Bolívares: decisão foi motivada pelo atraso na chegada do novo valor monetário (Ueslei Marcelino/Reuters)
EFE
Publicado em 23 de dezembro de 2016 às 10h30.
Caracas - Dois dias após tirar a nota de 100 bolívares (equivalente a 15 centavos de dólar) de circulação na Venezuela, o governo de Nicolás Maduro decidiu revogar a medida depois de vários distúrbios registrados pela escassez de papel-moeda no país.
Para combater supostas máfias internacionais que retinham as notas para desestabilizar a economia venezuelana, Maduro tinha decidido que os bilhetes de 100 bolívares perderiam sua legalidade e valor no último dia 15, quando deviam entrar em vigência novas cédulas.
No entanto, a chegada do novo valor monetário foi atrasada por uma "sabotagem internacional", segundo o governo, e os cidadãos ficaram sem as notas de 100 e sem as novas de 500, mil, 2 mil, 5 mil, 10 mil e 20 mil bolívares, mais adaptadas à inflação que fechou 2015 em 180,9%.
Esta escassez de papel-moeda gerou manifestações em vários estados do país, principalmente em Bolívar (sul), onde 450 locais foram saqueados e 286 pessoas foram detidas, distúrbios que obrigaram o governo a prorrogar a validade das notas de 100 até o dia 2 de janeiro, devolvendo ao país uma relativa calma.
No momento, uma cédula 100 bolívares venezuelanos cobrem o preço de poucos produtos e serviços no país, mas é a de maior valor e, portanto, a mais utilizada em uma economia marcada pela crescente inflação, a especulação e o desabastecimento generalizado.
É cada vez mais difícil conseguir uma bala que custe 100 bolívares na Venezuela. Estas singelas guloseimas custam atualmente o equivalente ao que custavam 80 chocolates ou 60 litros de leite em 2008.
Com uma inflação que fechará este ano acima dos 500%, segundo previsões, a moeda venezuelana perde força e os cidadãos que desejam fazer compras se veem obrigados a usar os canais eletrônicos ou a carregar grandes quantidades de dinheiro físico.
Operações como pagar o estacionamento, comprar um maço de cigarros ou um cartão telefônico, que são pagos obrigatoriamente em dinheiro, elevam a procura por saques nos bancos, que registram longas filas há um mês pela escassez de papel-moeda.
Em novembro, a Associação Bancária da Venezuela (ABV) informou que as limitações para retirada de dinheiro se deviam a um "processo de introdução" cédulas de maior valor nas entidades bancárias do país.
Faltando 12 dias para o fim do ano, os venezuelanos seguem sem poder utilizar o novo papel monetário, apesar do Banco Central da Venezuela (BCV) reportar no último domingo a chegada ao país de 13,5 milhões de bilhetes de 500 bolívares.
Enquanto isso, itens com o preço controlado pelo governo, como o do bilhete de metrô, se mantêm próximo e abaixo dos 100 bolívares.
Estas são praticamente as únicas arestas da atividade comercial que a nota de maior valor pode cubrir na Venezuela de hoje.
Sob o severo controle de preços que mantém o governo, um quilo de arroz ou 100 gramas de café tostado e moído custam menos de 100 bolívares, mas estes produtos se escasseiam em todo o país, e a maioria da população só tem acesso a eles através de revendedores a preços dezenas de vezes maior.
Em 1º de janeiro de 2008 entrou em circulação o chamado "bolívar forte", mediante uma reconversão que suprimiu do valor das notas três zeros à direita (1 bolívar forte = 1000 bolívares), em medida promovida pelo governo do então presidente Hugo Chávez para dar reforço à moeda.
Nove anos mais tarde, tempo no qual o país acumulou 12 mil% de inflação segundo economistas, a população espera pelo novo papel monetário, cuja nota mais alta será 200 vezes superior a 100 bolívares (cerca de US$ 30 dólares na taxa oficial mais alta). EFE