de ação claro também afeta a confiança nas políticas públicas.
O que é este tal de Mercado Livre de Energia?Tania Cerqueira observa que, apesar do aumento da preocupação com a crise, as ações do governo ainda são percebidas como insuficientes. “Eventos como a COP podem ser uma oportunidade para retomar a discussão sobre o tema e comunicar suas ações,” acrescenta a especialista, destacando que, apesar de 75% dos brasileiros acreditarem que o governo deveria fazer mais, a falta de iniciativas concretas e de comunicação clara ainda é um grande desafio.
O Brasil também enfrenta sérios desafios quando o assunto é a reciclagem do lixo eletrônico, com apenas 7% dos brasileiros acreditando que a maior parte desse lixo é tratado de forma sustentável. A percepção aponta para os desafios notáveis da infraestrutura de reciclagem, que ainda caminha no país. "A logística reversa ainda não está plenamente implementada em todo o país, e a falta de pontos de coleta é um problema, especialmente nas regiões menos urbanizadas," afirma Cerqueira.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) já prevê a responsabilidade dos fabricantes, mas ainda há uma falta de clareza sobre as responsabilidades de cada ator no processo. A conscientização sobre o descarte adequado também é baixa, com muitos brasileiros ainda desconhecendo os danos ambientais e à saúde causados pelo lixo eletrônico.
Embora os brasileiros esperem que as empresas (71%) e o governo (75%) desempenhem papéis cruciais na luta contra as mudanças climáticas, a falta de transparência nas ações empresariais e na comunicação sobre as políticas públicas mina essa confiança.
“As empresas precisam ser mais transparentes e educar os consumidores sobre o impacto de suas ações,” afirma Cerqueira, mencionando exemplos como a Natura, com seu pilar de regeneração, e a Vivo, que recentemente assumiu compromissos públicos com a sustentabilidade.
Em reviravolta, cidade que já foi mais poluída do mundo entra para a lista das mais verdes da ONUOs recentes eventos climáticos extremos, como as inundações no Sul do Brasil e as ondas de calor, estão fazendo com que a população reconheça o impacto direto da mudança do clima. “Os efeitos estão cada vez mais tangíveis, e as pessoas estão começando a perceber que isso afeta diretamente suas vidas,” observa Cerqueira.