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Entre 2020 e 2023, os desastres climáticos tiveram uma alta de 250% no Brasil na comparação os registros da década de 1990 (Ricardo Stuckert/Presidência da República/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 17h16.
Última atualização em 17 de janeiro de 2025 às 17h37.
Um levantamento inédito do Greenpeace Brasil revelou que, nos últimos dez anos, o país destinou em média apenas 3,28% do orçamento federal do Programa de Gestão de Risco e Desastres para obras de prevenção e mitigação de catástrofes naturais.
Ao mesmo tempo, a maior parcela dos recursos, de 37%, foi alocada para ações de Defesa Civil, que incluem respostas emergenciais às crises climáticas e ambientais.
A pesquisa, divulgada nesta semana, avalia como a verba da Lei Orçamentária Anual (LOA) foi aplicada entre 2015 e 2025. Outro dado alarmante é a baixa priorização de sistemas de prevenção às crises climáticas: apenas 2,1% do orçamento foi direcionado para ações de monitoramento, sistemas de alerta e informações sobre riscos de desastres.
Para 2025, o cenário se mostra ainda mais preocupante. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) prevê um corte de R$ 200 milhões em relação a 2024, totalizando R$ 1,72 bilhão para o programa. A redução mais expressiva ocorreu justamente nas obras para prevenção de desastres, com um corte de 76,7%.
"A postura histórica do poder público brasileiro revela negligência em relação às ações preventivas, resultando em tragédias que poderiam ser evitadas", afirma Rodrigo Jesus, porta-voz de Justiça Climática do Greenpeace Brasil. Ele destaca a necessidade de priorizar áreas de risco, comunidades vulneráveis e favelas.
A distribuição do orçamento federal para prevenção de desastres reflete uma questão ainda mais profunda: a desigualdade social e racial na exposição aos riscos climáticos. Com apenas um quarto do orçamento (25%) destinado a sistemas de drenagem urbana e manejo de águas pluviais, as áreas mais vulneráveis - onde tradicionalmente vivem populações pretas, periféricas, indígenas e comunidades tradicionais - são as mais afetadas pela falta de infraestrutura adequada.
O cenário é especialmente crítico considerando que, segundo a Plataforma AdaptaBrasil, 80% dos municípios brasileiros não possuem capacidade para atuar preventivamente contra desastres naturais. Cerca de 8 milhões de pessoas vivem em áreas de risco geo-hidrológico, sujeitas a inundações, enxurradas e deslizamentos e mais de 55% das cidades têm sua população em situação de alta ou muito alta vulnerabilidade a desastres.
Entre as áreas mais afetadas pelos cortes na PLOA 2025 estão:
Por outro lado, houve aumentos em algumas áreas específicas, como monitoramento e alertas de desastres (47,7%) e mapeamento geológico-geotécnico em municípios críticos (108,8%).
Nos últimos dez anos, a distribuição do orçamento federal evidencia o desequilíbrio entre prevenção e resposta emergencial: apenas 8,4% foram destinados a obras de contenção de encostas em áreas urbanas, e somente 6,67% para estudos e projetos de contenção de cheias.
"Precisamos que as despesas primárias tenham compromisso com o enfrentamento ao racismo ambiental e promoção de justiça climática", defende Rodrigo Jesus, sobre a necessidade de priorizar as comunidades historicamente mais impactadas por eventos climáticos.
Enquanto o PLOA 2025 ainda está em tramitação na Comissão Mista de Orçamento do Congresso -- o que abre possibilidade para ajustes nas destinações -- especialistas e ambientalistas defendem a necessidade de revisar as prioridades orçamentárias, especialmente considerando o contexto atual de intensificação dos eventos climáticos extremos no país.
Entre 2020 e 2023, os desastres climáticos tiveram uma alta de 250% no Brasil na comparação os registros da década de 1990. Segundo a pesquisa, elaborada pela Universidade Federal de São Paulo e divulgada no último ano, a cada 0,1ºC de aumento na temperatura da superfície oceânica, houve um aumento de 584 registros de eventos extremos.