Riade, na Arábia Saudita (Abdullah Al-Eisa/Getty Images)
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Publicado em 28 de outubro de 2023 às 08h00.
Última atualização em 28 de outubro de 2023 às 12h41.
Por Camila Funaro Camargo*
O futuro do mundo será entendido quando todos forem ouvidos e tiverem voz. As nações têm oportunidades, ambições e preocupações distintas, mas há também questões que nos aproximam.
Daí a importância de participarmos da 7ª edição da Iniciativa de Investimento Futuro (FII, em inglês), em Riad, na Arábia Saudita, intitulada “A Nova Bússola”. É o momento em que parte importante das lideranças volta os olhos para as melhores práticas internacionais e tendências globais, com o objetivo de aliar crescimento econômico, sustentabilidade e inovação.
Organização global sem fins lucrativos que pretende propor soluções práticas para os desafios mundiais, o Instituto FII fez uma pesquisa completa com 50 mil pessoas de 23 países. O levantamento reuniu seis pontos em comum, que serviram como base para a curadoria dos painéis da edição da FII deste ano.
A pesquisa indicou que 65% das pessoas estão preocupadas, em primeiro lugar, com o custo de vida e o impacto na qualidade de vida; 55% dos entrevistados querem inclusão social; 53% alertam para as mudanças climáticas; e 49% destacam questões de governança. Uma boa parcela da população considera a saúde como prioridade máxima (44%), enquanto outros 34% enxergam a tecnologia como o caminho para a humanidade. As questões elencadas podem ser perfeitamente aplicadas à realidade brasileira, nossos anseios e frustrações.
Neste ano, o Brasil levou a maior comitiva desde 2016, com cerca de 60 grandes empresários. Essa foi uma clara demonstração da importância da conferência para investidores que buscam posicionar seus negócios no futuro. Afinal, a FII vai além do business ao lançar luz sobre as tendências globais que vão ditar os próximos anos. O recado é: quem não estiver alinhado, vai ficar para trás.
Entre as lideranças brasileiras presentes, estavam Eduardo Bartolomeo, CEO da Vale, Ana Cabral-Gardner, CEO da Sigma Lithium, e André Esteves, chairman do BTG Pactual. Eles se juntaram a nomes de projeção global como Jamie Dimon, do JP Morgan, David Solomon, do Goldman Sachs, e aos demais cinco mil empresários que compareceram aos três dias de evento.
O conceito de ESG está na pauta das organizações e ganha força no cenário mundial. No âmbito da sustentabilidade, o Brasil foi representado justamente pela Vale e pela Sigma Lithium, que trataram dos minerais, essenciais à transição energética e à produção de baterias para carros elétricos no Brasil.
O potencial das empresas brasileiras chamou a atenção dos sauditas, cujo plano de abertura econômica prevê quase US$ 4 trilhões em investimentos até o fim de 2030, sendo que há a meta ambiciosa de que US$ 1,07 trilhão trilhão cheguem ao Fundo de Investimento Público Saudita até 2025. Não por acaso, a Vale já captou deles um aporte de US$ 3,4 bilhões, dado seu potencial, reconhecido pelo mundo, de contribuição para a transição energética. A empresa brasileira já se mostrou alinhada às tendências apresentadas durante a FII, portanto, surgiu o interesse e a confiança para o investimento. O Brasil parece fazer parte da estratégia dos sauditas.
Nos orgulhamos de ter 80% da nossa matriz energética limpa e renovável graças às hidrelétricas. Estamos investindo nas energias eólica e solar, além de sermos pioneiros na produção de biocombustível, com a mistura do etanol à gasolina. Hoje, temos a matriz energética que os países industrializados querem ter em 2050. Caminhamos para ser a potência do futuro.
Falo de sustentabilidade no conceito amplo, que permeia todos os setores da economia. E, para isso, investimento é crucial. Para que as indústrias brasileiras deem o tão esperado salto em produtividade e competitividade, precisamos de capital para inovação e automação. Os negócios do futuro devem atender às demandas da sociedade e, ao mesmo tempo, se atentar ao meio ambiente: fazer mais com menos.
Ainda sobre ESG, é importante também mencionar as práticas sociais e de governança. Embora culturalmente a Arábia Saudita esteja atrasada em relação ao Brasil, já que somente em 2018 permitiu, por exemplo, que mulheres pudessem dirigir carros, um dado me saltou aos olhos: a participação das mulheres no mercado de trabalho saudita mais do que dobrou desde 2016 — de 17%, a taxa foi para 37% em 2023. No empreendedorismo, elas representam 17,7% de todos os empreendedores do reino.
O crescimento é resultado da iniciativa do país, a Vision 2030, em que um dos pilares incentiva a inclusão de mulheres. O discurso é promovido pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman e mostra como, mesmo com as profundas diferenças culturais, a Arábia Saudita tem buscado se atualizar com vistas a se alinhar às próprias tendências que tanto difunde.
Apesar da rica experiência que tive em Riad, o verdadeiro trabalho da Esfera começa agora, na volta para casa. É tempo de compartilhar as inovações apresentadas na FII com as lideranças empresariais e políticas do País, apontando para as incríveis oportunidades de investimento que nos aguardam.
O Brasil definitivamente está no radar do mundo, sobretudo em setores como mineração, energia e agronegócio. Em um planeta que caminha para uma economia verde, socialmente responsável e de carbono zero, temos cada vez mais espaço.
Em junho de 2024, haverá um encontro FII em São Paulo, momento ideal para o Brasil mostrar que é um território de oportunidades, com um amplo mercado de consumo, abundância de recursos naturais e, acima de tudo, com um projeto de desenvolvimento nacional baseado na neoindustrialização e na agricultura sustentável. Se bem administrado, o Brasil é imbatível, e a Esfera aposta nisso.
Não à toa, o nosso compromisso é o de continuar promovendo diálogos entre as autoridades nacionais, disseminando, a cada evento da Esfera, as novas oportunidades da ordem global, a fim de posicionar, junto aos Poderes, o País na vanguarda dos movimentos certos e verdadeiramente promissores.
*CEO da Esfera Brasil