Dilma Rousseff: as idas e vindas do governo estão acentuando a volatilidade tanto do dólar quanto dos contratos de juros (Wilson Dias/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 11 de setembro de 2015 às 20h25.
Se a presidente Dilma está realmente disposta a agir para evitar que outras agências de rating sigam o exemplo da S&P, talvez seja melhor agir logo.
As idas e vindas do governo estão acentuando a volatilidade tanto do dólar quanto dos contratos de juros, o que amplifica o efeito negativo da turbulência financeira sobre a economia.
A volatilidade do real já vinha sendo a maior do mundo nos últimos meses e se agravou após o Brasil perder o grau de investimento. No pico registrado hoje, atingiu níveis de outubro de 2014, quando Dilma foi reeleita, frustrando investidores que torciam por uma alternância de poder.
Nesta quinta, após a notícia do rebaixamento, o dólar bateu em R$ 3,90 logo na abertura, depois recuou para R$ 3,79 na mínima e fechou a R$ 3,85.
No mercado de juros futuros, cujas taxas são referência para operações de crédito na economia, as oscilações também são agudas.
O contrato mais negociado, o DI de Janeiro de 2017, já chegou a cair 26 pontos hoje, mas já diminuiu a queda para 10 pontos. Essa é uma variação gigantesca para um único dia, mas ainda assim é pouco perto da alta de 38 pontos registrada ontem, com máxima de +55 pontos.
A queda dos juros futuros hoje é atribuída às reportagens nos jornais destacando a possibilidade de o governo anunciar cortes de gastos em resposta ao rebaixamento do rating.
O mercado ainda mostra algum ceticismo. Afinal, também havia esta expectativa para a entrevista de Joaquim Levy ontem, mas o ministro não anunciou nada de efetivo.
De qualquer forma, como as taxas já subiram muito ontem, o mercado resolveu colocar o pé no freio. Vai que, desta vez, as expectativas se confirmam e a presidente mostra que, finalmente, “a ficha caiu” sobre a necessidade de uma reação.
“Você pode voltar ao trabalho na segunda-feira e se deparar com notícias de que o governo resolveu fazer uma reforma administrativa”, diz Marcelo Schmitt, gestor de portfólio da Sul América Investimentos. A elevada volatilidade, contudo, é um sinal de que não há um otimismo consistente sobre a possibilidade de medidas concretas. “Não há visibilidade”, diz o gestor.
Em mais uma mostra de como a volatilidade pode afetar a economia real, ontem o Tesouro Nacional, pela 2ª vez em duas semanas, cancelou um leilão de papéis pré-fixados, as LTNs.
Se está difícil para o Tesouro, a situação tende a ser ainda mais difícil para as empresas, sobretudo depois que várias também foram rebaixadas pela S&P.
O mercado também recebeu bem a notícia de que Dilma poderia substituir Aloizio Mercadante na Casa Civil. O ministro é visto como opositor das propostas de maior austeridade de Levy e poderia ser trocado por um nome de peso, de fora do PT.
Como o governo ficou sem articulador político após Michel Temer deixar a função, a entrada de um novo nome forte no governo poderia melhorar as chances de aprovação de medidas fiscais no Congresso.
Para que a volatilidade no mercado esfrie e o dólar interrompa sua trajetória rumo aos R$ 4,00, ou talvez além, o governo precisa cessar o processo contínuo de perda de credibilidade com cortes de despesas que não são efetivados e medidas que são abatidas antes mesmo de chegar ao Congresso, como a CPMF.
As mudanças repentinas, com o ajuste ora mais focado em corte de gastos, ora em impostos, agravam as incertezas, diz Schmitt. “As notícias não estão durando um dia.”
No mais novo exemplo de notícia que não dura sequer um dia, a presidência soltou nota no início da tarde negando a saída de Mercadante.