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Dólar em queda: fatores e perspectivas para 2025

Recuos em 12 pregões consecutivos no início do ano representaram maior sequência de quedas desde o Plano Real

Projeções apontam o dólar entre R$ 6,20 e R$ 6,50 até o fim do ano (Stock/Getty Images)

Projeções apontam o dólar entre R$ 6,20 e R$ 6,50 até o fim do ano (Stock/Getty Images)

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Publicado em 12 de fevereiro de 2025 às 19h15.

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Com leve queda de 0,10% nesta quarta-feira, para um fechamento aos R$ 5,7622, o dólar já acumula uma baixa de 6,75% em 2025. A moeda estadunidense passou por recente sequência de 12 recuos entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, no que foi o maior movimento consecutivo de baixa desde o Plano Real. A desvalorização é reflexo de alguns fatores, entre eles, a postura negociadora do governo de Donald Trump na guerra comercial e o aumento dos juros no Brasil.

Enquanto o mercado previa um início de mandato mais turbulento nos Estados Unidos, as tarifas impostas foram usadas como ferramenta de negociação, reduzindo incertezas. Além disso, a alta da taxa Selic para 13,25% ampliou o diferencial de juros em relação ao Banco Central dos EUA, o Federal Reserve, que manteve sua taxa estável, favorecendo o real.

“Quando Trump assume, ele implementa, sim, uma política mais dura em relação ao que Joe Biden vinha fazendo, mas talvez mais leve ou menos áspera do que ele mesmo vinha defendendo na campanha eleitoral”, pontua o estrategista-macro do BTG Pactual, Álvaro Frasson, em entrevista à Esfera Brasil.

Outro ponto do cenário externo, segundo ele, é o desempenho das commodities. “Em 2024 foi bastante negativo, tanto para soja, minério de ferro e petróleo, mas agora, no início deste ano, a soja sobe 4,5%. É o principal item da pauta de exportação. O minério de ferro sobe 2,8%, e o petróleo um pouco mais de 3%. Os três principais itens da pauta de exportação estão apresentando uma apreciação importante do mercado internacional”, explica o economista.

Já o estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein, avalia que a cotação do dólar no Brasil dependerá também da evolução da economia chinesa. “Como a nossa pauta de exportações é muito concentrada em commodities, um desaquecimento mais forte da atividade da China acarretaria uma queda dos preços das commodities e uma consequente desvalorização do real. Já dados mais fortes produziriam o efeito oposto”, analisa. 

Dentre os fatores domésticos, pesam “o elevado diferencial de juros, o que beneficia o real; a política fiscal, que afeta o prêmio de risco e foi uma das principais responsáveis pelo péssimo desempenho da moeda brasileira em 2024; e a parte política – em particular, as chances de um candidato com ideias liberais vencer as eleições presidenciais, o que poderia gerar um forte rali dos ativos domésticos”, reforça Goldenstein.

Fim do ciclo de queda?

No curto prazo, a safra recorde de soja deve sustentar a valorização do real, mas analistas projetam uma reversão no segundo semestre. O impacto positivo das exportações deve se dissipar, e fatores como a meta fiscal brasileira e possíveis retaliações comerciais de Trump podem pressionar a moeda americana para cima. Projeções apontam o dólar entre R$ 6,20 e R$ 6,50 até o fim do ano.

“A política monetária está fazendo efeito, o ciclo econômico está desacelerando, consequentemente, isso é menos inflacionário para a economia. Agora, se o governo optar por medidas que mantenham o crescimento acelerado para evitar a desaceleração por motivos políticos, então pode-se ter uma reaceleração da inflação, um enfraquecimento da política monetária, e, então, a variável que vai corrigir isso pode ser o câmbio. Portanto, há chances do câmbio se depreciar, voltar para R$ 6,30 ou até mais do que isso. O que vai ditar essa chance é como o governo reagirá a uma potencial desaceleração econômica em curso”, afirma Álvaro Frasson, do BTG Pactual.

Já Sérgio Goldenstein lembra que há outros fatores a serem considerados. “Diante de tantas incertezas externas e internas, é muito temerário fazer qualquer previsão”, diz. “No entanto, arrisco dizer que o real deve apresentar alguma valorização no ano, em razão do carrego favorável e do elevado custo de se fazer hedge cambial, haja vista o elevado diferencial de juros; do arrefecimento da atividade, moderando as importações; das chances crescentes de um candidato da oposição vencer em 2026; e dos indícios de que a prática do governo Trump não é tão dura quanto a sua retórica”, pondera.

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