O Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, foi marcado pela divulgação de números alarmantes. O monitor climático da União Europeia, o Observatório Europeu do Clima Copernicus, informou nesta quarta-feira que maio de 2024 foi o mais quente já registrado para esse mês na história. Com isso, o planeta chegou ao 12º mês consecutivo com recordes de calor.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, indicou em seu novo relatório que há cerca de 80% de probabilidade de que a temperatura média anual do planeta supere "temporariamente' os níveis pré-industriais em 1,5 grau em pelo menos um dos próximos cinco anos, sendo assim o mais quente da história.
"Este é um aviso claro de que estamos nos aproximando dos objetivos estabelecidos no Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, que se referem a aumentos de temperatura no longo prazo ao longo de décadas, e não de um a cinco anos", informou a OMM.
A OMM relata uma probabilidade de 47% de que a temperatura média global durante todo o período de cinco anos, entre 2024-2028, seja 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. O número é superior na comparação com o valor de 32% apontado no relatório do ano passado para o período pré-industrial, entre 2023-2027.
“A batalha por 1,5 grau será vencida ou perdida na década de 2020, sob a vigilância dos líderes de hoje. Tudo depende das decisões que esses líderes tomarem, ou deixarem de tomar, especialmente nos próximos 18 meses”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Petroleiras
O secretário-geral também denunciou ainda aqueles “facilitadores” que ajudaram as empresas de combustíveis fósseis a adiar a ação climática. “Parem de aceitar novos clientes de combustíveis fósseis a partir de hoje e estabeleçam planos para abandonar os existentes”, clamou.
O representante da ONU sugeriu que todos os países tratem as empresas de combustíveis fósseis da mesma forma que muitos fizeram em relação a “produtos que prejudicam a saúde humana, como o tabaco”. Ele classificou essa indústria como "poderosos chefões do caos climático".
Em discurso, Guterres defendeu a criação de um imposto sobre os lucros das empresas de combustíveis fósseis para financiar a luta contra o aquecimento global, além de mencionar "taxas de solidariedade" não especificadas nos setores da aviação e transporte marítimo. O líder exigiu mais uma vez que os países ricos eliminem gradualmente o carvão até 2030, reduzam o consumo de petróleo e gás em 60% até 2035 e, como principais responsáveis pelas emissões de carbono, aumentem a ajuda climática aos países mais pobres e em maior risco.
“Não podemos aceitar um futuro onde os ricos estejam protegidos em bolhas climatizadas, enquanto o resto da humanidade seja castigado por condições meteorológicas letais em terras inabitáveis”, defendeu. Apesar do tom alarmista diante de dados tão difíceis, o secretário-geral disse que os humanos “também são a solução” e apelou novamente a uma ação global para limitar o aquecimento a 1,5 grau Celsius.
Por um fio
Guterres tratou com pragmatismo os dados atuais e citou que a meta de 1,5 grau Celsius, a mais ambiciosa do Acordo de Paris, está “por um fio”. O secretário-geral apelou à humanidade para tomar uma “rota de saída da estrada para o inferno climático”, colocando um alvo específico na indústria dos combustíveis fósseis.
Durante a apresentação, feita no Museu Americano de História Natural, em Nova York, Guterres aproveitou o ambiente para analisar a situação climática. “Das vastas forças que moldaram a vida na Terra ao longo de bilhões de anos, a humanidade é apenas um pequeno ponto no radar”, disse.