Economia

VW diz que plano do setor automotivo ;está morto; e dispensará 3,9 mil

A Volkswagen do Brasil está tentando reinventar a demissão. Diante da necessidade de cortar 16% de sua força de trabalho no Brasil e contornar os efeitos de uma das maiores crises já enfrentadas pelo setor automotivo brasileiro, a filial local importou da matriz, em Wolfsburg, na Alemanha, um plano de reestruturação voltado à recolocação de […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h25.

A Volkswagen do Brasil está tentando reinventar a demissão. Diante da necessidade de cortar 16% de sua força de trabalho no Brasil e contornar os efeitos de uma das maiores crises já enfrentadas pelo setor automotivo brasileiro, a filial local importou da matriz, em Wolfsburg, na Alemanha, um plano de reestruturação voltado à recolocação de funcionários e também à criação de novos negócios: o projeto Autovisão. A Volks investirá 300 milhões de reais para estruturar a versão brasileira do programa, que terá entre suas primeiras metas a tentativa de recolocar no mercado 3,9 mil empregados, do total de 24,8 mil distribuídos nas unidades de Nova Anchieta, Taubaté, São Carlos, São José dos Pinhais e Resende.

O cálculo do excedente já leva em conta a demanda de mão-de-obra para a produção do novo modelo 249, o Tupi - inclusive para a fabricação das unidades que serão exportadas partir de janeiro do próximo ano. Também considera as exportações do Polo Sedan a partir do próximo ano.

As cinco unidades da montadora no Brasil operam hoje com cerca de 64% de sua capacidade instalada _o mais baixo índice de aproveitamento entre as 45 unidades de produção instaladas em 19 países. A Volks também já reduziu a produção brasileira em quase 15% para se adequar à queda nas vendas no mercado interno, mas ainda precisa aliviar os pátios. O setor tem hoje 170 mil veículos nos estoques. Não temos espaços para todos os nossos funcionários , diz o inglês Paul Fleming, presidente da Volkswagen do Brasil.

O executivo descarta o fechamento de linhas de produção no país e garante que a empresa manterá suas operações em todos os segmentos onde atua. Tanto que a empresa já prepara para os próximos quatro anos a criação de uma nova família de carros _com carro de passeio, pick-up e um comercial leve. Apesar disso, Fleming não alimenta nenhuma esperança em relação a um possível plano emergencial do governo para aquecer o mercado automotivo doméstico. O plano emergencial está morto , diz Fleming. E mesmo se estivesse vivo, colocaria a produção nos patamares de três anos atrás, o que seria insuficiente para o setor.

A empresa divulgou o novo programa internamente em suas unidades, mas não notificou possíveis demissionários. Espera que haja adesões espontâneas (apesar de o mercado de trabalho no Brasil não oferecer muitas alternativas no momento, nem para empregados, nem para quem alimenta a vontade de abrir negócio próprio). A Volks só indicará nominalmente funcionários para a recolocação se não conseguir as adesões previstas. Os quase 4 000 funcionários que precisam ser desligados continuam a receber o salário no período de transição entre a atual e a futura função (dentro da montadora, nas novas instituições que serão criadas pela Volks ou em outras empresas).

Os excedentes estão principalmente nas unidades paulistas de Anchieta, em São Bernardo do Campo, e Taubaté, no Vale do Paraíba, onde a estabilidade no emprego está prevista em acordos firmados com os sindicatos até 2006 e 2004 respectivamente. Vamos respeitar todos os contratos , diz João Rached, vice-presidente de Recursos Humanos da Volks do Brasil.

Segundo o porta-voz da Presidência, André Singer, o governo teme uma onda de demissões, após o anúncio da Volkswagen. No caso específico da indústria automobilística, o governo estuda fórmulas para manter os empregos e preservar a produção das empresas do setor, afirmou o porta-voz. "Eu não tenho detalhes sobre as propostas que estão em estudo. Elas estão sendo discutidas pelos Ministérios do Desenvolvimento, da Fazenda e do Trabalho. O presidente me pediu que transmitisse esse posicionamento de que o governo está estudando fórmulas para manter a produção e os empregos no setor automobilístico", afirmou Singer.

Autovisão

O principal organismo do programa de reestruturação da Volks será a Autovisão, uma empresa limitada constituída por parceiros da iniciativa pública e privada. A Autovision AG, a verão alemã, foi instituída em 1997, com uma parceria meio a meio entre os setores público e a privado, principalmente para diversificar a dependência que a cidade tinha da VW, e não apenas para amenizar eventuais demissões ou ociosidade na indústria. Nos últimos seis anos, a empresa ajudou a mudar o perfil da região de Wolfsburg: o desemprego caiu de 18% para 7% da população economicamente ativa, 15 mil novas vagas foram abertas, a partir da criação e consolidação de 170 novas empresas.

Mas afinal, o que fará essa nova empresa no Brasil? A Autovisão terá a função de recebe e avaliar sugestões de novos negócios e orientar a implantação dos projetos considerados viáveis. A agência de serviços de pessoal (responsável por recolocações) é apenas uma das unidades de negócio de nova empresa. Isso é viável no Brasil? O projeto é inovador e é compreensível que venha a causar dúvidas , diz Rached. Acreditamos que nosso projeto é inovador e que vamos entrar para história.

A Volks do Brasil já tem uma lista de idéias potenciais que podem render futuros negócios dentro do Autovisão: a implantação de programas de entretenimento baseado no turismo regional, a criação de oficinas para conversão de veículos a gás, a criação do museu do automóvel são alguns exemplos. Na Alemanha, a primeira unidade a ser criada era voltada ao entretenimento.

A Volks ainda não consegue dimensionar a participação do setor público no projeto brasileiro, mas espera contar com apoio do governo e de parceiros da iniciativa privada, principalmente entre os fornecedores. Se não recebermos nenhum apoio, seguiremos sozinhos , diz João Rached.

A necessidade de demitir e a intenção de criar um novo programa de desenvolvimento de negócios foram apresentadas na sexta-feira ao presidente Luis Inácio Lula da Silbs, e os ministros Antônio Palocci (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento e Comércio Exterior). No final de semana, foi a vez de mostrar a idéia para as centrais sindicais e para Geraldo Alkmin, governador de São Paulo. A caravana de apresentações prossegue entre prefeitos das regiões onde a montadora tem fábricas. Há intenção de agendar reuniões com outros ministros, principalmente da área social.

O programa inclui ainda a criação do Instituto Gente e a implantação da mobilidade entre as fábricas: a transferência de funcionários entre as diferentes unidades (desde que o funcionário aceita as especificações do novo cargo e as diferenças salariais). O projeto Evolução, criado no ano passado como um espaço para a reflexão profissional e a busca de no as oportunidades para os funcionários, também faz parte do pacote por ter sido considerado um programa bem-sucedido. Entre janeiro e dezembro de 2002, 82% dos 219 participantes buscaram uma nova atividade dentro do Evolução: 35% buscaram um novo emprego, 36% optaram por uma atividade autônoma e 29% iniciaram um negócio próprio. De janeiro a julho desde ano, o índice de recolocações subiu para 90% de 99 participantes sendo que a maioria, 55%, preferiram abrir um negócio à voltar para o mercado formal de trabalho.

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