Soja em uma plantação da fazenda Morro Azul, próximo de Tangará da Serra (Paulo Fridman/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2014 às 16h42.
São Paulo - Pelos dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgados nesta sexta-feira, os EUA deverão ficar atrás do Brasil na exportação de soja pela terceira temporada seguida, mas a colheita recorde norte-americana em curso faz com que a indústria nacional veja a previsão de liderança brasileira em 2014/15 com certa cautela.
Os EUA já estão colhendo uma safra recorde estimada em 106,87 milhões de toneladas de soja, e terão cerca de seis meses para escoar a sua grande produção praticamente sozinhos no mercado internacional a preços muito competitivos, enquanto o Brasil estará na entressafra, afirmou o secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove).
"Metade do ano os Estados Unidos vão ser francamente exportadores, com estoques enormes, com necessidade de exportar e armazéns cheios, pois a safra de milho também é recorde... A saída é colocar no porto para aliviar os armazéns no interior", disse Fábio Trigueirinho, da Abiove, em entrevista à Reuters.
Ele comentou os números publicados nesta sexta-feira pelo USDA, que mantiveram as exportações do Brasil em 2014/15 (setembro/outubro) em 46,7 milhões de toneladas, ante 46,27 milhões de toneladas da previsão para embarques dos EUA no mesmo período.
"Pode ser que os Estados Unidos tenham uma performance mais forte (do que a projetada), acho que os números vão mudar para frente", acrescentou Trigueirinho, salientando que o Brasil estará bem pouco ativo nas exportações até fevereiro, pelo menos, quando só aí começam a chegar os primeiros grãos da nova safra para exportação.
Apenas em março as vendas externas do Brasil ganham intensidade.
Segundo o secretário-geral da Abiove, "depois de fevereiro, a briga do Brasil com os EUA vai ser pau a pau", mas antes disso os norte-americanos terão aproveitado o período em que o Brasil sazonalmente fica fora do mercado.
Os EUA devem aproveitar a ausência do Brasil assim como os exportadores brasileiros tiraram vantagem nas últimas duas safras, quando a produção norte-americana não foi das melhores, e o Brasil liderou o comércio global.
"Nós aproveitamos as oportunidades quando eles não tinham soja, agora a oportunidade está lá do lado deles", afirmou.
Em termos de demanda, o representante da Abiove disse que não há nenhum problema.
"A demanda está normal, está crescendo, nos últimos anos tivemos um apetite muito grande da China (maior importador), não estamos em nível de saturação de mercado, está tudo normal...", frisou.
Tanto é assim que a associação projeta, somente para o ano calendário 2015, o embarque de 48 milhões de toneladas, alta de 3 milhões de toneladas ante o recorde de 2014, enquanto o USDA vê certa estabilidade nos embarques brasileiros no ano comercial 14/15 ante 2013/14.
Outro fator que leva a associação a adotar uma certa cautela quando o assunto é a liderança brasileira global na exportação de soja em 14/15 é o próprio desenvolvimento da safra nacional, que está apenas no início do plantio.
Já os EUA estão com números de safra 14/15 praticamente confirmados, podendo até ser elevados considerando as boas condições climáticas.
A safra brasileira está projetada em um recorde de 94 milhões de toneladas pelo USDA, ante 86,7 milhões na temporada passada.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou na quinta-feira sua primeira estimativa para a nova safra de soja do Brasil, entre 88,83 milhões e 92,41 milhões de toneladas.