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Graças às suas florestas, a Suzano tem uma emissão negativa de 5,8 milhões de toneladas de carbono, segundo levantamento da JGP (Ricardo Teles/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 20 de agosto de 2020 às 10h27.
Última atualização em 20 de agosto de 2020 às 11h44.
Ter um produto que atenda às necessidades do cliente sob medida é meio caminho andado para uma boa venda. Encontrar esse encaixe perfeito, no entanto, é complicado. Mas, às vezes, o universo conspira a favor do vendedor e facilita esse “match”, mesmo em situações pouco prováveis. É o que pode estar acontecendo entre a Suzano, fabricante de celulose, e algumas big techs, como Apple, Amazon e Microsoft.
O “match”, no caso, se dá no mercado voluntário de créditos de carbono. Nos últimos meses, algumas das maiores companhias do mundo fizeram compromissos de zerar suas emissões de carbono em uma ou duas décadas. Empresas de diversos setores se comprometeram, inclusive de mercados intensivos em carbono, como o de petróleo e de aviação. As grandes empresas de tecnologia se destacam pela ambição de seus projetos.
A Microsoft, por exemplo, se comprometeu a ser negativa em carbono até 2030. Isso significa capturar mais carbono da atmosfera do que emite. Com isso, ela espera, em 30 anos, compensar tudo o que emitiu desde 1975. Para atingir sua meta, a dona do Windows vai precisar investir em energia limpa, em tecnologias que capturam carbono e nos chamados serviços ambientais, que incluem a conservação de florestas e o reflorestamento. É aí que entra a Suzano.
No mesmo período, a empresa brasileira espera remover da atmosfera 40 milhões de toneladas de carbono graças às suas florestas. Esse volume pode ser negociado com outras empresas por meio do mercado voluntário de carbono. “Estamos considerando algumas possibilidades para monetizar esse carbono”, afirmou Walter Schalka, CEO da Suzano, à EXAME. Questionado se estaria em contato com alguma big tech, o executivo respondeu: “Muita gente está colocando metas ambiciosas. Temos créditos de carbono disponíveis e podemos negociar.”
Segundo um levantamento feito pela gestora JGP Asset Management, a Suzano tem, atualmente, uma emissão negativa de carbono de 5,8 milhões de toneladas por ano. Considerando um cenário em que o custo da tonelada seja de 60 reais, esse volume teria um valor de 1,2 bilhão de reais, o equivalente a 10% da receita líquida da fabricante de celulose em 2018 (último resultado antes da fusão com a Fibria).
O potencial da Suzano no mercado voluntário de créditos de carbono é ampliado pelo fato de trabalhar com florestas. Em seus compromissos, Apple, Amazon e Microsoft destacam que vão buscar compensar suas emissões, primariamente, com serviços ambientais, como reflorestamento e o sequestro de carbono no solo, obtido pela recuperação de terras degradadas. A indústria de papel e celulose faz tudo isso. É uma oportunidade, também, para outras empresas do agronegócio brasileiro, como as sucroalcooleiras.
Amazon, Apple e Microsoft devem gerar uma demanda adicional de 60 milhões de toneladas de carbono, nos próximos anos.
Existem duas maneiras de vender créditos de carbono: no mercado regulado e no voluntário. O primeiro, como diz o nome, depende da implementação de regulações pelos governos. O Acordo de Paris prevê a criação de um mercado global, mas, para isso, é preciso regulamentar o artigo 6 do acordo, que trata dessa questão. A expectativa era de que isso ocorreria na próxima conferência do clima da ONU (COP), que seria realizada em dezembro no Reino Unido. A conferência foi adiada para 2021 em função da pandemia.
A outra maneira é no mercado voluntário. Empresas que reduzem suas emissões podem certificar seus projetos e vender os créditos a companhias que precisam compensar. Esse é um mercado em crescimento, que, em 2018, atingiu globalmente um volume de 300 milhões de dólares, de acordo com um levantamento da Ecosystem Marketplace, plataforma que monitora os serviços florestais. O Brasil, por suas florestas, é considerado uma potência no setor de carbono.
Na visão de Schalka, o mercado de carbono pode ser a solução para resolver os problemas da Amazônia. A partir da regulação do artigo 6 do Acordo de Paris, o governo brasileiro poderá trazer recursos apenas por manter a floresta em pé. “Fizemos um levantamento que aponta um potencial de gerar 10 bilhões de dólares anuais somente com a eliminação do desmatamento ilegal”, afirma o executivo. “Resolve todos os problemas na região e quem paga a conta é o mundo desenvolvido.”