Roberto Azevêdo, vice-presidente executivo e diretor de assuntos corporativos da PepsiCo, falou durante o Super Agro 2021 (Qilai Shen/Getty Images)
O futuro do agronegócio deve considerar o planeta e as pessoas, mas não deve deixar de lado o fator financeiro. Para Roberto Azevêdo, vice-presidente executivo e diretor de assuntos corporativos da PepsiCo, ao falar em sustentabilidade no agronegócio, é preciso avaliar a preocupação ambiental e a percepção exterior sobre a condução das ações ambientalistas nacionais.
Azevêdo participou de um debate no fórum "Super Agro Brasil 2021", evento organizado pela EXAME nesta quinta-feira, 8, e que reúne especialistas para debater os rumos do agronegócio no Brasil (veja a programação completa e os painéis acontecendo neste momento).
Para ele, a percepção do Brasil como país que preserva o meio ambiente está defasada mundo afora, e, para recuperar maiores chances de prosperidade e de acordos econômicos, o Brasil terá de contar com a participação ativa de governos federais, estaduais e da iniciativa privada. “Os recursos são nossos e precisamos preservá-los”, disse.
Azevêdo citou que o famoso refrigerante Pepsi representa apenas 15% da renda da corporação, e que é importante relembrar a participação da empresa entre os principais produtores de alimentos do mercado.
Também participou do painel Pedro Parente, presidente do conselho de Administração da BRF. Para ele, é preciso reconhecer que, apesar do contexto econômico e social da pandemia, o agronegócio superou as expectativas no último ano. Na opinião do executivo, o período sustenta o argumento de que sustentabilidade é uma das principais macro tendências para o agro do futuro. “A preservação tem um impacto gigante na lógica do comércio internacional”, diz. “Teremos avanços muito breve neste sentido”.
Em comum, os especialistas reforçam a importância da China para o mercado agropecuário nacional. O país asiático é o maior comprador de produtos agrícolas do Brasil, e foi responsável por 10% das exportações nacionais em 2020. Yang Wanming, embaixador da China no Brasil, falou sobre o tema em painel anterior do evento.
Também participou do painel Marcelo Britto, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG). Em sua fala, Britto afirmou que o principal problema relacionado à preservação ambiental se trata da governança. “Nosso maior desafio continua sendo o G do ESG”, diz. “Não precisamos de novas leis, mas precisamos fazer com que o regramento btasileito seja cumprido”.
Para Britto, o país também deve adaptar-se para cumprir seu papel no combate da curva ascendente da fome. Segundo a ONU, 34 milhões de pessoas sofrem com o problema no mundo, sendo 16 milhões apenas na América Latina.
Um dos principais entraves para o avanço do setor no Brasil é a situação cambial, segundo Azevêdo, da PepsiCo. A escassez de recursos, acentuada com a pandemia, também implica em desafios adicionais para o agronegócio brasileiro. “Além disso, temos desafios estruturais como o fato de não sabermos o que esperar da economia no pós-covid”, diz.
Sobre o aumento na produção e a preocupação com a preservação ambiental, um dos principais assuntos do agro brasileiro, Azevêdo afirma que a PepsiCo reconhece que uma das principais soluções está na agricultura regenerativa. “Teremos de produzir mais para atender à demanda, ao mesmo tempo que não expandimos a degradação”, diz. Para ele, isso só será possível com a ajuda da tecnologia.
Tornar áreas degradadas novamente em áreas produtivas é também prioridade para a Syngenta. "Entendemos que precisamos de mais tecnologia e ferramentas digitais”, disse Juan Pablo Llobet, Diretor Regional da Syngenta Proteção de Cultivos na América Latina e Brasil. Umas das principais apostas da empresa está no sequestro de carbono no solo.
Para Marcelo Junqueira, diretor da Sociedade Rural, na contínua evolução do setor, também cabe às repartições públicas ações concretas. Como exemplo, Junqueira cita o estabelecimento de um novo código florestal nacional. “O país teria mais segurança jurídica e maior transparência”, disse. “Enquanto acharmos que o interesse ambiental vem apenas das ONGS e não do estado e das empresas, não iremos avançar”.
Regularização fundiária é também um passo elementar para o agronegócio do futuro, reforça Parente. “Temos uma deficiência de atuação e presença do poder público em certas localidades do país. Precisamos inserir o produtor no modelo global do agronegócio antes de falar em sustentabilidade ou tecnologias disruptivas”, disse.