Carlos Nobre, cientista: “O governo é importante para definir as políticas, mas quem investe é o setor privado. Sem ele, não há bioeconomia” (Leandro Fonseca/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 10 de novembro de 2022 às 17h00.
Última atualização em 11 de novembro de 2022 às 08h04.
A maneira mais barata de retirar carbono da atmosfera é reflorestar, afirma o cientista Carlos Nobre, primeiro brasileiro a fazer parte da Royal Society, academia de ciências mais antiga do mundo, desde Dom Pedro II. É uma solução simples para um problema complexo. O mundo, que está reunido na COP27 para debater a crise climática, consequência do excesso de carbono na atmosfera, ganharia muito e gastaria pouco com a restauração das florestas.
Nobre, no entanto, não é adepto do pensamento simplista. Como cientista, um dos maiores que o Brasil já produziu, ele sabe que problemas complexos são multifacetados. Uma solução simples pode resolver uma parte do problema, dificilmente, o todo. Reflorestar em grande escala exige um olhar sistêmico e um plano abrangente para incentivar a manutenção da floresta em pé, o que passa, necessariamente, pela questão econômica. A boa notícia é que ele tem um plano.
A COP27, que este ano é realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, é o lugar ideal para disseminar esse tipo de ideia complexa. E Nobre está participando de uma série de palestras e painéis para divulgar o projeto A Amazônia que Queremos, sua utopia particular e comprovadamente alcançável, que utiliza ciência, educação, cultura e investimentos privados para criar um ecossistema sustentável de desenvolvimento da floresta.
O projeto de Nobre prevê a criação de dois arcos de restauração, um que se estende do Oceano Atlântico até a Bolívia, pegando o sul amazônica, área que, segundo ele, está próxima do “ponto de não retorno”, em que a destruição da floresta provoca mudanças irreversíveis; e outro na faixa que segue os Andes.
“Primeiramente, temos de zerar todo o desmatamento antes de 2030, que foi um compromisso assumido, inclusive pelo Brasil, na COP26, em Glasgow”, disse Nobre á EXAME. “Economicamente, faz todo sentido para combater as mudanças climáticas”.
Um segundo projeto prevê a criação de um instituto de tecnologia na Amazônia, o AMIT. A inspiração é o MIT, nos Estados Unidos. Nobre quer criar condições para integrar o conhecimento ancestral dos povos originários e o conhecimento científico.
Esses planos só são viáveis, segundo ele, com a participação do setor privado. “O governo é importante para definir as políticas, mas quem investe é o setor privado. Sem ele, não há bioeconomia”, afirma. Confira a entrevista completa no vídeo: