Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões: “O empresário que não está olhando para a favela hoje, é como se estivesse dormindo no volante do caminhão” (Leandro Fonseca/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 1 de junho de 2022 às 08h00.
Última atualização em 1 de junho de 2022 às 09h14.
Mais de 14 milhões de pessoas moram em favelas no Brasil. Se fossem um estado, as favelas seriam o sétimo mais populoso, e o quinto de maior renda, com um PIB superior a 130 bilhões de reais. Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões, organização que promove o empreendedorismo na base da pirâmide, tem dificuldade para entender por que tantas empresas escolhem ignorar esse mercado. “O empresário que não está olhando para a favela hoje, é como se estivesse dormindo no volante do caminhão”, afirma Lyra.
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O IBGE classifica as favelas como “aglomerados subnormais”. É um termo ultrapassado. A favela, atualmente, é a maior expressão cultural do Brasil. Anitta, de Honório Gurgel, no Rio de Janeiro, é a artista mais bem-sucedida internacionalmente do país; Kondzilla, da Vila Santo Antônio, no Guarujá (SP), lidera a audiência no YouTube, com seus funks, e no Netflix, com sua série; Emicida, do Jardim Fontalis, em São Paulo, deu aula em Portugal; Celso Athayde, da Favela do Sapo, Rio de Janeiro, foi homenageado no Fórum Econômico Mundial como empreendedor do ano em impacto e inovação.
“São todos meus amigos”, diz Lyra. “A favela vem evoluindo seu papel, é importante ter líderes fortes”. O mercado entendeu que o mundo se encontra em uma encruzilhada ambiental e social, explica, por isso o surgimento do movimento ESG, que prega a inclusão de critérios socioambientais e de governança nas estratégias empresariais. Para as favelas, é uma janela de oportunidades.
Há um desafio de interface nessa ascensão das favelas, do lado das empresas. Há uma dificuldade intrínseca de conectar produtos e soluções ao universo desses territórios, que têm culturas, demandas e até um linguajar próprios. Lyra se refere a isso como a API das Favelas. “Nem todo mundo conhece essa API, por isso a dificuldade em colocar a favela no radar”, diz ele.
É a partir desse entendimento que a Gerando Falcões e a consultoria Accenture criaram o Favela Beta, programa que busca acelerar o desenvolvimento de modelos e soluções de negócios para resolver os problemas das favelas, como moradia, saneamento básico, saúde, renda etc.
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Por meio de uma plataforma, o Favela Beta conecta empresas à API das favelas. A ideia é promover a criação conjunta de soluções inovadoras e escaláveis. Investidores também estarão conectados. “A empresa ou o empreendedor traz a ideia para a plataforma. As de maior capacidade passam para a fase de teste e, depois, serão escaladas”, explica Vinicius Fontes, líder de inovação e ventures na Accenture.
Um dos primeiros projetos em desenvolvimento envolve a BRK Ambiental, empresa de saneamento e primeira apoiadora do Favela Beta. A empresa irá implementar um projeto piloto em Vergel do Lago, um dos bairros mais antigos de Maceió.
“Atuamos em 13 municípios da Região Metropolitana de Maceió e nosso papel é levar o saneamento para muito além do básico e promover impactos positivos na vida das pessoas”, afirma Teresa Vernaglia, CEO da BRK. “Com investimentos em inovação, acreditamos que é possível contribuir com a melhoria da qualidade de vida nessa comunidade, com mais saúde, emprego e renda.”
Lyra resume essa nova fase do capitalismo em uma frase. “A era da melhor empresa do mundo acabou. Agora, a busca é por ser a melhor empresa para o mundo”, define o empreendedor. É prudente a Faria Lima entender o recado.
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