Economia

Zona do Euro enfrenta ameaça de deflação

Ameaça de uma espiral deflacionária está mais presente do que nunca. O índice de preços de agosto já levou Banco Central Europeu (BCE) a atuar no início do mês


	Euro: alguns dos membros da zona do euro já estão sendo afetados
 (Daniel Roland/AFP)

Euro: alguns dos membros da zona do euro já estão sendo afetados (Daniel Roland/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2014 às 18h16.

A nova queda da inflação na zona do euro registrada em setembro gera temores de uma espiral deflacionária e reforça a pressão para que o Banco Central Europeu (BCE) atue.

Segundo a primeira estimativa da agência europeia de estatísticas Eurostat, divulgada nesta terça-feira, a inflação de setembro foi de 0,3%, o que representa o nível mais baixo desde outubro de 2009 e um décimo a menos do que em agosto. Há um ano a inflação foi de 1% na zona do euro, de acordo com a Eurostat.

A ameaça de uma espiral deflacionária está mais presente do que nunca. O índice de preços de agosto já levou o Banco Central Europeu (BCE) a atuar no início do mês.

Com esse índice historicamente baixo, o BCE reduziu sua principal taxa de juros para 0,05% e lançou um plano de compra de dívida privada para apoiar o mercado de crédito.

Na época, a medida foi saudada pela diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, no sentido de "enfrentar os perigos existentes em um período prolongado de baixa inflação".

A deflação -queda dos preços- é um fenômeno nocivo para o dinamismo da economia, porque prorroga as decisões de compra, com a expectativa de que os preços continuem baixando, e, com isso, desestimula os investimentos e o consumo, gerando um círculo vicioso de mais deflação.

A zona do euro, em seu conjunto, ainda não passa por essa situação. Mas alguns de seus membros já estão sendo afetados.

Na Bélgica, por exemplo, a inflação passou para o campo negativo em setembro, -0,12%, pela primeira vez desde novembro de 2009, no auge da crise financeira. Na Espanha, os preços caíram pelo terceiro mês consecutivo e marcaram -0,3% em um ano. Na Itália, a inflação caiu 0,1% em um ano, como no mês anterior, quando registrou essa situação inédita desde 1959.

A publicação dos dados da Eurostat não chega a ser uma surpresa, pois os analistas já haviam diagnosticado a desaceleração da inflação após a divulgação dos números da zona do euro.

"Este é um duro golpe naqueles que acreditavam que a inflação baixa era apenas um fenômeno temporário", estimou Jennifer McKeown, da Capital Economics.

Os dados apresentados nesta terça-feira deixam claro que a "deflação continua sendo uma ameaça séria", acrescenta McKeown.

O conselho de governadores do BCE - instituição que tem entre suas atribuições a de manter uma evolução de preços perto dos 2% - se reúne na quinta-feira.

O presidente do BCE, Mario Draghi, já adiantou, contudo, que na sua próxima reunião a instituição monetária se limitará a detalhar as novas injeções de liquidez no circuito monetário.

Mas os analistas esperam que Draghi recorra a "instrumentos não convencionais adicionais", como a compra massiva de dívida soberana, no final do ano e no início de 2015.

Esse dado, somado ao da confiança econômica que voltou a cair em setembro, e um crescimento estagnado no segundo trimestre, não ajudam no cenário da economia da zona do euro. Há ainda os dados de desemprego publicados nesta terça-feira pela Eurostat.

O desemprego se manteve estável em 11,5% em agosto na zona do euro, segundo a Eurostat. "A taxa de desemprego não é muito mais baixa do que o recorde de um ano atrás, em 12%", lembrou McKeown.

Para Howard Archer, da IHS Golbal Insight, a interpretação dos dados é contrastante. Por um lado a inflação baixa e a queda do desemprego é uma boa notícia para os consumidores, já que aumenta seu poder aquisitivo, mas, por outro lado, a inflação em queda é uma notícia ruim para o BCE, devido ao perigo de deflação.

Para Archer, o BCE será "reticente" na execução de um programa de compra de dívida, algo que pode fazer "apenas se a zona do euro voltar à recessão e se a inflação continuar baixa".

Acompanhe tudo sobre:BCECâmbioCrise econômicaEuroInflaçãoMoedasZona do Euro

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto