Brexit: diplomatas expressaram o temor de que o governo britânico se sinta tentado a se retirar da UE sem pagar contas de dezenas de bilhões de euros (Neil Hall / Reuters)
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Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 10h16.
Bruxelas - Desde que a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, delineou seus objetivos para a separação da União Europeia na semana passada, o interesse dentro do país se voltou para os acordos comerciais que ela pode firmar um dia com os Estados Unidos e outras potências, além da própria UE.
Em Bruxelas e nas capitais europeias, isso se assemelha a colocar o carro na frente dos bois. "Eles estão falando sobre suas relações futuras", disse uma autoridade do bloco que se prepara para as conversas com Londres. "Mas antes precisamos nos divorciar. Isso não vai ser fácil. Francamente, vai ser muito, muito complicado".
Na linguagem diplomática, o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, disse nesta semana em uma coletiva de imprensa: "Primeiro é preciso acertar os termos para uma separação ordeira, e depois, com base nisso, construir uma relação futura nova e boa".
Como em outras separações, a briga mais feia será sobre dinheiro, e não há certeza de que qualquer entendimento possa ser aceito.
"Os pagamentos do Reino Unido ao orçamento da UE e a questão de a UE iniciar rapidamente as conversas sobre um acordo de livre comércio com o Reino Unido estarão conectados", disse uma segunda autoridade do bloco.
"Não pode haver debates sobre uma relação futura sem primeiro se regulamentar a questão de uma separação ordeira".
Os negociadores da UE reconhecem que Londres tem cartas ruins na mão - May precisa aceitar uma guilhotina de dois anos nas conversas, que espera terminarem com um acordo para manter o acesso "máximo" de seu país aos mercados do bloco, ao mesmo tempo em que o retira do mercado comum e das obrigações que acarreta.
Colocado de forma simples, se May quiser esboçar um acordo de livre comércio em apenas dois anos como diz - um objetivo que provoca rejeição em Bruxelas - os países do continente acreditam que podem fazê-la refém com a ameaça de tarifas comerciais a partir de 2019 a menos que ela acerte as dívidas britânicas.
Muitos dão um desconto a May considerando uma fanfarronice seu alerta de que prefere nenhum acordo a um acordo ruim, saindo sem um pacto de livre comércio e desafiando as nações continentais a suportarem um impacto em suas próprias exportações.
Mas alguns diplomatas expressaram o temor de que o governo britânico se sinta tentado a se retirar da UE sem pagar contas de dezenas de bilhões de euros.