Turquia anunciou nesta segunda-feira uma série de medidas para conter a forte desvalorização de sua moeda (Murad Sezer/Reuters)
AFP
Publicado em 13 de agosto de 2018 às 11h29.
A Turquia anunciou nesta segunda-feira uma série de medidas para conter a forte desvalorização de sua moeda, em um momento de tensão com os Estados Unidos, país acusado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan de querer atacar Ancara "pelas costas".
O Banco Central da Turquia, com a esperança de tranquilizar os mercados, indicou que proporcionaria toda a liquidez necessária aos bancos e prometeu adotar "todas as medidas necessárias" para assegurar a estabilidade financeira.
Mas o impacto do anúncio foi perdido algumas horas depois, quando o presidente Erdogan acusou o governo dos Estados Unidos de querer "esfaquear pelas costas" a Turquia, provocando uma nova desvalorização da lira.
A lira turca, que perdeu mais de 40% de seu valor em 2018 na comparação com o dólar e o euro, desabou na sexta-feira, o que provocou uma onda de pânico nos mercados.
As Bolsas de Tóquio e Hong Kong fecharam em queda nesta segunda-feira. O mercado europeu permanece intranquilo.
Nas negociações eletrônicas no mercado asiático, a lira turca registrou um novo mínimo histórico, superando pela primeira vez a barreira de 7 liras por dólar, antes de reduzir as perdas imediatamente depois do anúncio do Banco Central.
Mas após o discurso de Erdogan, a cotação voltou a superar 7 liras para um dólar, uma desvalorização de 8% no dia.
O BC turco revisou os índices de reservas obrigatórias para os bancos, com o objetivo de evitar qualquer problema de liquidez, e informou que proporcionaria ao sistema financeiro quase 10 bilhões de liras, 6 bilhões de dólares e o equivalente a 3 bilhões em ouro de liquidez.
A desvalorização da lira acelerou nas últimas duas semanas em consequência da grave crise diplomática entre Ancara e Washington relacionada com a detenção na Turquia de um pastor americano, Andrew Brunson.
A tensão entre os dois aliados na Otan aumentou nos últimos dias, com declarações agressivas, sanções e ameaças de represálias. A situação chegou ao ápice com o aumento das tarifas americanas à importação de aço e alumínio turcos, o que arrastou a lira.
"De uma parte, vocês estão conosco na Otan e, de outra parte, tentam esfaquear seu aliado estratégico pelas costas. É aceitável algo assim?", questionou Erdogan durante um discurso em Ancara.
Além das tensões, os economistas observam com preocupação o controle de Erdogan sobre a economia, depois que reforçou seu poder após a reeleição de junho.
Analistas defendem que o Banco Central aumente as taxas de juros para defender a lira e controlar a inflação (que em julho alcançou a 16% em ritmo anual), mas o presidente é contra a medida.
Mas no comunicado desta segunda-feira o BC não menciona as taxas de juros.
"Com uma economia sobreaquecida e endividada, a Turquia vai precisar de políticas confiáveis e ortodoxas, disciplina orçamentária e independência do Banco Central para inverter a situação atual", afirmou à AFP Agathe Demarais, da Economist Intelligence Unit,que considera "pouco provável" uma normalização imediata das relações com Washington.
O ministério do Interior anunciou uma investigação de internautas suspeitos de compartilhar comentários de "provocação" para enfraquecer a lira.
O presidente Erdogan chamou estes internautas de "terroristas econômicos que receberão o castigo que merecem".
"As dinâmicas econômicas da Turquia são sólidas, fortes e estão bem ancoradas", insiste o chefe de Estado.
A crise monetária afetou várias moedas emergentes, como o rand sul-africano, o peso argentino, o real brasileiro e o rublo russo.