Turquia: Erdogan garante que as incertezas econômicas serão resolvidas com reforma constitucional após as eleições (Uriel Sinai/Getty Images)
EFE
Publicado em 22 de junho de 2018 às 17h29.
Última atualização em 22 de junho de 2018 às 17h30.
Istambul - As eleições presidenciais e legislativas deste domingo na Turquia serão realizadas diante de uma possível crise econômica, cujos indícios são a forte desvalorização da moeda local a valores mínimos históricos e uma forte alta da inflação.
Os candidatos que querem tirar Recep Tayyip Erdogan da presidência criticam os grandes projetos urbanísticos e a lenta reação do governo perante o aumento da inflação.
Erdogan garante que todas as incertezas econômicas serão resolvidas com a reforma constitucional que será aplicada após as eleições - para conceder todo o Poder Executivo ao presidente - e que a lira turca voltará a ser uma moeda forte.
No entanto, a desvalorização da moeda, que caiu 20% em relação ao dólar em menos de seis meses, causou grande preocupação para a população, inclusive ao próprio presidente, que chegou a pedir há algumas semanas para que os turcos vendam os seus dólares.
A poucos dias das eleições, um dólar equivale a quase 4,70 liras, o dobro do valor de cinco anos atrás. Com um crescimento econômico de 7,4% no ano passado, muitos analistas na Turquia acreditam que a economia turca começa a dar sinais de "reaquecimento".
O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), governante desde 2002, impulsionou a economia graças a políticas de crédito fácil que estimularam o consumo a curto prazo, criou muitos postos de trabalho e melhoraram a qualidade de vida para grande parte dos cidadãos.
No entanto, o crescimento dependeu muito do consumo interno, com um elevado nível de importações, o que causou um notável déficit em conta corrente, que atualmente chega a 5% do Produto Interno Bruto (PIB).
"A alta taxa de crescimento faz com que as dificuldades reais que a economia turca enfrenta não acabem neste momento. Isto ocorre com muitas economias emergentes", explicou Ahmet Öncü, professor de economia na universidade de Sabanci.
"A outra realidade é que a Turquia está caminhando rumo a uma situação de estagflação, ou seja, um alto desemprego (10,6%) e uma alta inflação (12,2%). A atual situação de incerteza política faz com que a fragilidade econômica cresça diariamente", explicou o analista.
Como importa mais do que exporta, a Turquia precisa de investimentos estrangeiros, que encontrou nos últimos anos principalmente nos fundos provenientes dos países árabes do Golfo.
As empresas turcas acumulam uma grande dívida externa, equivalente a 40% da produção econômica do país, motivo pelo qual as dificuldades de pagamento afetam cada vez mais os bancos turcos.
O Banco Central da Turquia, que Erdogan enfrenta há anos devido à política monetária e de interesses, insiste na necessidade de aumentar as taxas de juros para frear a inflação, que chegou a 12,2% em maio, e reduzir o déficit em conta corrente. Em 7 de junho, o banco subiu a taxa de juros básica pela terceira vez desde maio, para 17,75%.
"Isto constitui um sério risco político para o governo. Taxas de juros altas também podem empurrar a economia para o estancamento", advertiu o analista.
Enquanto isso, a inflação também começa a ser sentida com força nos comércios varejistas do país eurasiáticos.
Arslan, que administra uma pequena mercearia no bairro de Kasimpasa, no lado europeu de Istambul, contou à Agência Efe que é complicado manter os preços as níveis aceitáveis para os clientes.
"Tentamos aumentar minimamente os preços dos produtos, mas é difícil mantê-los. Com a queda da lira turca, a gasolina também aumentou, e não queremos perder dinheiro", lamentou.
Outros comerciantes também se encontram submetidos a um vaivém de preços, segundo o câmbio diário da lira turca a respeito do dólar e do euro. É o caso de Serkan, que vende tapetes em uma loja situada em um dos bairros mais turísticos de Istambul.
"Quando os turistas veem que por um euro podem ter mais de cinco liras, ficam mais animadas para comprar. Nós ajustamos diariamente os preços segundo o valor da lira. É um cálculo mental constante", descreveu o vendedor.
Na opinião do analista político Ahmet Öncü, o AKP pagará nas eleições pelas dificuldades enfrentadas pelos comerciantes, que constituem a base da economia do país e que até então apoiavam Erdogan.
"As pequenas e médias empresas começam a notar o aumento dos preços. Isso pode afastar o apoio dos comerciantes ao AKP. Podemos esperar surpresas nas urnas neste domingo", analisou.