Apoio:
Parceiro institucional:
Sérgio Gordilho (à esq.), sócio da Agência África, e Celso Athayde, CEO da Favela Holding: engradados de cerveja no palco e interação com a plateia (Celso Athayde/Divulgação)
CEO da Favela Holding
Publicado em 20 de junho de 2023 às 07h14.
Última atualização em 20 de junho de 2023 às 07h14.
Estou aqui para compartilhar com vocês a importância deste dia histórico para mim. Como vocês sabem, estou na França participando do Festival Cannes Lions, um evento que premia os melhores produtores de publicidade. É incrível ver tantas pessoas no maior evento de publicidade e comunicação do mundo. Confesso que nunca sonhei em estar aqui, mas aqui estou eu, acordando cedo, pegando um Uber com meu filho, Marcus Vinícius, que está fazendo sua primeira viagem internacional comigo, e meu parceiro Marcus, que veio de Nova York. No caminho, encontramos Raphael Vandystadt, diretor da agência África. Debatemos um pouco sobre o que falaríamos, já que nossa palestra seria ao lado do meu amigo Sérgio Gordilho, um dos sócios da agência.
Ao chegar no local, fui recebido pela amiga Juliana, que nos levou até a cabine onde retiraríamos as credenciais. Tudo estava muito rico, organizado e intenso. O clima era de festa, e ficava claro que todos ali, seja como palestrantes ou concorrentes, tinham um motivo relevante para estar naquele lugar. O ambiente era mágico e poderoso, o que me fazia lembrar dos parceiros que compartilharam seu sonho de ganhar o Leão de Ouro. Foi nesse momento que comecei a entender muitos códigos que antes não havia percebido, devido ao meu antigo desinteresse nesse universo.
Hoje, porém, o mundo mudou, minha vida mudou e minhas percepções também mudaram, pois me tornei proprietário de três agências: Digital Favela, com meus parceiros Gui e Rodolfo; Favela Code, com Carmela e Fabrício; e Comunidade Door, com meu irmão e parceiro Léo Ribeiro. Poderia mencionar outras empresas de comunicação que temos, mas essas três agências são o motivo da minha ida a Cannes.
Com as credenciais em mãos, começamos a circular entre pessoas de todos os lugares, pessoas de diferentes partes do mundo e da França. Não encontrei muitos conhecidos e algumas pessoas até pediram autógrafos -- o mundo da publicidade é um mundo mágico.
Chegamos à área dos speakers, como são chamados os palestrantes em inglês. Tomei meu lugar ao lado de vários "desconhecidos famosos". Claro, desconhecidos apenas para mim! Encontrei meu parceiro Sérgio Gordilho, que teve a ideia de nos sentarmos em uma caixa de cerveja para fazer nossa palestra. Eu achei uma péssima ideia, pois estávamos em um festival tão imponente e deveríamos nos sentar nas cadeiras mais imponentes, à altura daquele lugar e daquela atmosfera. Mas ele insistiu que deveríamos fazer a palestra naquela caixa de cerveja.
Subimos ao palco sob aplausos, e ele me ofereceu uma caixa de cerveja. Naquele momento, ele não disse nada, então decidi dizer ao público, de forma improvisada, que estávamos tendo uma conversa informal antes da apresentação, que decidimos não fazer uma palestra, mas sim um papo de botequim, uma conversa descontraída. Assim, fiz a conexão entre as caixas de cerveja sem marca e aquele momento tão rico e importante para nossas carreiras na publicidade.
Sérgio começou a falar, explicar e compartilhar sobre sua carreira, sua vida e tudo que ele conhece sobre comunicação, sendo um dos maiores no país e no mundo, com uma das agências mais premiadas. Era bonito vê-lo tranquilo, equilibrado e com clareza. Era evidente sua experiência e o conhecimento do que estava dizendo. Ele mostrou um vídeo preparado especialmente para aquela ocasião, um vídeo lindo, que foi aplaudido por quase um minuto.
Em seguida, ele me chamou para entrar em cena, e comecei a falar sobre a favela, sobre o consumo na favela, deixando claro que meu foco não está tanto no consumo em si, mas na produção. Os moradores da favela são pessoas que consomem, pois produzem. Falei sobre o IBGE e todos os números relacionados a esse "país chamado Favela". Discorri sobre a quantidade de pessoas que vivem nesses territórios, os índices de felicidade dessas pessoas e sua potência. Eu poderia passar horas falando sobre a palestra, mas seria pouco. Abordei muitos tópicos importantes para nós, mas me neguei a falar sobre tragédias, tristeza, violência e, principalmente, os problemas que a favela enfrenta.
Isso não significa, de forma alguma, que estou escondendo os problemas. Pelo contrário, existem pessoas que falam sobre isso de forma muito mais competente do que eu, porque estudam essas questões mais a fundo. Prefiro falar sobre a potência das pessoas da favela, sobre sua capacidade de encontrar soluções para suas próprias vidas e para a vida ao seu redor. Parece que deu certo, e terminei a palestra junto com Sérgio Gordilho de pé, dizendo que favela não é carência. A plateia respondeu em alto e bom som: "favela é potência". Essa é a mensagem que deixo para o circo de Cannes, e agora eles sabem que um favelado passou por aqui.