David Cameron: o premiê britânico busca selar um acordo para assim poder organizar em alguns meses o prometido referendo (Simon Dawson/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2016 às 09h18.
Os líderes da União Europeia realizarão nesta quinta-feira uma cúpula crucial para a unidade do bloco, na qual tentarão superar suas divisões e alcançar um compromisso sobre os pedidos de reforma dos britânicos e evitar o chamado 'Brexit', a saída do Reino Unido.
O primeiro-ministro David Cameron, pressionado pela ala eurocética de seu partido e pelas formações antieuropeias, prometeu organizar um referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE, e pediu reformas a seus 27 sócios, que colocaram em evidência suas divisões.
Caso não se alcance um acordo, Cameron disse que tudo será possível, inclusive que seu país se transforme no primeiro a abandonar a UE.
O premiê britânico busca selar um acordo para assim poder organizar em alguns meses o prometido referendo.
Com esse objetivo, apresentou suas exigências em novembro e, no início de fevereiro, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, fez uma série de contrapropostas que foram negociadas entre os membros do bloco.
Entre as exigências, está a de obter salvaguardas para os países que não usam o euro e que as decisões dos 19 países que usam a moeda única não sejam tomadas em detrimento dos outros, assim como aumentar a competitividade e uma opção de se manter à margem de uma maior integração da UE.
Cameron também pediu que sejam limitadas as ajudas sociais aos estrangeiros na Grã-Bretanha, e esta é a exigência mais controvertida.
Mas na véspera, Cameron recebeu o apoio crucial da chanceler alemã, Angela Merkel, que considerou que várias exigências feitas por Londres são justificadas e compreensíveis.
"Não se trata apenas de interesses particulares dos britânicos sobre certas coisas, em algumas questões pelo contrário. Inúmeros pontos são justificados e compreensíveis", declarou ante o Bundestag.
A chanceler alemã disse que, assim como o primeiro-ministro britânico, acredita que é preciso que a UE melhore sua competitividade, a transparência e reduza a burocracia.
A chanceler inclusive admitiu que a polêmica reforma para reduzir os benefícios sociais aos migrantes de outros países da UE é justificável.
"É justificado e compreensível porque a jurisdição de cada sistema de segurança social respectivo não depende de Bruxelas, mas de cada estado independente", acrescentou.
Cameron quer implementar um prazo de quatro anos antes que os migrantes de outros países do bloco possam ter acesso a ajudas sociais e subsídios habitacionais.
Outros países europeus, particularmente os emissores de migrantes, consideram que esta prática é discriminatória e contrária ao princípio da livre circulação na UE.
Em relação à governança da zona euro e seus possíveis efeitos nos países que não utilizam o euro, a França insiste que Cameron não pode ter direito a veto sobre a Eurozona a favor da City de Londres.
Mas Paris tentou contemporizar
"A saída da Grã-Bretanha seria um golpe para a Europa, que viveria uma verdadeira crise", declarou o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, acrescentando esperar que se chegue a um consenso.
Donald Tusk, que presidirá o encontro, admitiu, por sua vez, que "ainda não há garantias" de que haverá um acordo.
"A União Europeia ainda não tem garantias de que os chefes de Estado e de Governo do bloco chegarão a um acordo na cúpula sobre as reivindicações da Grã-Bretanha para evitar sua saída da UE", afirmou.
"Temos diferenças sobre alguns pontos e estou consciente de que será difícil superá-los", escreveu Tusk em sua carta-convite, pedindo aos participantes que sejam "construtivos".
Durante o dia, os chefes de Estado e de Governo terão uma primeira sessão de trabalho sobre as reformas. À noite, afirmam os organizadores, haverá reuniões bilaterais para aparar as arestas e tentar limar diferenças.
Em outra sala, haverá um "batalhão de advogados" encarregados de traduzir as decisões em textos legais "vinculantes e irreversíveis".