Além das questões históricas e de segregação, Brasil não tem um fluxo migratório significativo para compensar bônus demográfico. (Rovena Rosa/Agência Brasil)
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Publicado em 11 de abril de 2024 às 06h00.
Por Luiz Cezar Fernandes* e Wagner Ferreira**
O crescimento econômico dos países está estreitamente ligado à oferta de produtos destinados a pessoas com menos de 30 anos, entretanto a população mundial está, em média, envelhecendo, com a maioria ultrapassando os 50 anos.
Infelizmente, o mercado em geral parece não estar concentrado nessa mudança demográfica e continua a focar na oferta de produtos voltados para o público mais jovem. Isso resulta em um descompasso entre oferta e demanda, o que, por sua vez, limita o potencial de crescimento do PIB, tanto no setor industrial quanto no comercial.
Atualmente, o mundo está voltado para questões que terão impactos significativos nas próximas décadas, enquanto o bônus populacional já acabou na maioria dos países há algum tempo.
Países como China e Europa enfrentam dificuldades consideráveis em aceitar imigrantes, sejam eles de ex-colônias ou de regiões que tiveram influência histórica, devido a atitudes que acabaram por gerar segregação.
Diante desse panorama complexo, é difícil visualizar soluções concretas para esses países. Alguns deles têm adotado políticas de incentivo à natalidade, como a França, que premia famílias que aumentam a natalidade, e a China, que gradualmente relaxou sua política de filho único: em 2015 autorizou dois filhos e, em 2021, três filhos.
Os Estados Unidos têm adiado o impacto do bônus demográfico por meio de uma imigração significativa, principalmente da América Latina, embora isso seja objeto de controvérsias.
No caso do Brasil, a situação é ainda mais desafiadora. Além das questões históricas e de segregação, o País não tem um fluxo migratório significativo para compensar o bônus demográfico já sendo superado.
Uma possível solução seria revisitar a faixa etária de entrada no mercado de trabalho, reduzindo-a para 14 anos e/ou estabelecendo medidas que promovam renda nas primeiras camadas etárias. Isso poderia ser combinado com um esforço para oferecer formação técnica diretamente nas empresas, envolvendo a juventude no mercado de trabalho desde cedo e reduzindo a parcela de jovens que não estudam nem trabalham.
Não é à toa que a proporção de jovens trabalhando no setor da construção civil diminuiu nos últimos 7 anos, como apontam dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Em muitos países, a indústria está predominantemente voltada para atender às demandas da faixa etária até 30 anos. É crucial que essas indústrias comecem a desenvolver produtos voltados para faixas etárias mais altas, a fim de impulsionar o crescimento econômico.
O avanço tecnológico, especialmente a inteligência artificial, promete aumentar drasticamente a produtividade, mas isso só será possível se os produtos se adequarem às necessidades do mercado.
O varejo também precisa se adaptar, com lojas mais acessíveis para pessoas de todas as idades, especialmente os idosos, que enfrentam dificuldades em ruas íngremes ou de difícil acesso.
No setor automotivo, os carros elétricos precisam oferecer maior autonomia e encontrar uma equação mais sustentável (da produção ao descarte) para lidar com o tráfego intenso das grandes cidades e para longas distâncias, o que pode ser crucial para o futuro da mobilidade urbana.
Enquanto o mundo enfrenta desafios como o aquecimento global, é essencial não perder de vista as questões demográficas, que podem ter um impacto igualmente significativo no crescimento econômico a longo prazo.
Em muitos países, as políticas de aposentadoria estão se tornando cada vez mais insustentáveis, com aumento da idade de aposentadoria e maiores taxas de contribuição, o que coloca pressão adicional sobre os déficits fiscais e limita a margem e manobra dos governos para lidar com esses desafios.
No Brasil, agregam-se outros desafios, como o hiato social entre riqueza e pobreza, que impõe uma realidade crítica diante de mais de metade da população sem saneamento básico, mais de duas milhões de pessoas sem banheiro nos seus lares e mais de 60% da população do Norte e Nordeste elegível à tarifa social de energia.
Portanto, a reflexão fundamental deste artigo é como o Brasil se amolda economicamente ao atual quadro populacional demográfico, com a caracterização do seu atual PIB e IDH, e formula políticas econômicas que promovam a prosperidade dos brasileiros.
Uma forma de ajudar a mitigar a situação é voltar o sistema previdenciário para os moldes existentes antes do governo Juscelino Kubitschek, em que cada profissão tinha o seu instituto com fundos próprios para criar reservas e financiar a aposentadoria dos seus contribuintes (IAPB, IAPTEC, IAPI, entre outros). E fazer o mesmo com o FGTS, que até 1990 era operado pelas empresas junto a um agente financeiro e, depois dessa data, passou a ser de responsabilidade única e exclusiva da Caixa Econômica Federal, que paga uma taxa de confisco de 4% ao ano com uma inflação (IPCA) que chegou em março de 1990 a 82,39% .
Uma mensagem final aos tomadores de decisão e que deverá nortear as políticas públicas: obsessão para aumentar a riqueza e geração de renda às pessoas.
*Luiz Cezar Fernandes é empresário, fundador do Banco Garantia e do Banco Pactual e, atualmente, desenvolve projetos na área de mercado de capitais, além de dedicar seu tempo a disseminar voluntariamente o seu conhecimento a jovens estudantes e empresários.
**Wagner Ferreira é pós-graduado em direito tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários, tem MBA em Gestão Empresarial pela FGV e em Liderança pela Fundação Dom Cabral. Há 17 anos, atua no setor elétrico nas partes legal, regulatória e institucional. É professor convidado em cursos voltados ao Direito de Energia, além de árbitro pela Câmara de Mediação e arbitragem da FGV. Integra o Conselho Fiscal do Fórum do Meio Ambiente e Sustentabilidade do Setor Elétrico, o comitê técnico da plataforma consumidor.gov do Ministério da Justiça e é diretor institucional e jurídico da Abradee.