Economia

União Europeia se une à batalha mundial contra protecionismo de Trump

Os Estados Unidos impôs a partir desta sexta-feira tarifas de 25% sobre as importações de aço e de 10% às de alumínio à União Europeia, México e Canadá

A Coreia do Sul conseguiu negociar uma cota para o aço, enquanto Brasil, Argentina e Austrália acordaram limitações no volume que podem enviar para os EUA (Leah Millis/Reuters)

A Coreia do Sul conseguiu negociar uma cota para o aço, enquanto Brasil, Argentina e Austrália acordaram limitações no volume que podem enviar para os EUA (Leah Millis/Reuters)

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AFP

Publicado em 1 de junho de 2018 às 14h41.

A União Europeia (UE) apresentou uma queixa contra os Estados Unidos nesta sexta-feira (1º) na Organização Mundial do Comércio (OMC) por suas tarifas pesadas sobre o aço e o alumínio, um novo passo, após as medidas de México e Canadá contra o protecionismo americano.

"Se os atores no mundo não cumprem as regras, o sistema poderia colapsar. Por isso, estamos levando os Estados Unidos (...) antes à OMC", disse a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, anunciando outro processo contra a China por minar a propriedade intelectual das empresas europeias.

O presidente americano, Donald Trump, decidiu nesta quinta-feira não prolongar a isenção temporária dada em março à UE, ao México e ao Canadá - aos quais impôs, a partir desta sexta-feira, tarifas de 25% sobre as importações de aço e de 10% às de alumínio.

E a UE, que vinha se preparando para a batalha, decidiu partir para a ofensiva nesta sexta, levando o caso à OMC, enquanto suas represálias contra produtos emblemáticos americanos, como o uísque bourbon, poderiam entrar em vigor em 20 de junho.

O Canadá foi um dos primeiros a replicar a ofensiva dos Estados Unidos contra seus principais aliados comerciais em nome de sua "segurança nacional" e anunciou tarifas de 12,8 bilhões de dólares a produtos americanos.

Já o México, em meio à renegociação do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês) com Washington e Ottawa, prometeu "medidas equivalentes" contra produtos americanos, que "estão em vigor enquanto o governo americano não eliminar as tarifas impostas".

Outros países conseguiram chegar a um acordo para evitar as barreiras. A Coreia do Sul negociou uma cota para o aço, enquanto Brasil, Argentina e Austrália acordaram "limitações no volume que podem enviar para os Estados Unidos", de acordo com o secretário de Comércio americano, Wilbur Ross.

Decisão 'ilegal'

O aumento das tarifas sobre aço e alumínio, uma decisão considerada ilegal pelos europeus, como disse o presidente francês, Emmanuel Macron, a seu equivalente americano em uma ligação citada pelo Palácio do Eliseu, parece um novo insulto de Washington à UE.

As relações entre os aliados transatlânticos ficaram mais tensas nos quase 500 dias do mandato de Trump, diante de suas decisões de se retirar do acordo nuclear com o Irã, transferir a embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém e sair do Acordo do Clima de Paris, bem como suas críticas a organizações como Otan, ou OMC.

O instituto de análise Oxford Economics alertou, no entanto, que "o perigo real para a UE é a ausência de uma resposta estratégica ao programa "America First" (Estados Unidos primeiro) de Trump, especialmente quando o aço e o alumínio representam apenas 0,1% de suas exportações para os americanos.

A UE vem repetindo que sua resposta seria proporcional e dentro das regras da OMC.

"Defendemos um sistema multilateral para um comércio global baseado em regras", disse Malmström, para quem "os Estados Unidos jogam um jogo perigoso".

A ofensiva americana põe à prova a capacidade dos 28 países de se unirem em uma só voz e, sobretudo, do motor franco-alemão do bloco: a primeira e a segunda economias da zona do euro defenderam estratégias diferentes nas últimas semanas.

Temores sobre rodas

Diante de uma França mais partidária da linha-dura, a Alemanha, uma potência exportadora e com importante indústria automotiva, defendeu nas últimas semanas evitar a escalada, por meio de um acordo com Washington, uma proposta que Trump respondeu com novas ameaças de tarifas aos veículos.

Os Estados Unidos declarariam realmente uma guerra comercial se confirmarem sua ameaça de taxas às importações de veículos, alcançando "o coração do reator dos intercâmbios internacionais", considera Sébastien Jean, especialista em economia mundial do CEPII.

"Faz temer que este seja o começo de uma evolução negativa das medidas e contramedidas, ao fim da qual não há vencedores", alertou a fabricante alemã Volkswagen.

O impacto econômico das tarifas americanas sobre o aço e o alumínio é relativamente limitado, mas o maior risco é uma escalada, com represálias e contra represálias, que poderiam afetar gravemente a ordem comercial mundial.

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