(Cris Faga/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 09h23.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 11h26.
As vendas no varejo brasileiro avançaram mais do que o esperado em junho e retornaram ao nível pré-pandemia de coronavírus, indicando que o pior pode ter ficado para trás, mas ainda assim as perdas recordes no segundo trimestre ressaltam o alto impacto das medidas de isolamento sobre a atividade econômica.
Em junho, as vendas apresentaram avanço de 8,0% na comparação com o mês anterior, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
É o segundo mês seguido de alta após o recorde de 14,4% de aumento nas vendas em maio, e ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 5,4%.
"Maio e junho foram meses de recuperação depois de fundo do poço em março e abril. O comércio volta ao patamar pré-pandemia...mas não são todos os setores", afirmou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, explicando que esse movimento foi puxado principalmente por material de construção, móveis e eletrodomésticos e supermercados.
“A volta ao nível pré-pandemia tem a ver com apoio do auxílio emergencial, oferta de crédito e também com o fato de adaptação de alguns setores a uma nova realidade para vendas na internet", completou.
Mas ainda assim, o segundo trimestre terminou com perdas de 7,8% sobre o primeiro, mínima recorde na série histórica ajustada, impactado pela queda de 17% em abril, pico do isolamento social. Isso soma-se ao recuo de 1,7% nos três primeiros meses do ano.
Na comparação com o mesmo mês de 2019, a alta de 0,5% surpreendeu ao contrariar a expectativa de queda de 3,45%, registrando a primeira taxa positiva após três meses de quedas nessa base de comparação.
Entretanto, na comparação anual o varejo fechou o segundo trimestre com queda histórica de 7,7%, e os seis primeiros meses do ano terminaram com queda de 3,1% na comparação com o mesmo período do ano passado, no resultado semestral mais fraco desde o segundo semestre de 2016 (-5,6%).
“O pior já passou, mas ainda estamos 4,8% abaixo do pico. Estamos longe do melhor”, completou Santos. “Maio e junho trouxe uma recuperação, mas é um nível de recuperação lenta como era antes da pandemia."
A atividade econômica brasileira vem dando sinais de recuperação nos últimos meses após o fechamento de lojas físicas e outros estabelecimentos por todo o país devido ao surto de coronavírus.
Entretanto, as incertezas provocadas pela pandemia em torno da economia e do trabalho e da capacidade de contenção do vírus ainda pairam sobre o país.
No mês de junho, todas as atividades pesquisadas tiveram alta das vendas na comparação mensal, com exceção apenas de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos, com recuo de 2,7% frente a maio.
Entre os resultados positivos, os destaques foram Livros, jornais, revistas e papelarias (+69,1%), Tecidos, vestuário e calçados (+53,2%) e Móveis e eletrodomésticos (+31%).
Já Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo tiveram alta de apenas 0,7%. Esse resultado, bem como o de artigos farmacêuticos, deve-se segundo o IBGE ao fato de essas atividades terem sido consideradas durante a pandemia e, portanto, não sofreram tanto impacto quanto as outras.
“O setor de hipermercados pesa muito no indicador. Nesse mês a participação dele foi de 50,8%. Essa variação grande e volátil das outras atividades foi contida por esse setor e segurou o índice em 8%”, explicou Santos.
No varejo ampliado, o volume de vendas cresceu 12,6% em junho sobre o mês anterior, com aumento de 35,2% dos Veículos e motos, partes e peças e de 16,6% de Material de Construção.
Entre as empresas consultadas na pesquisa, 12,9% relataram impacto em suas receitas em junho das medidas de isolamento social, em um recuo ante 18,1% em maio.