UE X EUA: "A decisão unilateral e injustificada dos Estados Unidos de impor tarifas ao aço e ao alumínio da UE não nos deixa outra opção", disse comissária de comércio do bloco (Georges Gobet/AFP)
AFP
Publicado em 21 de junho de 2018 às 21h11.
A União Europeia (UE) aumentou nesta quinta-feira (21) suas tarifas sobre produtos americanos, como o uísque bourbon, os jeans e o tabaco, em resposta à disputa comercial aberta pelo presidente americano, Donald Trump, contra seus parceiros comerciais, entre eles México, Canadá e China.
"A decisão unilateral e injustificada dos Estados Unidos de impor tarifas ao aço e ao alumínio da UE não nos deixa outra opção", argumentou a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, na quarta-feira, depois que Bruxelas deu seu aval para a aplicação das tarifas.
Donald Trump decidiu não prolongar a isenção temporária outorgada em março a UE, México e Canadá, e impôs a esses países, no dia 1 de junho, tarifas de 25% às exportações de aço a seu país e de 10% às de alumínio, como já havia feito anteriormente com a China por motivos de "segurança nacional".
A imposição de tarifas de 25% em média a uma lista de produtos americanos, publicada na véspera pelo Diário Oficial da UE, segue os passos do México, que adotou medidas de represálias no começo de junho, e se antecipa ao Canadá, que planeja fazer o mesmo em julho.
Nesse contexto, crescem os temores de uma guerra comercial mundial, em plena tensão entre Estados Unidos e China, que já fez as bolsas europeias fecharem em baixa nesta quinta-feira. Frankfurt caiu 1,44%, afetada também pela cúpula da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
As medidas "de reequilíbrio" da UE, comunicadas em meados de março à Organização Mundial de Comércio (OMC), entram finalmente em vigor e miram em alguns casos para estados americanos, essencialmente agrícolas, que votaram em Donald Trump em 2016.
Além de alguns produtos de siderurgia, como determinados tipos de aço laminado, a UE aumenta suas tarifas alfandegárias sobre produtos agrícolas, como milho e arroz; roupas e calçados; veículos automotivos; e até mesmo maquiagens, charutos, cigarros e bebidas alcoólicas.
"Se escolhemos produtos como Harley-Davidson, manteiga de amendoim, (uísque) bourbon é porque existem alternativas no mercado [europeu]", explicou nesta quinta-feira o vice-presidente da Comissão, Jyrki Katainen, para quem esses produtos têm "um forte alcance simbólico".
Os europeus acompanham os mexicanos, que em 5 de junho impuseram tarifas por um valor de quase 3 bilhões de dólares sobre produtos de aço e alumínio americanos, e sobre carne de porco, maçãs, queijos, cranberries, uvas e uísque.
A UE, que estima que as tarifas de Trump sobre o aço e oalumínio europeus podem lhe trazer perdas de 6,4 bilhões de euros, também levou o caso à OMC e avalia impor medidas "de salva-guarda" para proteger seu mercado frente às exportações siderúrgicas de terceiros países.
O conflito comercial representa um novo revés para as tradicionais relações transatlânticas, já deterioradas pela decisão do presidente dos Estados Unidos de sair do Acordo de Paris sobre o clima e do acordo nuclear com o Irã, assim como por suas críticas no passado à Otan e seus aliados.
Essa tensão poderá ser acentuada caso Trump aumente as tarifas sobre as exportações de veículos estrangeiros - como alemães ou japoneses -, uma ameaça que reiterou durante a última cúpula do G7 no Canadá, que terminou com Washington rejeitando a declaração conjunta.