A divisa perdeu 72,54% do valor apenas em 2021 (Mario Tama/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 1 de outubro de 2021 às 06h00.
Última atualização em 1 de outubro de 2021 às 15h02.
O bolívar, moeda venezuelana profundamente desvalorizada, passa nesta sexta-feira por uma nova reconversão para remover seis zeros. A divisa perdeu 72,54% do valor apenas em 2021.
A queda dos zeros à direita soma-se à redução em 14 zeros desde 2008, em três reconversões, diante da grave crise econômica do país. A Venezuela passa por uma profunda crise socioeconômica e política desde 2013, quando teve início um processo de queda dos preços do petróleo no mercado internacional.
O país é um dos maiores produtores da commodity no mundo, e o único da América Latina a integrar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), com a economia dependendo diretamente da exportação de petróleo.
Segundo o economista José Manuel Puente, com a nova remoção de zeros, a Venezuela se torna o país latino-americano que mais eliminou zeros de sua moeda. Ele acredita que o processo deve se repetir nos próximos meses, em decorrência do rápido processo de desvalorização.
A banalização do valor do bolívar levou a moeda a ser preterida em algumas regiões da Venezuela, como é o caso de Puerto Concha. A localidade, situada ao Noroeste do país e próxima à fronteira com a Colômbia, já usa mais pesos colombianos, moeda do país vizinho, que bolívares.
"Aqui o bolívar é história", conta o trabalhador agrícola Jonatan Morán, de 32 anos, que mora na região. "Eu nem conheço o novo bolívar que saiu, nem gostaria de saber".
A preferência pelo peso colombiano, como ocorre em Puerto Concha, se tornou comum em estados fronteiriços. A medida, segundo Puente, representa uma "válvula de escape" diante de uma economia com oito anos de recessão e quatro de hiperinflação.
Em Puerto Concha, por exemplo, entrou para a rotina trocar dólares por pesos, para facilitar as compras no varejo. A dolarização informal, por outro lado, limita o fluxo de cédulas de baixa denominação e complica operações.
"Neste momento, o peso é mais benéfico que o bolívar, porque o bolívar não nos dá o suficiente", conta a vendedora de loterias María Martínez, de 38 anos.
Hoje, o uso do bolívar praticamente se restringe às transações com cartão de débito, diante da grave escassez de cédulas, essenciais para atividades como pesca, pecuária e plantio de banana.