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BP se prepara para o fim do petróleo com energia limpa e nova estrutura

Em entrevista, o CEO Mario Lindenhayn explica por que a petroleira irá reduzir em 40% a produção e multiplicar por 10 os investimentos em renováveis

Transição energética deve aliviar tensões políticas e aumentar a autonomia dos países na definição de suas estratégias, diz Lindenhayn (Getty Images/Getty Images)

Transição energética deve aliviar tensões políticas e aumentar a autonomia dos países na definição de suas estratégias, diz Lindenhayn (Getty Images/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 10 de fevereiro de 2021 às 12h16.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2021 às 10h35.

O petróleo vai acabar? Na visão da BP, uma das maiores petroleiras do mundo, não. Mesmo assim, a companhia está preparada para um cenário sem o combustível fóssil. Desde o ano passado, está em curso na BP uma mudança estratégia que visa diminuir a participação do petróleo no portfólio, substituindo o negócio por energias renováveis.

Segundo o CEO da petroleira no Brasil, Mario Lindenhayn, a meta é diminuir em 40% a produção de petróleo, nos próximos 10 anos. Ao mesmo tempo, a BP vai aumentar em 10 vezes os investimentos em energia renovável, que irão de 500 milhões para 5 bilhões de dólares por ano.

Em entrevista exclusiva, Lindenhayn explica por que a petroleira tomou essa decisão e como fica o Brasil nessa história. O executivo participou do podcast ESG de A a Z, produzido pela EXAME. Confira alguns trechos da entrevista:

Qual é a dimensão da mudança em curso na BP e no setor de petróleo, em função da transição energética?

Estamos vivendo momentos interessantes. É uma das maiores transformações do setor de energia nas últimas décadas. Há um ano, a BP fez compromissos importantes e anunciou ao mercado que deixará de ser uma empresa de petróleo e passaria a se posicionar como uma empresa integrada de energia. Isso significa revisitar nosso negócio. Não sairemos de óleo e gás, mas teremos um portfólio mais rico e focado no crescimento das energias renováveis. Nesse sentido, nos comprometemos a reduzir em 40% a produção de petróleo e aumentar em 10 vezes os investimentos em energia limpa, de 500 milhões para 5 bilhões de dólares por ano.

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O que o Sr. diria para os céticos que duvidam das mudanças prometidas pelas petroleiras? Como provar que essa transição para além do petróleo é, de fato, uma realidade?

Eu entendo esse ceticismo, mas as empresas têm feito investimentos importantes. Fizemos uma análise sobre o quanto tempo cada tipo de energia levou para chegar a 10% de participação na matriz mundial. O petróleo levou 50 anos. O gás está aí há 100 anos e ainda não alcançou esse patamar. As renováveis têm mostrado uma curva inédita. Essa era a dúvida do passado, se as alternativas teriam fôlego. Isso aconteceu pela decisão de alguns grupos em investir, pela pressão da sociedade e pela queda nos custos.

Essas mudanças terão implicações geopolíticas? Como a BP analisa essa questão?

Eu acho que alivia as tensões geopolíticas. O petróleo que eu produzo no Brasil pode ser exportado para qualquer lugar do mundo. Já a energia solar produzida no país tem de ser consumida aqui. Ao descentralizar a geração de energia, você democratiza o acesso como nunca. Antes, o mundo dependia de alguns países produtores. O maior acesso às energias alternativas traz mais autonomia para os países desenvolverem suas estratégias energéticas e maior poder de escolha para os consumidores. Um exemplo disso é a Índia, um dos maiores importadores de petróleo e que não conta com o recurso natural. Com a energia solar e eólica, o país passa a ter opções.

Como essa transição afeta o Brasil?

Nossa visão é de que a produção de petróleo cresce na próxima década, para, em seguida, cair entre 10% e 50%, dependendo do cenário. No Brasil, 60% das reservas estão no pré-sal. São reservas competitivas e de alto valor agregado. Nós definimos que não vamos abrir novas fronteiras, ou seja, não vamos explorar petróleo em países que não estamos. Ao reduzir o volume, podemos nos concentrar nas reservas mais competitivas, e o Brasil se encaixa nessa estratégia perfeitamente.

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