(Cleia Viana/Agência Câmara)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 18 de novembro de 2024 às 18h50.
Última atualização em 18 de novembro de 2024 às 20h27.
O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy afirmou nesta segunda-feira, 18, que há certo exagero do mercado financeiro em relação à situação fiscal do Brasil, em meio às discussões do governo Lula sobre medidas de corte de gastos públicos.
“Quando olhamos o cenário, um marciano perguntaria por que está se falando em crise. Não quer dizer que não existe risco, mas os indicadores mais habituais não estão no vermelho”, disse Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Safra, durante live sobre os desafios da política fiscal para 2025, organizada pela Warren Investimentos.
Ex-ministro da Fazenda do governo de Dilma Rousseff, Levy destacou que, ao observar uma tabela com os indicadores econômicos, é possível afirmar que o cenário é mais positivo do que o esperado anos atrás. Ele citou o percentual do déficit e dos gastos em relação ao PIB. O economista acrescentou que não vê um cenário de recessão no país.
“Teremos um déficit de 2024 chegando a 0,5%, 0,6% do PIB. Esse déficit é melhor do que o esperado se olhássemos a previsão há alguns anos. O próprio gasto segue em 19,5% do PIB, algo que tínhamos em 2017”, destacou.
Apesar de criticar o exagero do mercado, Levy espera que o pacote de cortes de gastos traga viabilidade para o cumprimento do arcabouço fiscal, aprovado em 2023. Segundo ele, isso inclui mudanças na vinculação do orçamento da Saúde e Educação às receitas, cálculo do reajuste do salário mínimo e a disposição do Congresso em relação às emendas e outros atores, como o Judiciário e os militares.
“Há desafios para o ano que vem, mas não há indicação de que se perdeu o controle fiscal. O quadro não vai ser brilhante, mas haverá uma tentativa de déficit zero no próximo ano”, afirmou Levy.
O governo Lula está discutindo um pacote de medidas para atingir as metas fiscais e implementar o novo arcabouço fiscal. Nas últimas semanas, a equipe econômica, liderada pelos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, tem se reunido com o presidente e outros ministros para definir estratégias de controle de despesas.
A expectativa, como mostrou a EXAME, é que o pacote seja anunciado após a cúpula do G20. O governo deve enviar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com mudanças para melhorar o quadro fiscal do país.
A projeção de alguns agentes do mercado, como a Warren e o Santander, é de um pacote de R$ 70 bilhões, contemplando medidas para 2025 e 2026.
Em entrevista à emissora Times Brasil, Haddad afirmou que o pacote está pronto e será anunciado em breve. O ministro declarou ainda que aguarda uma resposta do Ministério da Defesa, que também pode ser impactado pelo pacote de medidas contra o crescimento de gastos.