Historicamente, o BC explica que o comportamento das contas externas está diretamente ligado ao crescimento econômico (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
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Publicado em 8 de março de 2025 às 06h00.
Ao mesmo tempo em que o déficit das contas externas do Brasil quase dobrou, em janeiro deste ano, o investimento estrangeiro direto no País sofreu uma queda significativa. Informações divulgadas pelo Banco Central (BC) apontam que o saldo negativo nas transações correntes chegou a US$ 8,7 bilhões no primeiro mês de 2025, bem acima dos US$ 4,4 bilhões registrados no mesmo período de 2024.
O professor de finanças da FGV EAESP, Fabio Gallo, ressalta que a queda de investimentos comumente se deve a alguns fatores, e não somente a uma variável. “Dentre os principais fatores, têm-se a questão fiscal brasileira e o desacerto do governo no trato da questão no ambiente interno. Externamente, temos as falas e atitudes do governo de Donald Trump em relação à taxação de importações e à guerra Ucrânia-Rússia, que levou a muitas incertezas no ambiente econômico mundial. Essa situação faz com que os investidores evitem países como o nosso”, pondera.
O resultado representa o maior déficit para o mês de janeiro desde 2020, quando o rombo atingiu US$ 10,8 bilhões. As transações correntes incluem a balança comercial – que reflete o comércio de bens entre o Brasil e outros países –, os serviços adquiridos por brasileiros no exterior e as remessas de juros, lucros e dividendos ao exterior. A piora no saldo externo está associada principalmente ao desempenho da balança comercial, cujo superávit foi US$ 4,3 bilhões menor no período.
“A desaceleração da balança comercial, com redução de exportações e aumento das importações, foi central no aumento do déficit em transações correntes. O superávit comercial caiu de US$ 5,563 bilhões em janeiro de 2024 para US$ 1,223 bilhão no mesmo mês de 2025 – 78% de queda”, detalha Gallo em entrevista à Esfera Brasil.
Os investimentos estrangeiros diretos, que costumam ser uma fonte essencial de financiamento para o déficit externo, também apresentaram um desempenho inferior ao esperado. Em janeiro de 2025, os aportes estrangeiros na economia brasileira somaram US$ 6,5 bilhões, representando uma queda de 28,4% em relação aos US$ 9,1 bilhões registrados no mesmo mês de 2024. Isso significa que o volume de investimentos externos não foi suficiente para cobrir o rombo das contas externas.
No acumulado de 2024, os investimentos estrangeiros diretos totalizaram US$ 71,1 bilhões, enquanto a projeção do BC para 2025 é de US$ 70 bilhões. Já para o déficit em conta corrente, a estimativa oficial para este ano aponta um saldo negativo de US$ 58 bilhões, próximo dos US$ 60 bilhões registrados no ano passado.
“Esse déficit em transações correntes de US$ 58 bilhões para 2025 representa a 2,7% do PIB. Não é algo bom, mas é administrável. Nesse aspecto, é importante o País buscar atrair Investimento Direto no País [IDP] nos próximos anos para poder financiar déficits como o atual”, avalia o professor da FGV EAESP.
Historicamente, o BC explica que o comportamento das contas externas está diretamente ligado ao crescimento econômico. Quando a economia se expande, há maior demanda por bens importados e serviços, o que amplia o déficit externo. No entanto, em momentos de menor crescimento e menor atratividade para o capital estrangeiro, o financiamento desse déficit pode se tornar um desafio adicional para a economia brasileira.