Notas de pesos cubanos e pesos conversíveis: processo de reconciliação das taxas de câmbio entre o CUC e o CUP já começou de forma experimental, aponta Vidal (AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2013 às 15h39.
Havana - Cuba fez uma grande aposta ao se lançar na mais ambiciosa de suas reformas, a unificação de duas moedas que circulam na ilha há 20 anos, com enormes benefícios potenciais, mas assumindo também perigosos riscos, avaliam analistas consultados pela AFP.
"É sem dúvida a maior das reformas, considerada durante muito tempo difícil 'demais' para a economia cubana", opinou Paul Webster, ex-embaixador da Grã-Bretanha em Havana e professor de Relações Internacionais na Universidade de Boston, Estados Unidos.
O presidente Raúl Castro "sabe que deve apelar a toda sua autoridade pessoal que lhe é conferida por ser um Castro, para reparar esta situação absurda" de ter duas moedas, o peso cubano (CUP), de uso doméstico e o peso conversível (CUC), que vale 24 CUP e é equivalente ao dólar norte-americano, para suas transações externas.
"A unificação monetária será uma reforma extraordinariamente audaz", destacou Richard Feinberg, professor da Universidade da Califórnia e analista da Brookings Institution dos Estados Unidos.
A criação de uma divisa única "melhoraria de forma considerável o clima dos negócios, enviando aos investidores um claro sinal de racionalidade nos preços e reforçaria a rentabilidade e daria um considerável estímulo às exportações", apontou Feinberg.
"Será igualmente um forte sinal para mostrar à comunidade internacional que Cuba acelera seu ritmo em busca de uma economia mais aberta ao mercado", informou o ex-conselheiro do presidente Bill Clinton (1993-2001).
Um longo caminho a percorrer
Contudo, o caminho é longo e difícil, reconhecem todos os especialistas consultados.
"A aplicação desta decisão será lenta e complicada, da mesma forma que todas as reformas introduzidas em Cuba", disse à AFP Michael Shifter, presidente do thinktank norte-americano Diálogo Interamericano, em Washington.
Ao anunciar na terça-feira o lançamento do processo de unificação monetária, o regime comunista cubano fixou um calendário preciso, mas "não haverá terapia de choque", enfatizou o comunicado oficial publicado, ao esclarecer que o Conselho de Ministros aprovou o lançamento do processo.
O nó cego a ser desatado está na contabilidade do Estado e suas empresas. Se o cubano comum deve lidar todos os dias para complementar suas escassas receitas em CUP, com uma taxa de 24 CUP por 1 CUC, as contas públicas aplicam uma taxa de 1-1.
Isso criou "uma distorção de toda a realidade econômica que falseia todas as decisões econômicas e todo o planejamento centralizado", disse à AFP o especialista cubano Pavel Vidal, atual professor da Universidade Javeriana de Cali, Colômbia.
De fato, o processo de reconciliação das taxas de câmbio entre o CUC e o CUP já começou de forma experimental, aponta Vidal.
Toda uma série de transações são realizadas a diversas taxas CUP/CUC, destaca Vidal: as vendas diretas de agricultores independentes aos hotéis e restaurantes são realizadas com base em uma taxa 10/1 ao invés de 24/1.
A indústria açucareira, aponta Vidal citando informações não oficiais, começou a realizar diversas transações a taxas diferentes da 1/1 estabelecida para as empresas estatais: 12/1 para suas exportações, 7/1 para suas importações e 4/1 para suas importações de combustíveis, entre outras.
As reformas, que deram uma maior autonomia a algumas empresas estatais, preveem igualmente que realizem toda sua contabilidade em CUP a taxas variáveis, comprando do Banco Central a uma taxa de 10/1.
"Nenhuma informação oficial está disponível a respeito", lembrou o economista cubano.
Para sair deste imbróglio monetário, o desafio é enorme para o regime cubano, inclusive politicamente.
Para Paul Webster Hare, "vamos ver se o sistema econômico estabelecido por Fidel Castro em suas grandes dimensões vai ser desmantelado por seu irmão Raúl antes de 2018", quando acaba, segundo anunciado, seu segundo e último mandato presidencial.