Apoio:
Parceiro institucional:
(iStock/Reprodução)
Professor da Faculdade Exame
Publicado em 31 de janeiro de 2025 às 05h00.
O ano de 2025 começa com um cenário desafiador para a agenda ESG, especialmente em mercados historicamente influentes, como os Estados Unidos. A eleição de Donald Trump, que rapidamente reforçou sua postura anti-ESG ao retirar o país do Acordo de Paris e enfraquecer incentivos à transição energética, exemplifica a crescente politização do tema.
Por outro lado, enquanto empresas americanas recuam de compromissos climáticos e de diversidade, a pauta ESG parece estar entrando em um estágio de amadurecimento mais sólido no restante do mundo.
O termo ESG, muitas vezes associado ao marketing superficial ou ao “politicamente correto”, está sendo reavaliado.
O momento pede que as organizações deixem de encará-lo como uma tendência ou um rótulo e passem a considerá-lo como um componente indispensável da gestão de riscos e da governança corporativa. Essa mudança de perspectiva já era inevitável, mas o contexto atual a torna urgente.
Nos últimos anos, o ESG se consolidou como um paradigma de investimentos e gestão corporativa. Entretanto, a primeira onda de adesões foi marcada por promessas infladas e práticas questionáveis, resultando em acusações de greenwashing e no desgaste do termo.
O amadurecimento da agenda agora passa por uma abordagem mais pragmática, que reconhece que riscos ambientais, sociais e de governança estão diretamente ligados à resiliência e à longevidade dos negócios.
Um exemplo é a regulação mais rigorosa que começa a emergir em grandes mercados, como o europeu e o britânico. No Reino Unido, por exemplo, novas diretrizes de classificação de fundos sustentáveis devem entrar em vigor até abril de 2025, limitando o uso de termos como “sustentável” e impondo mais transparência por parte das empresas.
Isso demonstra que as exigências institucionais e jurídicas não apenas continuarão, como serão intensificadas, criando incentivos para empresas alinharem suas práticas aos princípios ESG.
No Brasil, onde o debate ainda sofre influências do contexto político polarizado, a presença da COP30 em Belém reforça a relevância do país na pauta climática global.
Empresas como a Natura se destacam ao reafirmar publicamente compromissos ambiciosos com a proteção ambiental e os direitos humanos, mesmo em um cenário de pressão contrária. A Visão 2030 da companhia, que mira a regeneração ambiental e social, é um exemplo do tipo de posicionamento que será cada vez mais valorizado por consumidores e investidores.
A crise climática já representa uma ameaça concreta para diversas indústrias, desde o agronegócio até o setor de seguros. Da mesma forma, questões como desigualdade social, condições de trabalho precárias e violações de direitos humanos podem gerar danos reputacionais irreparáveis, litígios e perda de mercado.
Um caso emblemático é o do setor financeiro americano. Nos últimos meses, grandes instituições, como BlackRock e Goldman Sachs, deixaram alianças climáticas internacionais para evitar retaliações legais e políticas nos EUA. Apesar disso, esses mesmos atores continuam promovendo iniciativas sustentáveis fora do país, reforçando que o compromisso com ESG transcende fronteiras e pressões políticas.
No entanto, é preciso reconhecer que o ESG do futuro será diferente do ESG do passado. Em vez de iniciativas superficiais e discursos abstratos, as organizações que liderarem essa agenda terão que demonstrar seu impacto real. Isso inclui ações como a transição energética responsável, o incentivo à biodiversidade e a promoção de práticas empresariais que gerem valor para todos os stakeholders.
Por fim, 2025 também será um ano decisivo para testar o valor reputacional associado à agenda ESG. No mundo globalizado e hiper conectado, consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às práticas corporativas. Defender valores como a preservação ambiental e os direitos humanos não é apenas uma escolha ética; é uma estratégia competitiva.
Empresas que incorporam a agenda ESG de maneira consistente e transparente podem não apenas mitigar riscos, mas também conquistar vantagem competitiva em um mercado que exige coerência e responsabilidade.
E, mesmo diante de retrocessos políticos em alguns contextos, as exigências institucionais e a pressão dos stakeholders garantem que a agenda ESG siga sendo uma força transformadora no longo prazo.
O ano de 2025, portanto, será um divisor de águas. Nele, veremos quem realmente entendeu que a sustentabilidade é parte intrínseca da governança e quem apenas surfou a onda. Para estas últimas, o custo de ignorar os riscos será cada vez maior. Afinal, como afirmou a Natura em sua recente declaração, “nosso compromisso com a vida não aceita retrocessos”.