Apoio:
Parceiro institucional:
Enchente em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul (Ricardo Stuckert/Presidência da República/Divulgação)
Colunista
Publicado em 11 de junho de 2024 às 10h00.
A catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul não será, infelizmente, a última que veremos no Brasil. Os cientistas já estão cansados de alertar que os eventos climáticos extremos – é triste dizer – serão cada vez mais frequentes e intensos no país e no mundo inteiro, por culpa de nós mesmos, humanidade, que insistimos em correr para o abismo quando o assunto é meio ambiente.
Diante dessa realidade, não há alternativa: ou corrigimos a rota rápido ou já era. E quando esses eventos acontecem no meio urbano, como no caso de Porto Alegre e várias outras cidades do Estado, sabemos que os efeitos atingem de forma dramática os mais pobres. Deslizamentos de terra, enchentes, alagamentos, secas e ondas de calor são apenas alguns dos problemas gerados pelas mudanças climáticas nos municípios.
As cidades precisam se preparar com urgência. Não é simples nem se faz da noite para o dia – por isso é tão necessário que o planejamento urbano seja feito com base nos princípios de cidades resilientes e sustentáveis. Mas que caminhos existem para virar o jogo? Neste artigo, vamos falar de um deles: as Soluções Baseadas na Natureza (SbN).
As SbN são soluções que buscam proporcionar benefícios sociais, econômicos e ambientais a partir da própria natureza. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), entidade que criou a expressão, elas são definidas como “ações para proteger, manejar de forma sustentável e restaurar ecossistemas naturais e modificados, que abordam desafios de forma efetiva e adaptativa, promovendo o bem-estar humano e benefícios para a biodiversidade”.
Como exemplos de SbN nas cidades, temos os telhados verdes nos edifícios, jardins de chuva, agricultura urbana, parques e lagoas, espelhos d´água e restauração da vegetação em encostas ou margens de rios. Esse conjunto de ações contribui para aumentar a permeabilidade do solo nas cidades e assim facilitar a drenagem das chuvas, regular o calor e reduzir a possibilidade de erosão e deslizamentos.
“As SbN são centrais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e enfrentar as três crises globais de perda de biodiversidade, mudanças climáticas e poluição”, diz um relatório de 2022 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). “Elas podem fornecer múltiplos benefícios para as pessoas e o meio ambiente. Alguns desafios, como a mitigação das mudanças climáticas, não podem ser totalmente enfrentados sem a participação das SbN”.
No plano dos municípios, elas também cumprem um papel importante no combate aos efeitos de um modelo de urbanização que, além de ter sido ancorado na desigualdade, impermeabilizou grandes áreas e buscou conter a natureza, com canalização e mudança do curso de rios.
Segundo um estudo da Coalition for Urban Transitions, conduzido em parceria com o WRI Brasil, a adoção das soluções baseadas na natureza para infraestrutura básica, como saneamento e drenagem, é um dos itens de uma série de ações capazes de reduzir “em 88% as emissões urbanas de gases de efeito estufa até 2050 e gerar retorno acumulado com um valor presente líquido de US$ 369,7 bilhões até 2050”.
“Como parte da infraestrutura urbana, as SbN podem reduzir vulnerabilidades, evitar perdas e gerar resiliência para comunidades historicamente desassistidas se protegerem de inundações, ondas de calor e outros impactos”, diz a WRI em outro relatório.
Em termos econômicos, estudos indicam que a infraestrutura baseada em SbN pode custar menos do que as chamadas infraestruturas cinzas, apoiadas pelas engenharias civil e mecânica, e gerar valor adicional de 28% com benefícios como captura de carbono, diminuição da poluição, incentivo ao turismo e oferta de espaços públicos verdes para a população.
Existem experiências com adoção das SbN em diferentes cidades brasileiras, como São Paulo, que tem um programa de jardins de chuva; Santos, com um projeto de recuperação de vegetação num dos principais morros da cidade, o Monte Serrat: ou Campinas, com um plano para criação de corredores ecológicos e parques lineares.
Seria possível citar outros exemplos também. Mas a verdade é que ainda estamos engatinhando nessa área. A fotografia do momento mostra várias boas iniciativas isoladas, mas não um retrato consolidado de aplicação das SbN nas políticas públicas das cidades. É preciso mudar esse quadro, tornando nossas cidades mais resilientes e com justiça climática. E as Soluções Baseadas na Natureza são aliadas poderosas nessa luta.