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Desemprego entre jovens precisa de atenção especial

Empresas podem ter papel mais ativo na educação e capacitação técnica dessa população

Jovens: levantamentos recentes mostram que, embora a taxa de desocupação entre pessoas com 18 a 24 anos acompanhe a tendência nacional de queda, ela ainda é o dobro do índice geral. (We Are/Getty Images)

Jovens: levantamentos recentes mostram que, embora a taxa de desocupação entre pessoas com 18 a 24 anos acompanhe a tendência nacional de queda, ela ainda é o dobro do índice geral. (We Are/Getty Images)

Por Fábio Sant’Anna*

O Brasil tem conseguido reduzir o desemprego em 2022. Segundo o IBGE, o percentual de brasileiros sem ocupação caiu para 9,3% no segundo trimestre, melhor índice registrado no período desde 2015. Levando em conta todo o primeiro semestre, a taxa de desemprego recuou quase dois pontos percentuais.

Trata-se, sem dúvida, de uma boa notícia, mas que pode camuflar problemas como o aumento no contingente de trabalhadores informais ou a diminuição da renda média da população. Gostaria de chamar a atenção aqui para um desses problemas: os índices ainda preocupantes de desemprego entre jovens.

Levantamentos recentes mostram que, embora a taxa de desocupação entre pessoas com 18 a 24 anos acompanhe a tendência nacional de queda, ela ainda é o dobro do índice geral. Ou seja, ela não vem caindo com velocidade suficiente. Os últimos dados consolidados, referentes à virada de 2021 para 2022, mostram um país com mais de 22% de desemprego jovem.

Fatores como a falta de experiência profissional ou a baixa escolaridade contribuem para acentuar esse problema. São, afinal, condições que se retroalimentam: sem dinheiro, é mais difícil prosseguir com os estudos, o que dificulta, por sua vez, a inserção no mercado.

Isso ajuda a explicar o crescimento da categoria dos chamados “nem-nem”, jovens que não estudam e não trabalham. Um levantamento do ano passado feito pela consultoria IDados apurou que o Brasil tinha cerca de 12 milhões de pessoas com até 29 anos nessa condição.

A pandemia também joga um papel importante aqui. Segundo um estudo da Trendsity, 85% dos jovens no Brasil e em toda a América Latina consideram que a Covid-19 afetou negativamente ou muito negativamente suas chances de conseguir um emprego. Mais de 30% deles adiaram ou interromperam os estudos. Houve ainda um declínio de 77% para 55% no nível de confiança desse público em suas próprias habilidades e talentos.

Como quebrar esse ciclo? Algumas pistas são dadas pelos próprios indivíduos afetados pelo problema. O mesmo estudo da Trendsity mostrou que a esmagadora maioria dos jovens brasileiros consideram que cursos de capacitação são essenciais para seu desenvolvimento profissional. Ao mesmo tempo, mais de 60% deles acreditam que os empregos voltados à população jovem oferecem poucos benefícios e chances de capacitação.

O que se nota, portanto, é que um dos caminhos para a redução do desemprego jovem passa pela tão falada agenda ESG (“ambiental, social e governança”, na sigla em inglês), especificamente pela adoção de uma postura mais ativa e socialmente engajada por parte das empresas quando o assunto é capacitação de jovens colaboradores.

Trata-se não apenas de oferecer oportunidades de trabalho, mas de permitir que os jovens se desenvolvam pessoal e profissionalmente no decorrer desse trabalho. Em outras palavras, de permitir seu crescimento para a empresa e também para o mercado como um todo.

Há muitas maneiras de promover esse avanço. Parcerias entre os governos e a iniciativa privada que privilegiem a preparação técnica dos jovens, especialmente no contexto do novo Ensino Médio, certamente são um caminho promissor.

Mas as instituições também podem atuar diretamente, com a oferta de bolsas de estudo, treinamento in loco e cursos de extensão, via plataformas de ensino e estruturas como as universidades corporativas. A tecnologia digital viabilizou ferramentas cada vez mais democráticas de aprendizagem, compatíveis com companhias de todos os tamanhos.

Ampliou-se também o alcance dessas ações. Com estratégias de ensino à distância, uma corporação pode impactar colaboradores em todo o país praticamente sem custos adicionais, ou mesmo abrir alguns cursos e eventos educativos para a comunidade externa.

Ações como essas são necessárias para que não desperdicemos o potencial da juventude brasileira. Quando se fala em promover o emprego jovem, é preciso entender que a criação de oportunidades para essa população deve ser parte de um compromisso social mais amplo, com o objetivo de impactar positivamente as comunidades como um todo.

O desenvolvimento do país depende desse compromisso, muito especialmente por parte das empresas que vêm conseguindo, com inovação e visão estratégica, criar oportunidades para o jovem brasileiro que busca seu espaço no mercado de trabalho.

*Fábio Sant’Anna é diretor de Gente, Diversidade e Inclusão da Arcos Dorados – empresa responsável pela operação dos restaurantes McDonald’s na América Latina e Caribe.

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