(Thithawat_s/Getty Images)
Por João Paulo Coelho*
ESG é a sigla do momento no mundo corporativo. Originalmente em inglês (Environmental, Social e Governance), ela se refere a um conjunto de compromissos éticos que se esperam das empresas neste século, voltados a metas de sustentabilidade, ações de impacto social e boas-práticas de governança interna. Essa agenda é cada vez mais relevante, na medida em que, para além da pressão dos próprios consumidores, cada vez mais conscientes, as agências de avaliação de crédito e os grandes investidores globais também passaram a levar em conta critérios de ESG antes de apostar suas fichas em uma companhia.
Olhando assim, fica a impressão de que ESG é uma pauta restrita às grandes empresas. Afinal, só elas têm recurso e estrutura para manter programas culturais e ambientais, ou ainda para doar quantias relevantes a instituições do terceiro setor. Felizmente, empresas novas vêm mostrando que, com ações inovadoras, também podem abraçar essa agenda socioambiental.
É o caso da Gama, startup da área de educação que ajuda alunos de todo o país a desenvolverem suas próprias trilhas de aprendizagem. Em uma ação inédita, a empresa doou uma participação societária equivalente a cerca de 5% de suas ações para a ONG Gerando Falcões, do empreendedor social Edu Lyra.
Criada em 2020, a Gama é hoje uma das edtechs mais promissoras do país, com um valor de mercado estimado em cerca de R$ 30 milhões. Agora, a Gerando Falcões é dona de um pedaço desse negócio de sucesso, colhendo diretamente os benefícios do crescimento da empresa. Isso ajudará a ONG a continuar com seu trabalho social nas favelas brasileiras – a rede da Gerando Falcões conta hoje com cerca de 70 instituições espalhadas por mais de 700 comunidades ao longo do país.
Isso mostra como uma startup pode inovar, trazendo a agenda ESG para o núcleo do seu modelo de gestão. Nas palavras do fundador da Gama, Nilton Sagrillo, a empresa decidiu não simplesmente adotar práticas de ESG, mas “ser ESG na prática”.
O case demonstra também como a agenda ESG pode pautar o próprio modelo de negócios de uma empresa. O algoritmo da plataforma de ensino da Gama permite que os estudantes identifiquem suas principais lacunas de aprendizagem e construam uma trilha personalizada de superação de tais gaps. Com isso, jovens de qualquer região ou condição social podem se preparar melhor para concursos e vestibulares concorridos, mesmo sem acesso a um cursinho ou a materiais didáticos caros.
O valor da responsabilidade social está imbricado, portanto, na própria atividade fim da empresa – e é esse tipo de negócio disruptivo que tem atraído cada vez mais a atenção dos investidores. Na atual economia, a sustentabilidade financeira de um empreendimento precisa andar lado a lado com sua capacidade de impactar positivamente as comunidades do entorno.
A agenda ESG é de todos. A ideia de doar não bens ou serviços, mas uma parte do equity da própria companhia oferece um caminho promissor para que mais startups transformem o valor da responsabilidade socioambiental em prática de negócios.
*João Paulo Coelho, sócio e presidente do conselho da Gama.