Carvão: o Programa para Uso Sustentável do Carvão Mineral Nacional pretende atrair cerca de R$ 20 bilhões em investimentos nos próximos 10 anos (Jason Lee/File Photo/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 11 de agosto de 2021 às 10h35.
Última atualização em 11 de agosto de 2021 às 12h22.
Por Mariana Durao, da Bloomberg
O Brasil ofereceu uma tábua de salvação para a indústria de carvão, apesar do alerta de cientistas mundiais de que os combustíveis fósseis devem ser eliminados para evitar os piores efeitos da mudança climática.
Na segunda-feira, o Ministério de Minas e Energia publicou detalhes de um novo programa para apoiar o setor de carvão até 2050 nos estados do sul do país, onde minas são as maiores empregadoras e usinas termelétricas fornecem capacidade de geração significativa.
O Programa para Uso Sustentável do Carvão Mineral Nacional pretende atrair cerca de R$ 20 bilhões em investimentos nos próximos 10 anos, segundo proposta publicada no site do ministério. Sob o programa, usinas a carvão precisariam ser modernizadas para torná-las mais eficientes e permitir que a eletricidade dessas geradoras seja vendida até 2050, quando o país planeja atingir a descarbonização completa do setor elétrico. Também inclui regimes fiscais especiais para o carvão e direcionamento de recursos públicos de pesquisas para o setor.
A proposta foi publicada no mesmo dia da divulgação de um relatório das Nações Unidas que atribuiu total responsabilidade pela mudança climática à atividade humana , como a liberação de dióxido de carbono que retém calor por meio da queima de combustíveis fósseis para gerar energia. O relatório precisa ser uma “sentença de morte” para o carvão e outros combustíveis fósseis, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.
No entanto, o consumo de carvão no Brasil é baixo, com volume queimado em um ano equivalente a três dias da quantidade na China. Ainda assim, o programa de carvão é o exemplo mais recente do descompasso do Brasil em relação a outras grandes economias no que diz respeito à mudança climática. O governo Jair Bolsonaro tem buscado atrair capital estrangeiro para setores como exploração de petróleo e investimentos na Floresta Amazônica.
Quase todas as reservas de carvão do Brasil, além de seis usinas com capacidade combinada de 1.572 megawatts, estão localizadas em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Uma redução drástica do uso de carvão teria impactos sociais e econômicos negativos para a região, segundo o relatório do ministério.