Economia

Um trimestre positivo em meio à crise

Camila Almeida*  Após oito trimestres de recessão, a economia brasileira voltou a crescer. Nesta quinta-feira, o IBGE divulgou os resultados do PIB trimestral, e o avanço, seguindo a expectativa de analistas, foi de 1% em relação aos últimos três meses do ano passado. O governo federal está certo de que é o início do fim da recessão. […]

ECONOMIA: o PIB cresceu no primeiro trimestre, mas o desempenho até o final de 2017 ainda é uma incerteza  / Mario Tama/Getty Images

ECONOMIA: o PIB cresceu no primeiro trimestre, mas o desempenho até o final de 2017 ainda é uma incerteza / Mario Tama/Getty Images

DR

Da Redação

Publicado em 1 de junho de 2017 às 12h56.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h07.

Camila Almeida* 

Após oito trimestres de recessão, a economia brasileira voltou a crescer. Nesta quinta-feira, o IBGE divulgou os resultados do PIB trimestral, e o avanço, seguindo a expectativa de analistas, foi de 1% em relação aos últimos três meses do ano passado. O governo federal está certo de que é o início do fim da recessão. Será mesmo? Apesar de a economia estar passando relativamente bem pela crise política, analistas não se arriscam a dizer que o pior ficou definitivamente para trás.

Apesar de o ano ter começado relativamente bem, a economia ainda está mais fraca do que estava no ano passado. Na comparação com o 1º trimestre de 2016, o PIB caiu 0,4%. No acumulado dos quatro trimestres até o primeiro trimestre de 2017, o PIB teve queda de 2,3% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores.

O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, tem demonstrado confiança na reação, e vem minimizando os impactos da crise política na economia. Para ele, as reformas apresentadas pelo governo federal respaldam diretamente o bom resultado e seguirão seu curso no Congresso. “O que vejo é que as medidas continuam avançando. Então, não vejo isto afetando a meta fiscal ou as nossas projeções fiscais”, afirmou na quarta-feira durante o Fórum de Investimentos Brasil 2017, em São Paulo.

O resultado dá força para o discurso do presidente Michel Temer de que a economia brasileira está em um ponto de inflexão, e de que a mais longa e profunda recessão da história acabou. Mas a crise política que se instalou com a delação premiada de executivos da JBS traz novas turbulências e tem feito os economistas reverem suas projeções para os próximos trimestres.

A ameaça é ainda maior porque já não se previa um robusto avanço para este ano. O Banco Central projeta, para 2017, um avanço de 0,5%, mas o FMI prevê um crescimento de 0,2%, bem abaixo da alta de 1,1% que a América Latina deve apresentar. E essa projeção ainda não foi revisada após os escândalos.

O Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central esta semana, aponta que a alta PIB em 2017 não deve ser de 0,50%, mas de 0,49%, e, em 2017, deve ficar em 2,48%, não em 2,50%. Já a inflação passou de 3,92% para 3,95% em 2017, e de 4,34% para 4,40% em 2018 – ambas ainda abaixo da meta de 4,5%. O Indicador de Incerteza da Economia da FGV teve sua maior alta desde dezembro, passando de 118,8 pontos em abril para 128,1 pontos em maio. Nada a se desesperar, mas um motivo de crescente preocupação.

No ano passado, a recessão no PIB foi de 3,6%; depois de ter encolhido 3,8% em 2015 e de ter crescido apenas 0,5% em 2014. Em 2016, a economia brasileira produziu 6,3 trilhões de reais, o que fez o país voltar ao mesmo patamar de 2010. A recessão é a pior desde a década de 1930, quando o mundo foi afetado pela quebra da bolsa de Nova York.

De acordo com o FMI, há duas possibilidades de salvação para o Brasil este ano: a liberação do saldo inativo do FGTS e a safra de soja. E essa sim já começa a dar resultados. O agronegócio foi o maior responsável pela alta registrada no PIB, com crescimento de 13,4% em relação ao trimestre anterior e de 15,2% em relação ao mesmo período de 2016.

Outro setor que mostrou resultado positivo na comparação com o mesmo período do ano passado foi a extração mineral, com alta de 9,7%. As exportações também foram bem e subiram 1,9% na comparação com o ano anterior, enquanto as importações subiram 9,8%, efeito de uma valorização cambial de cerca de 20% no período e também da recuperação econômica.

A indústria, por sua vez, teve alta tímida de 0,9% em relação ao último trimestre, mas continua 1,1% abaixo do registrado no mesmo período de 2016 — assim como a construção civil, que teve retração de 6,3% em relação ao primeiro trimestre do ano passado, e a indústria de transformação, que caiu 1%.

Também não têm entrado recursos que possam ajudar na recuperação. A taxa de investimentos ficou em 15,6% do PIB, a pior da série histórica, iniciada em 1996. No primeiro trimestre de 2016, o investimento havia sido de 16,8%. Uma pesquisa da consultoria BTA com 700 empresários e publicada na edição de EXAME desta quinta-feira revela que 46% deles vai postergar projetos — e 90% deles consideram este ano pelo menos parcialmente perdido em termos de crescimento na economia.

Os parâmetros que medem a confiança da população também não mostraram reação. O consumo das famílias, por exemplo, uma das métricas mais importantes, teve queda de 0,1% no trimestre e de 1,9% em relação a 2016. Os brasileiros estão mais preocupados em poupar do que em gastar. A taxa de poupança foi de 15,7%, ante 13,9% no mesmo período de 2016 — e foi a mais alta registrada desde 2012.

No frigir dos ovos, o avanço é evidentemente uma boa notícia, mas não significa que os próximos trimestres serão de crescimento garantido. A recuperação continua muito frágil, e pode ser afetada por novos solavancos políticos. A boa notícia é que um caos econômico está fora do radar mesmo dos analistas e empresários mais pessimistas. A mesma pesquisa da consultoria BTA revela que apenas 3% dos empresários acredita que 2018 será um ano para esquecer. Neste cenário, o avanço do PIB trimestral, no mínimo, mostra que a fase mais negra da crise econômica ficou mesmo para trás.

*Com informações de João Pedro Caleiro, de Exame.Com

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Economia

BB Recebe R$ 2 Bi da Alemanha e Itália para Amazônia e reconstrução do RS

Arcabouço não estabiliza dívida e Brasil precisa ousar para melhorar fiscal, diz Ana Paula Vescovi

Benefícios tributários deveriam ser incluídos na discussão de corte de despesas, diz Felipe Salto

Um marciano perguntaria por que está se falando em crise, diz Joaquim Levy sobre quadro fiscal