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Mudanças climáticas: Para mais de 30% dos ouvidos, "mudanças climáticas" é sinônimo de previsão do tempo. (Prefeitura de Rio Negro/Reprodução)
Repórter de ESG
Publicado em 28 de novembro de 2023 às 06h00.
Com a aproximação do verão no hemisfério sul, as chuvas se tornam uma realidade cada vez mais presente. Pensando nisso, a pesquisa Natureza e Cidades: A relação dos brasileiros com a mudança climática – realizada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com a UNESCO no Brasil, a ANAMMA (Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente) e a Aliança Bioconexão Urbana – afirma que, para 76% dos entrevistados, as cidades não têm estruturas suficientes para lidar plenamente com alagamentos, grandes chuvas e tempestades.
A pesquisa também diz que 64% sentem medo quando há previsão de chuvas fortes na região. O estudo – que ouviu mais de 2 mil pessoas entre 18 e 64 anos de forma presencial e por telefone – será divulgado durante a COP28, em Dubai, no dia 02 de dezembro.
Além disso, sete em cada dez entrevistados consideram que os eventos climáticos estão se agravando – enquanto quase 70% dizem conhecer alguém que já foi afetado diretamente por eventos climáticos extremos. Para aqueles que já sofreram consequências diretas de eventos climáticos, estima-se que o prejuízo médio seja de mais de R$ 8 mil por pessoa.
Dentre os eventos climáticos que mais geraram impacto estão: chuvas fortes ou tempestades (45%), alagamentos e ventanias (21%) e ondas de calor (20%). Segundo a pesquisa, a região mais impactada é a região Sul, seguida de Sudeste e Norte.
“A pesquisa permite compreender melhor os impactos diretos das mudanças do clima na vida da população, o nível de entendimento das pessoas sobre o aumento dos fenômenos climáticos extremos e, também, refletir sobre possíveis caminhos para tornar nossas cidades mais resilientes com desenvolvimento de estratégias de comunicação e engajamento w políticas públicas mais eficientes em busca de soluções”, afirma Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.
Para mais de 60% dos entrevistados, os impactos climáticos são sentidos por todas as classes sociais da mesma maneira. No entanto, 39% disseram não concordar com essa afirmação. Também há um recorte importante sobre escolaridade: a pesquisa mostra que, para 35% dos entrevistados o termo “mudanças climáticas” é sinônimo de previsão do tempo. Ou seja, quanto menor o nível de escolaridade, menor a compreensão da influência dos seres humanos no aquecimento terrestre, afirmou Marlova Jovchelovitch Noleto, diretora e representante da UNESCO no Brasil.
“Mesmo conscientes de que os fenômenos extremos podem gerar problemas para todos, sabemos que esses impactos atingem as classes sociais e os diferentes países de formas distintas. Essa compreensão é importante para percebermos que não se trata de uma questão meramente ambiental, é também uma questão ética e política. Portanto, como sociedade, precisamos avançar no entendimento sobre a justiça climática”, diz Jovchelovitch Noleto.
Mas, para o reitor da ANAMMA (Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente), Marcelo Marcondes, é papel dos gestores das cidades estarem mais sensíveis ao cenário climático e na implementação de políticas públicas adequadas para lidar com essas novas realidades.
Quando perguntados sobre quais fatores estão relacionados com às mudanças do clima, os entrevistados destacaram: o aumento no preço dos alimentos (com média de 8,8 em uma escala de 0 a 10), o desmatamento e ondas de calor na cidade (médias 8,7) – seguido da extinção das espécies (com nota 8,5) e secas (8,4).
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 85% dos brasileiros vivem em zonas urbanas. Pensando nisso, nove em cada dez pessoas dizem que a sensação de calor é maior em regiões sem áreas verdes – para 86% dos entrevistados, as áreas com natureza estão diminuindo e 26% deles moram em regiões sem bosques ou parques por perto. O relatório diz que 98% dos entrevistados gostariam de ter mais natureza nas cidades, com ruas arborizadas, parques, corredores verdes ou outras soluções.
87% dos entrevistados afirmam que estão dispostos ou muito dispostos a mudar seus hábitos em prol do clima. Entre as mudanças mais citadas estão: reciclar e descartar o lixo corretamente (24%), plantar árvores (15%), evitar o uso de plástico (8%) e usar meios de transporte menos poluentes (8%). Mas 19% não sabem exatamente o que fazer.
“É importante aproveitar certa disposição da população para a mudança de hábitos para incentivar medidas para reduzir o aquecimento global, como o uso de transporte público e bicicletas, a economia de energia e o uso de energia renovável, o plantio de árvores, privilegiando produtos e serviços de empresas comprometidas com a redução dos impactos negativos na sociedade e no meio ambiente. Além disso, é importante incentivar o voto consciente em candidatos que compreendam a importância da conservação da natureza para o nosso futuro”, afirma Cecilia Polacow Herzog, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professora e pesquisadora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).