Bandeiras do Mercosul: "a Europa está olhando para a América Latina como um continente que veio crescendo", diz o Uruguai (Norberto Duarte/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de junho de 2015 às 18h10.
Montevidéu - O vice-presidente do Uruguai, Raúl Sendic, afirmou nesta terça-feira em Montevidéu, sobre o acordo comercial negociado entre Mercosul e União Europeia, que alguns países europeus têm "dificuldades" na preparação das listas de diferentes produtos a intercambiar por ver no bloco sul-americano um "possível concorrente".
Sendic falou à imprensa da participação uruguaia na cúpula que a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE) realizaram em Bruxelas na semana passada e na qual o bloco europeu e o Mercosul se comprometeram a trocar suas primeiras ofertas de acesso a mercados para o último trimestre de 2015.
"O compromisso é apresentar uma lista o mais ampla possível e a Europa vai apresentar também uma abertura maior que a que se manejou até este momento de acordo com os compromissos que estabeleceram nas reuniões", comentou o vice-presidente no parlamento uruguaio.
Sendic acrescentou que a decisão "tanto de Brasil, Uruguai e Paraguai" como a expressada no plenário da reunião de chefes de Estado pela chanceler alemã, Angela Merkel, aponta para a vontade de avançar o mais rápido possível na formalização do acordo.
"Esta decisão permitiu que a Argentina se advenha a estabelecer um prazo para a troca das planilhas ofensivas e defensivas", disse Sendic em referência à lista de produtos a trocar.
Porém, assinalou que "não somente há dificuldades por parte da Argentina na preparação das listas, mas alguns países europeus também têm dificuldades por suas políticas protecionistas em alguns produtos fundamentalmente agrícolas, que veem no Mercosul um possível concorrente para muitas de suas produções".
"Temos uma posição otimista sobre o conteúdo dessas listas que vão nos permitir chegar com uma oferta mais variada ao mercado europeu", comentou Sendic, que estabeleceu em 4.000 os produtos que abrangerão as planilhas entre as duas regiões.
Para tentar destravar as bloqueadas e longas negociações entre UE e Mercosul, a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, se reuniu na semana passada em Bruxelas com os ministros de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, embora este último país ainda não participe das negociações com a UE.
A comissária lembrou nesse momento que o comércio entre os dois blocos chegou a US$ 116,895 bilhões no ano passado, mas ressaltou que "as importações europeias do Mercosul estão caindo".
Questionado se Brasil e Uruguai tentariam continuar na negociação com a UE se a Argentina não estivesse preparada para a troca de ofertas, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, garantiu: "Declaramos com uma só voz que os quatro países estarão presentes, a oferta é dos quatro em conjunto".
"A realidade é que foi decidido avançar em uníssono (...) Na realidade não era que a Argentina não estivesse de acordo em que em algum momento havia que apresentar as listas, mas estava pedindo mais tempo para poder prepará-las", acrescentou hoje o vice-presidente uruguaio.
Se dita troca de listas for bem-sucedida, Sendic opinou que se estará "em condições de avançar no próximo ano na formalização do acordo".
"A Europa está olhando para a América Latina como um continente que veio crescendo, reduzindo os índices de pobreza, reduzindo a grande lacuna social que em algum momento teve e que requer cooperações de outra natureza", concluiu Sendic, antecipando que a próxima cúpula entre a UE e a Celac será em "algum dos países" da América do Sul em 2017.