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Ameaçada de extinção, palmeira-juçara ganha nova chance em reserva natural no PR

Projeto da Fundação Grupo Boticário prevê mais 8 hectares para o plantio da espécie, com um aumento de 61% na área; desde 2009, foram dispersadas cerca de 94 mil sementes em 13 hectares

Palmeira-juçara: projeto no litoral paranaense contribui para a recuperação e preservação da Mata Atlântica (Fernando Carvalho/Fundação Grupo Boticário)

Palmeira-juçara: projeto no litoral paranaense contribui para a recuperação e preservação da Mata Atlântica (Fernando Carvalho/Fundação Grupo Boticário)

Paula Pacheco
Paula Pacheco

Jornalista

Publicado em 13 de setembro de 2024 às 07h30.

Recentemente, o MapBiomas divulgou um grande levantamento em que mostra as perdas de áreas dos biomas brasileiros entre 1985 e 2023. A perda de vegetação nativa na Mata Atlântica foi de 10% (3,7 milhões de hectares) em 39 anos, com as formações florestais saindo de 28% para 26% do bioma. Já as atividades florestais passaram de 63% para 65%.

Uma das espécies nativas da Mata Atlântica é a palmeira-juçara (Euterpe edulis), ameaçada de extinção e protegida por leis, que tem recebido uma série de cuidados para se desenvolver na Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba (PR).

Em 2024, 8 hectares da Unidade de Conservação, criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, devem contar com mais palmeiras. Desde 2009, foram dispersadas cerca de 94 mil sementes em 13 hectares da Reserva Natural Salto Morato. Ou seja, a área total aumentará em 61% neste ano. Na área. foram identificadas até agora 324 espécies de aves, 36 de répteis, 102 de mamíferos, 54 de anfíbios, 69 de peixes e 693 de plantas.

Projeto da Fundação Grupo Boticário ajuda na expansão do palmeira-juçara em parque no litoral do Paraná mata atlántica reflorestamento

Parceria: a jacutinga come o fruto da palmeira-juçara em reserva natural e ajuda na dispersão das sementes (Fernando Carvalho/Fundação Grupo Boticário)

As aves também ajudam no desenvolvimento da palmeira, já que se alimentam dos seus frutos. É o caso da jacutinga (Aburria jacutinga), ave ameaçada de extinção que come os frutos e ajuda a dispersar as sementes da planta. Com isso, a juçara contribui para o crescimento de outros tipos vegetações no entorno, pois as aves “espalham” sementes de outras espécies enquanto comem.

Além do papel ambiental, o fruto da juçara tem importância econômica. A polpa é parecida com a do açaí, assim como a espécie amazônica, e pode ser fonte de renda para produtores.

Importância

Criada em 1994 e mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, a Reserva Natural Salto Morato fica em Guaraqueçaba, litoral norte do Paraná, e está inserida na região da Grande Reserva Mata Atlântica, que abriga o maior remanescente contínuo do bioma no país. A unidade de conservação (UC) tem uma área protegida de 2.253 hectares.

Ameaçada de extinção em decorrência do corte excessivo e predatório que houve no passado em toda a Mata Atlântica, a juçara é um foco de conservação para nós”, diz biólogo e gerente da Reserva Natural Salto Morato, André Zecchin.

Ainda segundo o biólogo, tem sido feito o enriquecimento com palmeira-juçara de trechos de floresta que, antes da criação da reserva, foram degradados pela criação de búfalos dos antigos proprietários.

“Nos trechos mais críticos de desmatamento, os esforços foram direcionados ao plantio de espécies nativas frutíferas e na condução da regeneração natural, importante técnica de restauração que leva em conta a resiliência local”, detalha Zecchin.

A conservação de espécies vegetais, como a juçara, é classificada como uma Solução Baseada na Natureza (SBN) quando se leva em consideração o potencial das florestas em contribuir com a regulação do fluxo de mananciais hídricos e regulação climática.

Extração predatória 

A palmeira-juçara, diferentemente da palmeira-pupunha (Bactris gasipaes), morre se for feito o corte para a extração do palmito. O hábito fez com que ela entrasse para a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção do Ibama, o que resultou, com o passar do tempo, na criação de medidas legais protetivas, de fiscalização e educação ambiental.

“Ao retirar o palmito da pupunha, outro caule volta a crescer em menos de dois anos e pode ser retirado novamente. Já a juçara leva mais de dez anos para chegar no ponto de corte, além de morrer quando o palmito é extraído. Ou seja, o corte ilegal e predatório desencadeia um desequilíbrio ecológico e dificulta a manutenção da espécie”, compara o biólogo.

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