(Chris Ratcliffe/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 29 de dezembro de 2017 às 07h00.
Última atualização em 29 de dezembro de 2017 às 07h00.
São Paulo - O bitcoin e as criptomoedas, de forma geral, deram o que falar em 2017.
A valorização atingiu recordes (com algumas quedas retumbantes) e houve sinais tanto de institucionalização quanto de repressão.
Até que ponto isso afeta a economia real? O Centro para Macroeconomia (CFM), um instituto de pesquisas acadêmicas, foi consultar alguns dos principais economistas europeus.
A primeira pergunta foi se as criptomoedas são uma ameaça para a estabilidade do sistema financeiro ou poderiam vir a ser nos próximos dois anos.
Só 21% dos 48 economistas que responderam concordam parcial ou totalmente com a afirmação enquanto a grande maioria (73%) discorda.
"O bitcoin e as outras criptomoedas seguem sendo um brinquedo para um segmento muito limitado de investidores, descolado do sistema financeiro e da economia real", comenta Ethan Ilzetzki, da London School of Economics.
Robert Kollman, da Universidade Livre de Bruxelas, aponta que o valor de mercado destas moedas permanece modesto em comparação com o tamanho dos mercados financeiro "convencionais".
O banco japonês Nomura calcula que o valor de mercado de todas as criptomoedas chegue a quase meio trilhão de dólares, menos do que o do Facebook sozinho.
A opinião é compartilhada por Jerome Powell, que assumirá o comando do banco central americano a partir de fevereiro:
“Elas não importam hoje; simplesmente não são tão grandes assim. Não há volume suficiente para que importem”, disse ele em sua audiência de confirmação no Senado no final de novembro.
Já Etienne Wasmer, da Sciences Po de Paris, está preocupada "pois isto é a incerteza radical, não há nada parecido na história, até onde posso dizer."
A possibilidade de que o bitcoin e as criptomoedas comecem a afetar outros mercados está na lista dos "cisnes cinzas" (eventos improváveis mas de impacto) do Nomura para 2018.
Regulação
A segunda pergunta da pesquisa é se deveria haver um aumento no controle regulatório das criptomoedas.
61% dos economistas concordam, 31% discordam e 8% não concordam nem discordam.
Um dos argumentos mais citados a favor da regulação é que estas moedas, por permitirem anonimato, são desproporcionalmente usadas para transações ilegais.
"Uma linha das políticas atuais é no sentido de apertar a lavagem de dinheiro e a evasão fiscal através de paraísos fiscais. Então pareceria estranho deixar as criptomoedas contornarem estas restrições’, diz Nicholas Oulton, da LSE.
Há outros argumentos nos dois lados. Sylvester Eijffinger, da Universidade de Tilburg, defende mais regulação para que as moedas não corroam o monopólio dos bancos centrais na emissão de moedas.
Já Jon Hassler, da Universidade de Estocolmo, é contra regulação justamente para não dar a impressão de que estas moedas são investimento legítimos.